
por Tiago Laranjeiro
Economista
Caro Sr. José,
Agradeço-lhe sinceramente a chamada que me fez na semana passada, depois de eu partilhar a “boa notícia para Guimarães” que foi a do alargamento dos serviços da Uber ao nosso concelho. Na chamada, alertou-me para os problemas que existem com esta plataforma, e para a concorrência desleal que a Uber faz aos táxis. E pôs-me a pensar sobre isto.
O fascínio pela Uber não é só pelos muitos milhões em que a avaliam, nem pelos astronómicos prejuízos que acumula. Nem é porque “it is new and is in the news”. É mesmo porque oferece um bom serviço aos consumidores, confortável no serviço e no modo de usar, no meio de pagamento automático, e com elevada previsibilidade de tempo de espera, tempo de viagem e custo do serviço dinâmico.
A Uber é uma ideia simples, mas disruptiva face ao “status quo”. Claro que traz novas questões, desde logo de concorrência com os incumbentes. Os táxis estão obrigados a um conjunto de requisitos legais, desde registos, formação, segurança dos passageiros e higiene e segurança no trabalho, a que a Uber não está (ainda) obrigada. Há também os problemas da precariedade dos motoristas da Uber, com excesso de horas de trabalho (que traz problemas de segurança), e abundam relatos de baixos salários (críticas, aliás, que se fazem a outras plataformas disruptoras, como a Amazon).
A entrada da Uber no mercado veio trazer mudanças na atividade dos incumbentes. Já temos, em Guimarães, inovações como a CoopTáxis, um “call centre” que nos liga a uma enorme rede de táxis, que fazem um serviço mais personalizado e confortável, ao custo do serviço normal. Ou a app mytaxi, que estará para chegar cá, com um funcionamento e praticabilidade parecido com o da Uber, mas exclusivo para veículos com determinadas características de maior conforto (mais em linha com o UberBlack).
E a resposta dos táxis à Uber não se fica por aqui: há uma outra frente de combate em que exigem – bem – uma competição mais leal, da legislação laboral à formação e à segurança, com a correção do enorme vazio legal em que esta empresa opera no país. Apesar disto, o desafio que a Uber lança à indústria é sério. O seu modelo de negócios, com mais facilidade de entrada de operadores (em contraponto a “numerus clausus” dos táxis), as tarifas dinâmicas, que variam em função da procura, e as inovações que está a desenvolver, desde os carros automatizados aos transportes de bens, bem como a conveniência de serviço, traz conveniência para o utilizador.
Mas esta disputa entre táxis e Uber e a mesma que muitos setores de atividade sofrem, ou sofrerão, em resultado da quarta revolução industrial que vivemos. Muitos setores habituados a uma certa tranquilidade estão a ser importunados. Muitas profissões e atividades deixarão de existir, substituídas por inovações disruptoras. E rejeitar estas inovações não é a solução. Hoje falamos de transportes, amanhã falamos dos bancos, seguradoras e intermediários financeiros (ameaçados pela tecnologia “blockchain” e por “fintech”), depois dos médicos e serviços de saúde (veja-se o projeto “Watson Health” da IBM), ou da agricultura (olhe-se para o que faz a WiseCrop, empresa com costela Vimaranense que se anuncia como o “sistema operativo da agricultura”).
Haverá, então, espaço para todos? Não sei. Mas sei que este desafio é importante. O Sr. José é um profissional de excelência. Tem uma base de clientes fixa, um nicho de mercado que trabalha bem e um serviço primoroso, ao nível da higiene, segurança e tratamento do cliente, que agrada a quem, como eu, recorre aos seus serviços. E nesta especialização pode estar uma resposta. Agora, uma coisa eu sei, estão em curso no mundo mudanças que prometem não deixar pedra sobre pedra. No mundo de daqui a vinte anos, pouco será como hoje. As profissões, as empresas, o modo de trabalhar, até o modo de nos relacionarmos em sociedade, tudo está em acelerada mutação. Hoje temos todos (empresas, trabalhadores e cidadãos) de repensar o nosso posicionamento no mercado, a mais-valia da nossa atividade, porque quando chegar uma Uber para a nossa área de ação, podemos não conseguir ganhar o tempo necessário para então nos reinventarmos.