A ESCOLA HOJE
ROSALINA PINHEIRO
por ROSALINA PINHEIRO
Quando recebi o convite para escrever um artigo sobre Educação para o jornal Mais Guimarães senti necessidade de refletir sobre qual o assunto a escrever, pensei em vários:
Sobre as dificuldades experimentadas em dirigir um Agrupamento resultante da agregação de duas instituições de personalidade e culturas distintas, acrescendo a dificuldade física de estar presente nas várias escolas que o constituem, contrariando a minha ideia pessoal de Escola como um espaço de relação e de afetos com o outro…
Sobre os constrangimentos causados pelas sucessivas alterações legislativas que vão construindo, desconstruindo, confundindo, motivando e desprendendo todos os atores do projeto educativo de uma escola: alunos, professores assistentes, pais, comunidade envolvente, etc, etc. Todos os anos, independentemente do partido que estiver no governo, há alterações nos normativos que regem as matrículas, a avaliação dos alunos e a organização do ano letivo. Na maioria das vezes ficamos sem perceber qual o sentido e o que se pretende destas alterações, criando-se um desassossego permanente, que muitas vezes, distrai e impede-nos de refletir sobre o essencial: o aluno e as suas aprendizagens…
Sobre as dificuldades dos alunos com necessidades educativas especiais de caráter permanente ou temporário. Os preâmbulos dos despachos legais defendem políticas educativas que promovem a inclusão destes alunos na comunidade onde vivem através da consecução de um projeto educativo (que se deseja ser um instrumento preponderante para a construção do seu projeto de vida).
Mas teria que falar no articulado dos mesmos despachos que impedem a redução do número de alunos por turma no ensino secundário; da falta de coordenação entre os diferentes setores da sociedade constituindo uma barreira à existência e implementação de medidas de políticas e práticas de processos de transição destes jovens da escola para o emprego, fazendo com que os programas educativos individuais sejam essencialmente de orientação académica; da falta de formação específica dos diferentes intervenientes; da ineficácia das redes de apoio; da falta de uma linguagem comum (as escolas e as empresas usam linguagens diferentes, sendo ambos sistemas demasiado fechados) …
Mas decidi não desenvolver nenhum destes temas por parecer que nada de positivo há nas nossas Escolas, quando, na realidade, temos uma Escola empenhada que trabalha para educar e formar cidadãos e cidadãs! Da leitura dos censos de 1890, final do século XIX, cerca de 85,1 % da população do concelho de Guimarães era analfabeta; já no seculo XX, nos censos de 1950, ainda se observava 57,1% de analfabetismo, nos censos de 2001 passamos a observar 7,4%.
É, ainda, uma percentagem elevada de analfabetismo mas quando comparamos com os países nórdicos (em 1890, 71 a 74% da população destes países já era alfabetizada!) verificámos que houve um esforço gigantesco ao longo das últimas décadas para melhorar a qualificação das nossas gentes. Como exemplo desta afirmação estão as escolas que constituem o AE Francisco de Holanda, cuja história espelha a evolução francamente positiva do ensino em Guimarães. A escola básica de Santa Luzia teve os seus inícios no ano de 1772, a escola básica da Pegada em 1950, a EB2 2,3 Egas Moniz em 1991 e a escola secundária Francisco de Holanda em 1884, continuando em 2016, uma atuação sublinhada por valores intemporais como os valores do respeito mútuo e da tolerância, do diálogo como encontro de vontades constituindo um processo dialógico de criação, da liberdade e da igual consideração e do respeito por todos os que constituem a comunidade educativa, do universalismo da humanidade e da diversidade de pertenças – defesa da diferença, a dignidade da pessoa humana.
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