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(DES)INFORMAÇÃO

MARIA DO CÉU MARTINS Economista

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por MARIA DO CÉU MARTINS
Economista

Quando este domingo deflagrou um incêndio na zona antiga da Cidade de Guimarães fui surpreendida por inúmeros telefonemas que chegaram das zonas mais improváveis de Portugal e de gente com quem eu não falava há mais de um ano. Chegaram até de França. Estava a menos de 1000 metros do acontecimento e soube-o por telefonemas de preocupação que chegaram de distâncias superiores a 1000 quilómetros. Justamente na semana em que – por outras vias – a desgraça me bateu à porta, mas esta era só minha.

Ora, mas até para ser incêndio importante, digno de noticiário de horário nobre, é preciso ter sentido de oportunidade – tem que ser num domingo ( há poucas noticias…), ao fim do dia ( para sugerir espetáculo multimédia …) e fora da época dos incêndios

A parte mais preocupante desta nova realidade da comunicação é perceber que não há acontecimentos se não houver notícias sobre eles. Há inúmeras coisas relevantes que acontecem (onde se incluem genocídios)  que não passarão nunca de uma ténue memória particular e coisas irrelevantes e fúteis que repetem, durante meses a fio, as preocupações dos média, e por isso existem. E existirão ainda que tenham sido inventadas, sejam mentiras ou inverdades de ocasião. Existem, apenas, porque se fez notícia sobre elas.

E se os profissionais da comunicação têm esse incomensurável poder de serem eles próprios os fazedores de acontecimentos têm, também, a árdua tarefa de suplantar toda uma rede de comunicação virtual que se criou à sua volta que não se limita a “acrescentar um ponto” mas que vive de partilhas imponderadas, de fantasias e até da construção de falsas identidades. E se aos jornalistas se exige alguma formação, alguma preocupação deontológica, do cidadão comum já só se espera a ética que resultou de um modelo educativo perverso.

Assusta-me esta nova realidade – que se calhar até não é nova mas que cresce de forma exponencial – e que joga ao “faz de conta” com coisas sérias.

Quanto ao edifício que ardeu na “zona tampão” (esta é a parte das noticias de que eu mais gosto…) do centro histórico, importa dizer que está localizado fora da área relevante que motivou a candidatura a património da humanidade. Mas ainda assim, bem pertinho do convento das Domínicas – totalmente voltado ao abandono e onde é espectável que possa, realmente, acontecer uma desgraça digna de noticia. E no quarteirão que inclui várias ruas lindíssimas – a de Camões ou a D. João I – que completam de forma indubitável o conjunto arquitetónico do miolo antigo mas cuja politica de recuperação (ou de degradação) nos envergonham.

 

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