
por Carlos Guimarães
Médico
Um dia todos seremos ignorados.
Virão muitos dias em que tentarão reduzir-nos àquilo que não somos, mas só o conseguirão a partir do momento em que nos inocularem o medo. O medo que pretendem ver funcionar como um cancro com as suas células malignas assanhadas a tomar conta de nós. O medo existe, mas nunca deve vencer quando é instigado por mentecaptos assaltados pelo ódio e pela tirania movendo-se nos corredores do poder. O poder que deveria ser exercido com respeito e desinteresse mas que é exibido com sujidade e arrogância. Os homens do poder também serão ignorados, bem mais rápido do que os homens amados, e quando caírem por terra, dificilmente se levantarão. Os pulhas que por aí vagueiam com arrogância e prepotência, mentem tanto, de forma aberta e dissimulada que acreditam nas suas próprias mentiras. São impostores sem carácter, traficantes de favores e influências, sem alma nem capacidade para amar. Na verdade não passam de pobres coitados com imensa falta de amor, pessoas vazias e perdidas como cães à roda de si tentando morder o próprio rabo. Fugitivos, marginais, que não passeiam nas ruas da cidade, por cobardia, medo, falta de coluna vertebral e detentores de frágeis telhados de vidro. Esta é uma boa medida para aferir a integridade dos que se julgam poderosos. Acham-se fortes domadores de homens, mas na verdade não passam de ratazanas que se movem nos subterrâneos escuros da traficância. Vivem na orla do interesse pessoal como meta das suas vidas, concentrados no seu gigantesco umbigo e julgam que tudo deve orbitar à volta dessa cicatriz. Colocam o interesse pessoal sempre na linha da frente encoberto por discursos demagógicos que procuram mostrar o contrário.
As instituições públicas estão recheadas desta espécie parasita que se alimenta do estado mas raramente comparece no local de trabalho, que se cobra de mordomias e gere uma imagem mais falsa do que as palavras de Judas. Uma escória que procura agredir uma das mais nobres virtudes do ser humano, a dignidade. São homens e mulheres tão assoberbados e bizarros que se julgam acima dos outros. Proclamam a igualdade mas exercem a tirania e quando não o podem fazer, pedem um esforcinho. Arrepia ver esta corja a gravitar tão próximo de nós, e assusta ver tanta gente convertida à medida que coloca as patas nas escadas do poder. Num ápice, já estão mergulhados na enorme pocilga, a engordar e mutando-se em porcos iguais a caminho do triunfo dos porcos onde todos os animais são iguais mas uns são mais iguais que outros.
Alguns, poucos, resistem e mantêm-se humanos, mas são uma minoria tão desequilibrada que a preponderância dos porcos os pode levar à extinção. São porcos com veneno de lacrau, e são mesmo tão venenosos que apenas a picada do seu próprio veneno é capaz de os envenenar.
O mundo está cada vez mais azedo e sem sabor. Cabe aos humanos resistir e lutar, serem inteligentes e não ajoelhar. Se nos proíbem os doces, logo não deveremos deixar de os comer. Proíbem-nos os rissóis e os bolinhos de bacalhau, levamo-los de casa. O Estado – Grande Pai – parece zelar pela nossa saúde, até dissimula que nos ama, quando na verdade atenta contra a nossa liberdade, a nossa capacidade de decisão e é um carrasco dos nossos pequenos prazeres. Não nos devemos vergar. Se nos criam um problema, resta-nos encontrar a solução, e a solução existe sempre, só não a encontraremos se desistirmos.
Se um dia for legislado que a partir da procriação é mais seguro e saudável viver sem testículos, recuso que me tirem os meus. Podem usar todos os meios para me convencerem, mas nunca acreditarei, e quem acaba de ler estas palavras pensa como eu, mesmo que seja mulher. Sim, porque as mulheres também têm tomates, muitas vezes bem mais fortes que os masculinos.
Sabemos de onde vimos mas não sabemos para onde vamos, a estrada tem cada vez mais pedras soltas, mais lama e mais buracos, num mundo em que parece que vale tudo menos arrancar olhos.