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MARCADOS À NASCENÇA

MARIA DO CÉU MARTINS Economista

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por MARIA DO CÉU MARTINS
Economista

Nascer dentro do perímetro do Concelho significa estar marcado à nascença para se ser Vitoriano. E quando não se nasce fica-se.

Assim era e foi em todos os ambientes em que cresci. Mas agora, como na altura, tudo era envolto em muita emoção e igualmente carregado de doses infindáveis de irracionalidade.

Não sei quantificar as vezes em que o meu pai destruiu o cartão de sócio para, por vezes, o renovar na mesma semana. Mas certo me fica na lembrança os comentários assertivos que motivavam a destruição do cartão – apedrejamento de camionetas, vandalismo, violência ….! Tudo o que a sociedade reprovava durante a semana legitimava-se ao domingo.

Por isso, ou talvez não, sempre considerei que ser Vitoriano era uma atitude de pouca inteligência. Sorria com passividade sempre que se faziam discussões clubísticas e era incapaz de fazer um único comentário quando as segundas feiras de trabalho eram marcadas pelo erro do árbitro no jogo do dia anterior.

Reconheço que ainda hoje tenho dificuldade em compreender a tristeza profunda que se instala quando o Vitória perde o jogo. Mas a verdade é que se instala – e não descrimina as vitimas! Não importa a classe social, a profissão, a religião, a idade ou o sexo. Aliás não conheço nenhum processo mais democratizante do que estar unido na desgraça de “ o Vitórinha” ter perdido, ou estar em risco de descer de divisão. Em Guimarães pode-se ser ateu ou católico, comunista ou de extrema direita – mas não ser do Vitória é traição!   

Resistir dentro de envolvência tão forte não é tarefa fácil mas – acreditava eu- o tempo e o desenvolvimento haviam de curar tamanha obsessão! Admito, contudo, que perdi a aposta.

Um dos fenómenos sociais contemporâneos mais estonteantes, é perceber que uma qualquer adolescente vimaranense, eleja como prenda de aniversário ideal ter uma camisola do Vitória assinada pelos jogadores – mesmo perdendo ou jogando mal!

E no que aos adolescentes diz respeito de nada nos serve as inúmeras posições de resistência! O melhor mesmo é assinar um pacto de aliança com o “inimigo” – redescobrindo aquilo que de melhor se pode retirar da euforia coletiva.

Numa fase da vida em que as paixões importam mais do que nunca, ser sócio do vitória, exibir o símbolo ou ser atleta pode ser a motivação certa para se fazer o salto qualitativo que faltava – com menos digital e mais atividade física. E nisso, diga-se em abono da verdade, as escolas de formação das diferentes modalidades têm um papel determinante.

Sem demérito para os muitos clubes que pululam pelo Concelho, a verdade é que o Vitória tem uma gratificante oferta de escolas de formação que cumprem uma função exemplar – de futebol, de voleibol, de basquetebol, de polo aquático ….

São o parente pobre do clube, vivem com poucos recursos (adivinha-se), funcionam com profissionais mal pagos (é pena), dependem de muita carolice (mas existem).

Num contexto histórico em que se referenciam poucos valores e que proliferam infindáveis apelos virtuais (incontroláveis) é muitíssimo importante saber de onde vimos e para onde vamos – e nem sempre a família, nem a escola têm conseguido abarcar tamanho desafio. Ter um contributo extracurricular agregador pode fazer a diferença.

Tenho um amigo que vive, desde 1967, em Paris, não sendo vimaranense fez todo o secundário em Guimarães. Na sua fotografia do WhatsApp veste a camisola do vitória que usou nas escolas de formação.

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