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UMA ESPÉCIE DE BALANÇO

ANA AMÉLIA GUIMARÃES Professora

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por ANA AMÉLIA GUIMARÃES
Professora

Eis que 2016 chega ao fim. O momento é propício a balanços, a um olhar com aviso sobre o que passou e comentar em conformidade. Esta crónica terá também esse perfil de resumo e de balanço. No entanto, como adiante veremos, esta será mais uma reflexão sobre o que não escrevi do que sobre aquilo que aqui foi escrito ao longo deste ano.

Poupo às leitoras e aos leitores, que generosamente me leem no +Guimarães, os previsíveis balanços dos contextos internacionais ou mesmo nacionais. Quem me leu no decurso de 2016 reparou, por certo, que os assuntos que aqui vou trazendo à liça centram-se sobretudo em questões do foro local, mormente naqueles que dizem respeito à cidade e ao concelho em que vivo.

Esta opção pelo local, não excluindo, é certo, outras áreas mais “globais”, nunca se me afigurou como hipoteticamente de menor interesse e pertinência. É aqui que vivemos, construímos a nossa vida e a partilhamos com os outros. Os assuntos locais são comuns à maioria dos leitores deste jornal e afetam de uma maneira muito mais “material” e imediata o nosso presente e futuro.

Neste momento de balanço crítico, o que me interessa, então, não é tanto elencar em síntese o que aqui fui escrevendo ao longo do ano, mas sobretudo sublinhar o que não foi dito, o que ficou “de fora” por falta de tempo ou por adiamento. E foi muito.

Os assuntos, os problemas de que não falei surgem de áreas diversas e com intensidades diferentes, desde os preocupantes dados demográficos relativos ao centro histórico e zona de Couros (25% idosos, 10% jovens, população mais envelhecida do que no resto do concelho, dados dos Censos de 2011, que nos obrigam a dizer “alto lá!” e questionar sobre o que facto do que queremos para a cidade, em como atrair habitantes/repovoar e fazer viver um centro que não seja apenas habitado por turistas) ao folhetim Cristina Azevedo-CEC 212.

Este último “assunto” é um daqueles imbróglios a que os vimaranenses assistem perplexos. As zonas de sombra, os discursos contraditórios, e francamente amadores, que se prendem com a hipotética indemnização a Cristina Azevedo (recrutada, convidada e apresentada como a 8ª maravilha do mundo pelo então presidente da Câmara Municipal de Guimarães para “gerir” a Capital da Cultura) que foi, como se sabe, afastada do cargo por via de movimentações “espontâneas” que, falta saber, se provocadas por razões generosas de busca de sucesso para o evento europeu ou se por lógicas de interesses de poder político “tout court”. Este caso de comadres é, sem dúvida, uma amostra de um problema mais global e que se prende com a opacidade e avaliação que falta fazer da Capital Europeia da Cultura (o(s) seu(s) impacto(s), o que mudou – avaliar, por exemplo, as opções de arranjo urbanístico: Toural, Jardim da Alameda, antigo mercado/PAC, ou o deve e o haver dos investimentos materiais e imateriais realizados, o papel do movimento associativo, etc.).

Mais exemplos de temas que ficaram “de fora”? Por exemplo: o arranjo urbanístico da zona das Hortas que, como ordenamento do trânsito, é absolutamente sofrível e não responde à vivência urbana e comercial daquela zona.

No mesmo sentido podíamos falar do projetado parque de estacionamento da Caldeiroa, que é apresentado em 3D sem que as pessoas que aí vivem e trabalham sejam ouvidas. O que revela, por um lado, desconhecimento por parte dos responsáveis da educação e da cultura da existência, ali, de um atliê e galeria de arte que produz, de forma regular e com absoluta independência (económica, por exemplo), um notável trabalho de criação e exposição artística e, por outro lado, uma conceção da memória histórica urbana que passa (e existem outras opções) por arrasar o passado industrial ou então em empalhá-lo na vitrine de um catálogo fotográfico.

Os assuntos são como as cerejas… e esperando pelo seu tempo, desejo a todos os leitores da Mais Guimarães um bom 2017. Aqui nos voltaremos a encontrar.

 

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