UMA PROPOSTA PARA AS MAÇÃZINHAS

Luís Janeiro Presidente do Conselho de Direção da Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa

Luís Janeiro

por Luís Janeiro

Presidente do Conselho de Direção da Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa

Vem este texto a propósito das Maçãzinhas e do papel das raparigas nesta festa.
Dita a tradição que elas se colocam nas varandas e eles, cá de baixo, içando uma lança, lhes fazem chegar mensagens em que dão conta do que lhes vai na alma o que, outrora, requeria arte e engenho e encerrava dificuldades que se resolvem atualmente, não raras
vezes, com um “like”.
A distinção de papéis entre rapazes e raparigas parece clara, se bem que sem qualquer subalternização delas (antes pelo contrário).
No essencial, passam-se mensagens bem vincadas, que se projetam no futuro.
Posto isto, temos, por um lado, quem escudado na tradição das festas considera que colocar a lança nas mãos de uma rapariga subverte essa mesma tradição (se elas estão no centro da festa, porquê mudar?). Por outro, os que entendem que importa promover a igualdade de género, que se constitui ainda como um problema maior da nossa sociedade (não há-de a rapariga usar a lança para prestar tributo ao amigo?).
Pessoalmente, acredito que quem perfilha uma das perspetivas não rejeita a outra em termos absolutos, ainda que a considere aqui descontextualizada ou de menor importância. Apesar do profundo respeito que tenho pelas tradições Nicolinas, em nome do muito que há a fazer em prol da igualdade de género, entendo que as raparigas devem poder participar nas Maçãzinhas desempenhando papel idêntico ao dos rapazes.
Hoje, nenhum jovem precisa de uma lança para enviar mensagens mais ou menos românticas à rapariga predileta: tem o email e as redes sociais.
Orientemos, pois, as Maçãzinhas para outro campo onde os afetos são igualmente importantes: as pessoas mais velhas.
É imprescindível que a sociedade reintegre a pessoa idosa. É indispensável que haja uma convergência geracional, isto é, que a interação verdadeira entre as pessoas
mais velhas e as pessoas ativas e os jovens resulte em mais-valias para a sociedade em geral. Os conceitos de envelhecimento ativo e saudável são explícitos quanto à necessidade de proporcionar à pessoa idosa a oportunidade de se manter económica e culturalmente
ativa.

Há que mudar mentalidades, porque sabemos que a realidade não é essa e os jovens, uma vez mobilizados, são os principais motores da mudança.
Nesta linha de raciocínio, ponho à discussão uma proposta que, no espírito da tradição, lhe dá um conteúdo novo que vai ao encontro de questões prementes da sociedade atual, numa síntese assente em valores fundamentais em cuja consolidação temos de nos empenhar:
passar rapazes e raparigas para as lanças, erguendo a solidariedade intergeracional, a vanguarda, a tradição e o exemplo de Guimarães.
Nas lanças vão mensagens de agradecimento aos mais velhos,
mas, também, desafios. Propostas dos estudantes, devidamente estruturadas, içadas para as varandas onde se encontra experiência e potencial. Quem de direito, querendo, pode apoiar o melhor projeto (e, já agora, dar formação na respetiva elaboração, cultivando o
empreendedorismo).
Evidentemente, nada obsta a que se levantem também mensagens de cariz pessoal. Em suma, passar a ser um dia em que a juventude vimaranense presta tributo aos que lhe precederam na tradição e os desafia para, em conjunto, trabalharem por uma sociedade mais solidária, mais unida e, por conseguinte, mais forte.
E porque não reunir nesse dia os professores reformados das escolas de Guimarães, de modo a que nós, dando o exemplo, os possamos rever e agradecer-lhes de viva voz?
Talvez seja uma forma possível de transformar um problema numa oportunidade.
Nota: Dedico este texto à Profª. Conceição Campos, a quem nunca agradeci ter-me ensinado a gostar de coisas verdadeiramente belas.

 

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