RARÍSSIMOS, OU NEM TANTO

José da Rocha e Costa Gestor de empresas

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por José da Rocha e Costa

Gestor de empresas

Nos dias em que vivemos, é cada vez mais realçada a importância da comodidade. A comodidade da comida entregue em casa, a comodidade das compras online, a comodidade do McDrive, do PharmaDrive e de outros tantos “drives” que por aí vão surgindo. Temo, no entanto, que esta procura pela comodidade tenha ultrapassado o limite do razoável e que esteja a causar nas pessoas um comodismo de pensamento que em nada contribui para a evolução da nossa sociedade.

 

Este fenómeno global, a que temos vindo a assistir nos últimos anos, chega agora também à forma como se faz televisão. Tendo em consideração a vida preenchida do cidadão, que entre trabalho, lazer e compromissos familiares pouco tempo tem para ver televisão, as estações televisivas decidiram criar um formato que combina o tradicional “noticiário” com um programa de “reality TV” à imagem de um Big Brother ou de uma Casa dos Segredos. O telespectador pode assim ficar a par da actualidade, enquanto assiste a um bom programa de entretenimento que lhe permite alhear-se do enfado da rotina diária. Tudo isto, despendendo pouco mais de uma hora do seu precioso tempo.

 

Então, e onde é que está o problema? – perguntará o caro leitor.

 

O problema é que acabamos por chegar a um ponto em que um programa noticioso tem mais de entretenimento do que de notícias.

 

Esta é, a meu ver, a única forma de explicar o mediatismo desproporcionado que o “caso Raríssimas” tem tido. Muito provavelmente, se há um mês atrás perguntássemos ao público em geral se alguma vez tinham ouvido sequer falar na Raríssimas, a resposta seria negativa em 90% dos casos. O mesmo não se pode dizer agora. Só ao cidadão mais incauto é que esta polémica poderá ter passado despercebida.

 

E agora eu pergunto: Mas onde é que está a notícia no meio desta polémica toda? Houve desvio de fundos? Houve gestão danosa por parte da administração?

Ao que tudo indica, e tendo em conta as informações veiculadas na imprensa até ao momento, a resposta é não. Não houve nada disso. Poderá ter havido algum nepotismo, ou até uma tentativa de obter influência política, na forma como Paula Brito e Costa, ex-presidente da Raríssimas, geriu a associação. Mas, nem isso constitui qualquer espécie de crime, nem revela particular interesse jornalístico. Vale a pena relembrar que a instituição visada é uma instituição privada e que os salários auferidos pelos funcionários dessa instituição são (ou pelo menos deveriam ser) um assunto do foro interno. A haver algum aproveitamento por parte da administração, este deveria ser assinalado e censurado dentro da própria instituição, com o voto dos seus associados, e nunca na praça pública ou na Assembleia da República.

 

Não havendo então notícia, sobra-nos o entretenimento. Quem é que não gostaria de saber se a senhora andava ou não envolvida com o Secretário de Estado? E quem é que não gostaria de saber em que mercado é que a senhora gastou os 200€ em gambas? Devia ser bom o marisco. É que dizem que a rainha de Espanha não come qualquer coisa.

Entretenhamo-nos então, mas com a noção de que os casos de mau jornalismo em Portugal, ao contrário das doenças cujos portadores são apoiados por esta instituição, serão cada vez menos raros.

 

 

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