A DEMOCRACIA DERROTADA POR FALTA DE COMPARÊNCIA
Por João Torrinha
Por João Torrinha
Advogado e Presidente da Assembleia Municipal de GuimarãesOs anos 30 do século passado são uma realidade que já não existe na memória de quase ninguém. E no entanto, lemos os livros de história e constatamos que os dias de hoje tresandam aos tais anos que precederam a segunda grande guerra.
Para a mınha geração, essa foi sempre uma realidade que se lia apenas nos livros ou via nos filmes. Mesmo a nossa ditadura pátria, que durou muitos mais anos, não a vivemos. Nascemos com a democracia e não nos passa pela cabeça viver numa sociedade onde não exista liberdade de pensamento, de expressão, de associação, de movimento ou de imprensa. A minha geração cresceu com o processo de adesão à União Europeia, presenciou a chegada de inúmeros imigrantes, primeiro dos países africanos de expressão portuguesa, depois do Brasil, mais tarde dos países do leste europeu. Em anos mais recentes, muitos tiveram eles próprios de emigrar e procurar a sua realização pessoal e profissional noutras paragens.
É por isso com incredulidade que olhamos para o que se está a passar por esse mundo fora, com a ascensão de políticos que, de forma mais explícita ou mais encapotada professam uma ideologia nacionalista, autoritária, xenófoba, fascista.
O Brasil seria apenas e só o último exemplo, não estivéssemos a falar de um dos maiores países do mundo e irmão do nosso. Por esse motivo, angustia mais que uma nação maravilhosa como é aquela tenha acabado de eleger um presidente que aberta e publicamente já proferiu declarações anti democráticas, racistas, misóginas, populistas. Enfim, alguém que dedicou o seu voto no impeachment a Dilma Roussef à figura de um torturador. Julgo que isso seria o suficiente para afastar do pensamento de qualquer democrata que se preze vir um dia a dar-lhe o seu voto. Por muito que não gostasse da alternativa.
E no entanto, ganhou. Mais de cinquenta milhões de brasileiros entenderam confiar-lhe o futuro do seu país.
Ganhou e mais do que culpar quem votou nele, exercício sempre inútil, importa perceber por que ganhou.
Os resultados da governação anterior são, obviamente relevantes neste contexto, mas não são eles que podem explicar o que se passou. Porque, por muito maus que fossem (e em vários aspetos, foram-no) isso não justificaria que a alternativa fosse isto.
Ora, tenho para mim que talvez a principal causa para o que aconteceu seja a capitulação de muitos face a figuras como esta, algo que vem acontecendo um pouco por todo o mundo. Quando, por exemplo, nos EUA, alguns candidatos republicanos que foram literalmente insultados por Trump, hoje são seus fervorosos apoiantes, está tudo dito.
Entendamo-nos: quando alguém como Bolsonaro aparece, as questões esquerda/direita deviam imediatamente desaparecer. Já não se trata de preferir determinada ideologia em detrimento de outra. Do que estamos a falar é da sobrevivência do próprio regime democrático.
Quando assim é, não podemos normalizar estas figuras. Temos de ser radicais na sua confrontação. Infelizmente, o que se assistiu da parte de muitos políticos brasileiros foi a escolha de uma perigosa neutralidade. Uma falta de comparência à democracia.
Entre ser Churchill ou Chamberlain escolheram ser este último.
Muitos dirão que estou a dramatizar. Oxalá que sim, mas temo bem que não.
PUBLICIDADE
Partilhar
PUBLICIDADE
JORNAL
MAIS EM GUIMARÃES
Abril 17, 2024
Fernando Conceição foi vereador da Câmara Municipal de Guimarães e vogal da Assembleia Municipal.
Abril 17, 2024
Mais Guimarães, o semanário digital vimaranense, que tem tudo o que precisa de saber.
Abril 17, 2024
Numa nota publicada nas suas redes sociais, Davison Pereira revela que a sua maior tristeza foi nunca ter ganho um troféu por aquele que se tornou "o meu clube para o resto da vida", o Vitória SC.