“DE PEQUENINO É QUE SE TORCE O PEPINO”
ALFREDO MAGALHÃES Docente do Ensino Superior
por ALFREDO MAGALHÃES
Docente do Ensino Superior
- Há uns tempos a esta parte, uma senhora que não é de Guimarães, mas que exerce cá, há alguns anos, funções relevantes numa instituição do Estado perguntou-me se eu sabia a razão pela qual a esmagadora maioria dos vimaranenses eram só adeptos do Vitória, não nutrindo a mínima simpatia por outro clube.
Esta pergunta, que carrega em si a enorme paixão de sermos vitorianos, não é de resposta fácil. Acredito até que não haja uma justificação plausível para tal facto. Todavia, eu arrisquei uma resposta que aparentemente terá convencido a senhora – disse-lhe que é já uma tradição de Guimarães os pais “transferirem” para os filhos, ainda muito pequenos, o “testemunho” da sua paixão pelo Vitória, ora levando-os consigo aos jogos, ora tornando-os sócios de tenra idade.
Esta minha resposta assentou na minha experiência pessoal que resultou na perfeição. Tenho dois filhos, uma rapariga e um rapaz, e dois netos, também uma rapariga e um rapaz. O meu filho foi comigo ver um jogo de futebol, pela primeira vez, ainda não tinha 3 anos e já era sócio. Hoje tem 34 anos, 32 como sócio, e é aquilo a que eu chamo um sofredor vitoriano/dependente, vai a todo o lado, faça chuva ou faça sol. O meu neto tem 13 anos, é sócio desde que nasceu e também é figura assídua no D. Afonso Henriques.
Não sei se dei a melhor resposta quando fui questionado pela senhora, mas foi aquela que, na altura, mais gostei de dar e hoje, passados alguns anos, não tenho dúvidas que é provavelmente a que melhor ilustra o verdadeiro sentido de se ser só e sempre vitoriano.
Recordo com saudade aquilo que já acontecia no virar da década de 50 para a de 60, tinha eu 5/6 anos de idade, o tempo do “Oh tio, leve-me consigo…” para podermos assistir aos jogos no Campo da Amorosa. O tempo que fez entranhar-se em mim esta “maluqueira” pelo Vitória e que tão bem é contada por Javier Marias no seu livro “Selvagens e Sentimentais, Histórias do Futebol”.
Para este espanhol de Madrid, o futebol é, no essencial, uma “recuperação semanal da nossa infância. Sempre que nos sentamos numa bancada somos “selvagens, no seu estado mais puro, e sentimentais” – transportados para sensações únicas e completamente desprovidas de racionalidade, só comparáveis às nossas atitudes enquanto meninos de tenra idade.
E é por tudo isto que não me canso de dizer, e que vem, também, sustentar a resposta que eu dei à senhora – não se descobre a paixão por um clube na vida adulta.
- O nosso Vitória voltou a não ganhar, este fim de semana, contra um Belenenses perfeitamente ao nosso alcance! Mais 2 pontos desperdiçados que nos poderão vir a fazer muita falta. As decisões assumidas neste Janeiro continuam a fazer mossa e o equilíbrio da equipa tarda em aparecer… É pena, mas a vida continua!
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