“A SOCIEDADE NÃO ESTÁ PREPARADA PARA ALIVIAR A CARGA SOBRE A MULHER”

Mariana Silva, coordenadora do norte do Partido Ecologista Os Verdes, em entrevista à revista Mais Guimarães

mariana destaque

É mulher e tem um papel de destaque num mundo maioritariamente de homens. Mariana Silva é coordenadora do Norte do Partido Ecologista Os Verdes e está ligada à política desde os seus tempos de estudante. Aborda o panorama nacional como uma questão de mudança necessária e admite que a nível local a CDU tem agora uma intervenção mais limitada.

 A Mariana chegou à política cedo, ainda no tempo da faculdade. O que é que, nessa altura, a levou a envolver-se nessa área?

Na verdade, eu sempre tive algum interesse pela parte mais social, mais política, mais reivindicativa até. E por isso, naquela altura, fez sentido e foi quando fiz parte das listas da CDU pela primeira vez, em 2005. Depois fui-me envolvendo um pouco, porque como é óbvio nunca entramos de cabeça. Fui participando nas iniciativas, fui vendo como é que funcionava e, estando num partido de coligação, foi importante o partilhar de experiências dos dois partidos, Os Verdes e o Partido Comunista, ver como ambos funcionavam, ver a diversidade que faz com que depois ambos se complementem.

Essa envolvência era então algo em que já tinha pensado?

Sim! Eu lembro-me que lá em casa havia os documentos dos sindicatos, víamos os tempos de antena, falávamos do que era a atualidade e do que se pretendia para a sociedade, principalmente na área dos trabalhadores, porque a minha mãe estava no têxtil e o meu pai era carpinteiro. Daí esta relação próxima da luta dos trabalhadores, da luta pelos direitos. Na verdade, nunca tinha pensado a sério envolver-me mesmo na política, mas depois acabou por fazer sentido.

Como é que vê o interesse e envolvimento dos jovens nas questões políticas?

Todos nós não deixamos de ser políticos, de ter opinião, de saber o que se passa no mundo. E eu não tenho o lado derrotista da juventude. Acho que os jovens se interessam, sabem o que se passa, vão estando atentos. E isso também é fazer política. Agora, claro que associar-se a um partido político, numa altura em que é tão difícil arranjar emprego, acaba por ser mais uma dificuldade para além de todas as outras e por isso os jovens foram-se afastando de mais uma dificuldade que lhes seria acrescida e que seria mais um rótulo.

Mas não nota que o inverso também acontece? Que há quem considere que a filiação num partido pode significar uma abertura de portas no mercado de trabalho?

Isso também existe, sim. Existiu sempre. É normal isso acontecer, claro que em partidos diferentes. N’Os Verdes a verdade é que tem que haver uma entrega muito grande, temos que ter participação, porque de outra forma vamos perdendo o fio do caminho que se vai construindo. Na relação com o PEV e com a CDU está sempre muito presente a participação, quem vem sabe que é assim.

E o facto de ser uma mulher num mundo de homens? Alguma vez sentiu algum preconceito, alguma dificuldade acrescida?

Eu tive uma ou duas experiências que me mostraram “ok, há aqui uma diferença”. Mas até hoje nunca tive nada de muito difícil de ultrapassar, nada que me pusesse alguma dificuldade por ser mulher. Como é óbvio tenho caraterísticas específicas que não me dificultam, não sou mãe, não sou casada e por isso não tenho essa experiência.

Mas noto que sou uma mulher num mundo de homens, há imensas reuniões em que sou a única mulher. E é preciso mudar isso a nível geral. Não podemos querer que a mulher tenha um papel mais ativo se a sociedade não está preparada para aliviar a carga sobre ela.

Na política vocês trabalham para que os resultados sejam visíveis nas eleições. Nas últimas autárquicas a CDU não teve resultados positivos. A que acha que isso de deveu?

Eu acho que a questão teve a ver com uma mudança de paradigma, quando fizemos o acordo com o PS. Talvez, de alguma forma, isso nos tenha posto em segundo plano. Apesar de termos diferentes perspetivas de caminhos que queremos para a educação, para a saúde, para a cultura, foi permitido ao PS governar com o nosso apoio e do Bloco de Esquerda, cada um com as suas exigências. Achamos que esse foi o caminho mais acertado, porque dessa forma conseguimos repor direitos que nos tinham sido retirados e travar algumas questões que estavam quase a ser concretizadas, como a privatização da água. Mas o nosso trabalho fica um pouco diluído quando é o PS que está a governar, acho que as pessoas não perceberam muito bem o nosso esforço.

Terá sido como dar um passo atrás na tentativa de se chegarem depois à frente e terem mais possibilidade de serem ouvidos?

Não havia outra hipótese na altura, não dava para ser de outra forma. Se nós continuássemos com a política de direita que nos estava a ser imposta, ia correr mal.

Havia uma necessidade de mudança no caminho, mudança que só era possível com este “dar a mão” dos três partidos. Mas depois exigir algo em troca. Foi a reposição dos feriados, a renegociação dos contratos laborais, foram questões que conseguimos trazer de novo para a discussão, fazer com que passassem na Assembleia. Só por isso já valeu a pena. Claro que, por vezes, isto da política é ingrato, trabalhamos tanto e às vezes não somos reconhecidos.

E relativamente à realidade vimaranense? Vendo-a com os olhos de quem está de fora do executivo local, que comentário teceria?

O nosso vereador faz falta. Era o que colocava mais questões locais, o que tinha sempre mais intervenções nas reuniões de câmara. Tínhamos um gabinete na Câmara que nos permitia uma maior proximidade com a população e que permitia darmos um maior apoio aos que nos procuravam a pedir ajuda. Nesta questão achamos que, cada vez mais, a CDU vai fazer falta.

Agora, sem vereador, a nossa intervenção está mais limitada. Poderíamos ter uma participação mais influente e mais ativa, porque a CDU sempre se pautou por fazer propostas e não só apontar o dedo, não só acusar.

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