O CASO DO ESPIÃO DO PARQUE DA CIDADE

ÂNGELA OLIVEIRA Advogada

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por ÂNGELA OLIVEIRA

Advogada

O dia estava de sol, quente…

Naquela tarde de domingo, centenas de pessoas tinham-se juntado no Parque da Cidade. Mais tarde, o clube de futebol do seu coração iria jogar contra um clube rival, era preciso ganhar, o seu Vitória não lhe falharia mas o amigo cachecol estava pronto no carro para garantir o apoio aos branquinhos.

Sentia-se animado. A festa da coligação Juntos por Guimarães era um sucesso, com centenas de pessoas que tinham vindo de todo o concelho para ouvir o André Coelho Lima. O candidato era bom, bem preparado, falava com garra das suas ideias: do cheque ensino, da comparticipação nos medicamentos dos idosos, do projecto para o centro da cidade, da interligação do concelho, do nó da autoestrada  Brito/Taipas, do pagamento das inscrições dos atletas em formação nas respectivas federações…sacando palmas e “ Guimarães para cima com André Coelho Lima”.

O discurso acalentava a vontade de ganhar, a necessidade de trabalho, a esperança.  Não era caso para menos, a sondagem publicada no jornal no início da semana transmitia um sinal, o do aumento significativo de apoio às propostas da Coligação. A vitória era possível, a distância prometia ser pequena…se a mensagem chegasse a toda a gente era impossível o apoio não aumentar.

“Guimarães para cima com André Coelho Lima”

Entre o zumbido das bandeiras azuis e brancas que cortavam o ar, reparou num homem, estava separado de todos, parado. Intrigado com a atitude estranha do homem, distraiu-se da festa que se passava à sua volta, o homem mudava de lugar várias vezes, acabando por parar perto de si. Viu que este segurava no telemóvel ao nível da cintura, apontado para as diversas pessoas que ali se encontravam.

De repente reconheceu a estranha personagem. Era o irmão do vereador.

– Sinistro– pensou – que fazia ali o irmão do n.º 2 da candidatura do PS à Câmara Municipal de Guimarães, numa festa comício da coligação Juntos Por Guimarães? Sim, o espaço era público, ao ar livre, de acesso a todos… mas que motivo plausível poderia justificar o facto de andar um homem de telemóvel ao nível da barriga a filmar ou a fotografar as pessoas envolvidas numa festa? Se fosse num casamento era estranho, se fosse à porta de uma escola era estranho… É obvio que é estranho – concluiu- quem não tem a esconder o que está a fazer, não tenta esconder o telemóvel…para que quer ele recolher imagens? – As dúvidas eram muitas, e as hipóteses de resposta mais ainda.

O entusiasmo da vitória do clube não lhe retiraram o incómodo de se sentir vigiado horas antes. Tinha nascido depois do 25 de Abril, mas tinha a sensação que seria assim que a PIDE funcionava, sem smartphones, marcando as pessoas, sondando as iniciativas do adversário…Aprendera a sentir-se livre na sua actividade política e a acreditar que cada um vota em quem quer, sem manobras da Guerra Fria ou resquícios pidescos.

Afinal, a Venezuela não estava tão longe…

 

 

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