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HÁ ELEIÇÕES? SEJAMOS REALISTAS, QUEREMOS O IMPOSSÍVEL!

ESSER JORGE SILVA Sociólogo

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por ESSER JORGE SILVA
Sociólogo

 

1.

O preço do metro cúbico da água é variável na proporção do consumo. Lares mais consumidores têm faturas mais elevadas enquanto os lares onde o consumo é diminuto beneficiam de um preço menos oneroso na unidade de medida do consumo. É com esta simplicidade que se forma o que se entende ser uma consciência ambiental no poupar do líquido dito precioso. É também com esta simplicidade que se produz a mais falaciosa ideia de um preço, aliás, escondendo-se na fórmula e, nas suas consequências, o contrário do que à partida se diz pretender. A razão é simples e conhecida: um único morador vivendo num apartamento gastará forçosamente menos metros cúbicos de água do que um lar onde vivem cinco pessoas. E assim sendo, é a residência onde mais pessoas tomam banho que se torna penalizada, não porque a média de consumo individual seja maior mas porque o princípio está errado, penalizando as famílias que, por exemplo, têm mais crianças e logo, consomem mais metros cúbicos de água. Quer tal dizer que o preço do metro cúbico da água é, entre outros, inimigo da natalidade vimaranense. O custo progressivo do metro cúbico da água vimaranense deve ser tema de campanha política.

2.

Ter uma montanha como a Penha e voltar-lhe as costas políticas é um imperial desperdício económico. É ter economia dada pela natureza e deitá-la fora pela ilusão de punição religiosa pela política. É fazer de conta que a longa e insistente relação construída pelos vimaranenses no desbravar da montanha, habitando-a, é hoje um anacronismo. É não compreender a geografia dos sentidos diversificados engendrados pela cidade ao longo dos tempos. É não compreender que o dinheiro não tem religião e que a ideologia política é, também ela, uma religião. Nesse fausto desperdício inscreve-se o teleférico. O artefacto foi transformado não num meio de ligação entre dois pontos que sempre se quiseram ligar mas num fim. Num marcador de poder. Como hoje existe, o teleférico podia estar em qualquer lado. Por exemplo, ligar as extremidades da avenida Conde de Margaride. Seria um luxo. Um luxo sem qualquer proveito. A Penha e o teleférico merecem um manifesto de cada partido.

3.

Não tão lentamente como se possa imaginar os sentidos de habitação – e também de habituação – dos vimaranenses vai mudando. Num repente os preços das habitações do centro urbano passaram a ter uma inusitada procura. Não há dia em que as caixas de correio não apresentam dois ou três pedidos de contacto “se quiser vender”. A pressão da procura é tanta ao ponto de, várias vezes, alguns moradores serem confrontados com toques de campainha e abordagens à saída propondo compra das suas habitações. Parece haver uma explicação para o fenómeno: com a desfabrilização desapareceram as centenas de unidades produtivas espalhadas pelo concelho. Ao mesmo tempo desfaziam-se as famílias alargadas e envelheciam os antigos proprietários de confeções que, ao longo do tempo, insistiram em construir as moradias cuja garagem era a empresa. Essas “maisons” responsáveis pelo feísmo que grassa pela cidade ordinária estão hoje à venda com preços atrativos mas sem procura. Com cem anos de atraso, vive-se hoje, em pleno século XXI, o êxodo fabril. As razões são conhecidas: ficar próximo do hospital, das ofertas do centro e o reconhecer das vantagens da cidade. Todo este fluxo e as novas variáveis por ele introduzido são deveras interessantes e deviam merecer uma atenção dos políticos que se candidatam às próximas eleições. A começar pelo reconhecimento de que a política local não sabe – nunca soube – antecipar e controlar os fluxos de procura.

4.

A não ser que um fenómeno se intrometa, continuará a dar-se uma reprodução social que leva atrás de si um considerável atraso. Aliás, vinque-se aqui: toda a reprodução social beneficia as elites mas desqualifica estruturalmente, inclusive essas mesmas elites. E persiste na pobreza, ao jeito de filho de varredor será varredor. Daí muitas vezes a ilusão de riqueza quando é a pobreza que avança. É sabido: a pobreza ocorre por falhanço do Estado na forma como não consegue promover a transformação social que o mesmo diz querer produzir. Por muito que se diga que não cabe às autarquias agir sobre este fenómeno, a verdade é que só um agir próximo, planeado, orientado, participado, controlado; só um plano urdido para intromissão dos primeiros anos poderia promover resultados dentro de algumas décadas. Nessa altura teria havido uma mudança social ascendente com força para promover uma substituição de elites ociosas e pela introdução do princípio da conflitualidade, algo que, pelos vistos, é hoje muito mal visto no ensino mas que, sem dúvidas, introduz uma verdade difícil de suportar: à partida todos nascem desiguais (e não a lengalenga contrária, cujo enunciado de igualdade à partida nunca questiona o tamanho da conta bancária e da propriedade dos pais.) Aqui dava muito jeito uma coalizão entre partidos, espécie de contrato programa geral com vista à transformação social.

5.

É utópico? Pois é! Mas afinal para que serve a política?

 

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