TODOS AO PALCO

CASIMIRO SILVA Colaborador da Tratave

retratos-opiniao

por Casimiro Silva

Desde há cerca de seis anos que integro o júri da Mostra de Teatro Amador de Guimarães a convite do então diretor do Vila Flor e hoje vereador da Cultura, José Bastos. E faço-o com imenso prazer; com uma vontade enorme de participar naquilo que gosto e, principalmente, como apaixonado pelas coisas belas que se fazem e sempre se fizeram no território vimaranense.

Neste espaço de tempo deu para perceber que o teatro de amadores em Guimarães mudou. Não, não foi por ‘culpa’ do júri, mas pela aposta que as coletividades vimaranenses que dedicam os seus (cada vez menos) tempos livres ao Teatro.

Aqui chegado e consciente que Manuela Paredes, Torcato Ribeiro e eu próprio temos sido obrigados a lidar com um guião de escolha de propostas muito castrador e muito balizado, não tenho dúvidas em afirmar que o futuro do teatro em Guimarães está no bom caminho. Apesar de ainda existirem realidades que, às vezes, nos tiram do sério. Estou a olhar para o Cem Cenas deste ano. Assisti a todos os espetáculos e fiquei triste; desiludido. O que vi só vinca o quão fundamental é a existência de um olhar forte e conhecedor sobre o teatro que se vai fazendo por Guimarães; um olhar que, não sendo centralizador, possa ajudar a sair de algumas letargias.

Trabalho de qualidade…

Feito este desabafo, cedo o meu olhar à Mostra de Teatro Amador deste ano em Guimarães. Com um ponto prévio: se em 2017, com Raul Brandão a mandar nas balizas criativas do teatro amador, as propostas atingirem o nível deste ano, Guimarães ganha mais uma excelente batalha: a do teatro amador. É que foi a melhor mostra de que tenho memória. Foi, seguramente, aquela que me deixou mais confortável e sereno, enquanto membro do júri. Pela primeira vez senti que foram selecionados projetos que podem estar em cena em muitos dos palcos deste país.

Na verdade, e olhando para aquilo que o PREC no prato que a Astronauta-Associação Cultural levou a Vila Flor, foi importante ver atores com capacidade de movimento em palco, dando vida às cenas. Ali vi ação. Ouvi vozes colocadas, em tempo certo. Entrei numa realidade, criada pela pena de Helena Pereira, que me transportou ao passado; mesmo que prefira valorizar o lado sentimental dos militares. Há cartas que ficam para sempre; fazem história. Tipo as de António Lobo Antunes que deram o belo filme de Ivo Ferreira “Cartas de Guerra”. A qualidade representativa dos atores deste coletivo não foram só passos firmes sobre um momento social, militar e politicamente forte da história recente de Portugal, foi um enorme momento de vivência teatral em Guimarães.

Já o comboio da meia-noite que Citânia-Associação Juvenil fez passar por Vila Flor foi um hino à encenação. Extraordinário cenário! Luzes certas no sítio certo. Um palco realista a fazer saltar as lágrimas da memória. Não, não é exagero, vi mesmo uma das melhores encenações das mostras de teatro de amadores em Guimarães. E vivi momentos de rara beleza: dois atores seguros em palco que ‘aguentaram ‘outras personagens mais frágeis; tal e qual os momentos que foram mostrados. Afinal era mesmo a fragilidade humana que estava ali; numa estação, com pessoas tão distantes! Sempre à espera de um comboio tardio, adiado, que jamais chega para trazer a salvação. Por momentos vi o filho de Saul, de László Nemes. E vi a destruição humana e o caos. E retratos tão reais e tão próximos dos dias que esmagam a nossa ilusão de que o mundo é um lugar bom. Podia ser um qualquer país desta Europa que fecha fronteiras. Outro grande momento de vivência teatral em Guimarães.

No terceiro dia de mostra, o TERB mostrou Húmus. Vi uma das mais difíceis tentativas de transformação de um texto em palco. Não terá sido totalmente feliz. Conheço razoavelmente o texto de Raul Brandão; podiam estar em cima do palco tantas outras palavras. É verdade que o texto vale pela viagem interior e pelos sinais vitais que nos dizem que somos tantas vezes uns parvos à deriva. Mas os sinais não foram claros em palco.

… e com futuro

Em suma, e fazendo jus ao título deste desafio que o Mais Guimarães me lançou, só posso terminar vincando que depois da edição de 2016 da Mostra de Teatro Amador de Guimarães fico com um desejo enorme: é importante que de futuro se conheçam mais pormenores dos projetos concorrentes. Este ano os três finalistas não desiludiram, mas quem sabe se os outros concorrentes que não se mostraram não tinham projetos capazes de celebrar o teatro “que continua bem vivo no concelho de Guimarães?

Felizmente que, pelo que vou olhando em volta, João Pedro Vaz, o responsável artístico de A Oficina, já a partir do dia 1 de janeiro, vai agarrar de cabeça o teatro de amadores no território vimaranense.

 

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