
por Isabel Maria Ribeiro
Educadora de Infância
No final de cada ano letivo, dou por mim, ano após ano, a fazer mesma pergunta: “ já estamos no fim? De verdade que já passou um ano? A sério??? Mas como é que isto aconteceu?» E a resposta, invariavelmente, é sempre a mesma:”- Não…Não pode ser… Então, se ainda “foi ontem” que eu recebi este grupo de crianças, como é que já está na hora de nos despedirmos e os deixar seguir o seu caminho?”. Mas a matemática é categórica e, fazendo as contas, constato que, de facto, assim é. Já se passaram 10 meses … e, mais uma vez, dou por mim a proferir “ não pode ser…o tempo passa a voar…”.
Nem nos apercebemos dos meses que passam a uma velocidade furiosa, uns atrás dos outros, com pressa de apanhar o seu clone, no ano seguinte; das semanas que, mal começam, numa lenta e rabugenta segunda-feira, apanham confiança e, apanhando-nos distraídos, conseguem, num ápice, chegar novamente a segunda-feira; nos dias, que não têm compaixão pelas nossas mil e uma coisas que temos de fazer e, rapidamente, chegam ao fim. Não sei se acontece o mesmo com vocês, caros leitores, mas tenho a impressão que o tempo passava mais devagar, há uns anos atrás. Parecia que havia tempo para fazer tudo e ainda nos sobrava imenso tempo para «preguiçar». E que bem nos sabia esse dolce far niente! Acho que é isto que nos falta atualmente.
Vivemos literalmente atolados em compromissos, em trabalho, em atividades que nos ocupam muito tempo. E, infelizmente, este mal está também a atingir as nossas crianças. Cada vez mais, elas têm todo o seu tempo ocupado com «mil e uma atividades». Se não é a escola, são as atividades extracurriculares, o ballet, o futebol, a natação, as explicações…Ufa! Tempo livre para brincar; para criar; para saltar à corda, enfim, para ser criança?! Ainda me lembro do meu tempo de criança em que, depois da escola, tinha o tempo todo só para mim. Outros tempos, claro. Mas façam uma reflexão comigo…precisamos mesmo desta agitação toda? Não estaremos a preencher o nosso valioso tempo com coisas supérfluas em detrimento do que é mesmo importante?
Acho que é tempo de começar a estabelecer prioridades, pois o nosso amigo (ou inimigo?) tempo, não se compadece de nós. Temos de ser capazes de gerir o nosso tempo, aquele que nos está destinado, da melhor maneira possível. E o que é válido para alguns não o é para outros. Há tanta gente que desperdiça o seu tempo em coisas de que não gosta só para ficar bem perante os seus pares, só porque está na moda fazer isto ou fazer aquilo, que esquece o que é realmente importante: tempo para estar em família; tempo para nós; tempo para estar com os amigos; tempo para nos divertirmos; tempo para aprender; tempo para descansar; tempo para ler; tempo para ir ao cinema; tempo para saborear uma boa música; tempo para estar em casa (já repararam que uma pessoa anda a vida toda a trabalhar para pagar uma CASA e praticamente não usufrui dela?). Pensem nisto e verifiquem se precisam de retificar o orçamento que têm para gastar do vosso TEMPO. Reparem que estamos em tempo de crise, não gastem demasiado, pois podem provocar uma «bancarrota temporal».