PODE O CONHECIMENTO TRAZER FELICIDADE?

PAULO NOVAIS Professor de Sistemas na Universidade do Minho

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por PAULO NOVAIS
Professor de Sistemas na Universidade do Minho

O conhecimento pode não ser o recurso que, por magia, resolverá todos os males e problemas, nem o garante da felicidade, mas é a condição essencial e necessária para uma melhor, plena e consciente cidadania e para se aceder ao desejado bem-estar social.

Recentemente, num evento sobre Cidades Inteligentes, abordei a questão do conhecimento, da sua disseminação e do acesso ao mesmo, e dei comigo, por instantes, a pensar no dilema entre o conhecimento e a felicidade. Coloquei-me a eterna questão que muitos se colocaram: traz o conhecimento felicidade?

 

O conhecimento, que de acordo com a maioria dos dicionários da língua portuguesa, define-se como o ato ou efeito de conhecer, ter ideia ou a noção de alguma coisa, que pode estar associado a uma notícia, informação, ideia, experiência, ao saber. Sempre vi e entendi o conhecimento como um processo pessoal de retenção, em que cada de um nós vai progressivamente reunindo/juntando um conjunto de capacidades, competências e aptidões. Passa por ser um processo gradual, como um somatório de vivências pessoais que, ao longo do tempo, vamos empilhando, processando e acumulando na forma de representações mentais da realidade.

 

Matematicamente o somatório é um operador matemático, representado pela letra grega sigma (∑), que nos permite representar a soma de uma série de termos, eventualmente até ao infinito e é definido por: . Em que  (neste contexto para mim) representa as vivências pessoais, na forma de competências que cada um de nós de uma certa forma acumula pelo estudo (conhecimento discursivo) ou pela experiência (pela perceção/intuição).

 

Para Platão (século IV a.C.) o conhecimento é uma crença verdadeira e fundamentada e com Aristóteles (século V a.C.) o conhecimento divide-se em três: o científico, o prático e o técnico.

Karl Popper (século XX) considerava que o conhecimento é a busca da verdade, que é inalcançável, mas que devemos por sucessivas tentativas tentar aproximar-nos dela. Para ele tudo é provisório, até se provar que é falso, o que nos leva incessantemente a questionar, a duvidar, a procurar. Sócrates (século IV a.C.) afirmava nos seus diálogos “Só sei que nada sei” de algum modo que não é possível saber com absoluta certeza, que o saber não só não traz necessariamente a felicidade como pode levar ao sofrimento.

Leonardo da Vinci (século XV), nesta linha de pensamento, afirmava que “pouco conhecimento faz com que as pessoas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam humildes”. Por outras palavras que o conhecimento pode ser causador de angústias e de ansiedade em querer ter mais conhecimento i.e., em saber mais. De algum modo, o não saber (o conhecimento superficial ou limitado) pode proporcionar ao Homem condições para ser mais feliz. Bertrand Russell (século XX) magnificamente sintetizou o que de facto querem os homens não é o conhecimento, mas sim a certeza.

Tudo isto de algum modo contradiz todo o sentido da evolução do conhecimento, do saber e da cultura na nossa sociedade, em que o conhecimento é considerado um desiderato essencial. O conhecimento é apresentado repetidamente como uma fonte de poder e de sucesso, como uma ponte para o dinheiro e a felicidade. Aliás neste contexto Woody Allen afirma (e bem) que o dinheiro não traz felicidade, mas provoca uma sensação tão similar que é necessário um especialista para detetar a diferença.

O conhecimento surge ainda aqui com uma fonte e um recurso, mas quem controla o nosso acesso à informação, ao conhecimento, e quem decide o que os outros têm direito a saber ou não? Muito se tem legislado neste âmbito, mas a única proteção válida e segura é a defesa intransigente do livre acesso e difusão, que deve ser o mote numa sociedade moderna, progressista e aberta porque como afirmava José Saramago “só o conhecimento une cada um consigo mesmo e todos com todos”.

Numa Cidade (País) Inteligente o conhecimento pode não ser o recurso que, por magia, resolverá todos os males e problemas, nem o garante da felicidade, mas é a condição essencial e necessária para uma melhor, plena e consciente cidadania e para se aceder ao desejado bem-estar social. Mas de facto, se o conhecimento pode criar problemas, não será através da ignorância que os resolveremos (Isaac Asimov, Século XX).

 

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