QUEM NÃO SE SENTE…
ÂNGELA OLIVEIRA Advogada
por ÂNGELA OLIVEIRA
Advogada
Cada final traz um novo comeco. Sem novidades, o final do ano implica o começo de um novo ano. À parte a euforia das festas, nesta altura do ano tendemos a refletir sobre as nossas realizações e frustrações, tanto do passado quanto para os nossos planos de futuro.
Fazendo o habitual flashback ao ano de 2015, a memória segue aleatoriamente alguns acontecimentos que escolheram como destaque em Guimaraes no último ano. Sem qualquer ordem cronológica ou de importância, porque a memória não é pretensiosa. Outros haverá, com igual ou maior importância, mas esses são critérios que não se aplicam a uma reflexão pessoal. A reflexão pessoal é assim mesmo, indisciplinada.
Há uma verdade inquestionável em Guimarães. Faz parte de qualquer batismo como vimaranense “ quem não se sente não é filho de boa gente”. Até quando uma senhora da televisão escolheu mal as palavras para alertar de uma situação de esgotos em Donim. Foi castigada a senhora, mas uma coisa boa, a mais importante, aliás, saiu do alarme: a população de Donim terá a sua situação de esgotos, após décadas, resolvida.
Essa mesma verdade obrigou o senhor Presidente da Câmara a explicar em várias sessões de esclarecimento o porquê da necessidade de construção de uma via dedicada ao Avepark, e o seu trajecto. A população da zona das Taipas não gostou de saber que as suas terras seriam rasgadas para construção de uma autoestrada com 6 km e sentiu-se. Fizeram-se baixo-assinados que se ouviram em Santa Clara, que rapidamente apresentou o parecer favorável da Universidade parceira no Avepark. Houve no entanto outro pormenor que não passou despercebido, é que o parecer não contemplava a variável “ qual a melhor solução para os vimaranenses”.
Levantou-se também a população de Pencelo perante a possibilidade de ali ver construída e implantada uma fábrica de reciclagem de resíduos plásticos. Mais uma vez, a vox populi vimaranense se fez ouvir, levantando-se relevantes reservas mentais à construção de uma fábrica, que apesar de tudo produz uma energia limpa, em zona reservada a Reserva Ecológica Nacional e paredes meias com um bairro residencial. Perde a população e perde o ambiente.
O aval da Câmara Municipal a localização da Ecoibéria em Pencelo não parece sintonizado com o desígnio do actual executivo a Capital Verde Europeia. É, pelo menos, o que parece, apesar de no ano de 2015 a candidatura ter tomado forma pública.
Há, aliás, uma obstinação por parte da nossa Câmara Municipal em concorrer a títulos. E confesso a minha limitação em compreender o porquê de termos de concorrer a tal título, se o desígnio maior são as metas, que podem ser atingidas implementando uma política efectivamente ecológica no concelho. Pelo caminho e na demanda da candidatura, lá se foram constituindo grupos de trabalho, consultorias, parcerias, associações… e estou em crer que só não apareceu uma fundação por algumas limitações legais entretanto (bem) criadas.
José Saramago dizia que “a sociedade tem de estar alarmada, que é essa a sua forma de estar viva”. E se o alarme é um alerta vermelho constante que não nos daria qualquer conforto social, pelo menos não há dúvida que a sociedade deve estar atenta. O ano de 2016 será certamente um ano para estar atento ao código de cores em Guimarães.
Um bom Ano Novo para todos!
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