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O FUTURO MATÉRIA-PRIMA

PAULO NOVAIS Professor de Inteligência Artificial

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por PAULO NOVAIS
Professor de Inteligência Artificial

A matéria-prima assume-se como a base essencial à fabricação de um produto. Por norma, um produto natural que tem que ser submetido a um processo (produtivo) para se transformar num produto final. Algo em bruto que passa por um processo industrial (mais ou menos elaborado) para se obter um produto acabado. As matérias-primas eram, até agora, tipicamente de origem animal, vegetal ou mineral.

Ao longo dos tempos diferentes matérias-primas tiveram a preponderância de serem a matéria-prima desse tempo. A pedra, o cobre, o bronze, o ferro, o carvão (entre outros) tiveram papéis relevantes na história da humanidade. O petróleo, durante o século XX, assumiu esse papel e para além da sua dimensão económica, era mesmo considerado como uma questão política de primeira importância. Depreende-se que a matéria-prima (seja ela qual for), para além da sua utilidade económica adquire uma importante utilidade politica. No final do século XX havia economistas que referiam mesmo que “O petróleo era 10% de economia e 90% de política”, o que sublinha esta dimensão associada ao poder e ao seu controlo.

A nossa sociedade vem sofrendo um processo gradual de transformação. Estamos a passar, em passo acelerado, para uma sociedade da informação e do conhecimento onde a introdução da Inteligência Artificial e das novas tecnologias da informação e da comunicação assumem um papel primordial. A informação e o conhecimento têm o papel maior na criação de riqueza, de bem-estar e na melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Dados, essa palavra mágica, assume então o papel central de matéria-prima! São um conjunto de valores ou ocorrências, em um estado bruto, com o qual são obtidas informações e/ou conhecimento. São a matéria-prima da informação e, naturalmente numa sociedade que assenta nela, a gestão e o controlo são essências.

Passamos os dias a disponibilizar os nossos dados (já agora, a palavra vem do latim datum “aquilo que se dá”) sem muitas vezes nos apercebermos disso. Todos diariamente colocamos posts ou tweets em redes sociais, comprarmos em sítios de comércio eletrónico, fazemos transações bancárias,… i.e., entregamos os nossos dados (entregamo-nos) aos fornecedores de serviços (muitas vezes estranhamente gratuitos!). Nem nos apercebemos que hoje mais do que fornecer serviços, o que querem é obter os nossos dados. Porque com esses dados nós deixamos de ter “segredos”, de ser desconhecidos, passamos a ser calculáveis, estimados e previsíveis, i.e., podem nos conhecer melhor que nós a nós próprios. Esta nova matéria-prima com a qual tudo é “possível” conhecer, e as grandes empresas, deste novo tempo, são as detentoras deste novo ”ouro” e nós somos os seus fornecedores.

Este novo conhecimento abre obviamente novas oportunidades e novos horizontes mas também coloca novas e sérias ameaças. O conhecimento está sempre limitado a quantidade e a qualidade das informações disponíveis e/ou utilizadas, mas algumas questões se colocam: quem o vai produzir e para que fins? quem o vai deter? como se vai disseminar? que uso vamos dar a esse conhecimento?…

Gostaria de viver numa sociedade onde a informação e o conhecimento sejam um bem público e não uma mercadoria transacionada, e nunca uma propriedade privada. Mas como diria Cícero “Não basta adquirir sabedoria; é preciso, além disso, saber utilizá-la.”

 

 

 

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