ACE, SABRINA E KAISA SÃO MUITO MAIS DO QUE BASQUETEBOL
Três atletas da equipa de basquetebol feminino do Vitória conversam com o Mais Guimarães sobre a modalidade, a igualdade salarial e o racismo no desporto.
As atletas vitorianas estão pela primeira vez em Portugal e contam à Mais Guimarães as suas primeiras impressões sobre a cidade e sobre o Vitória. O racismo, a igualdade de género e o desenvolvimento cultural, aliado ao desporto, merecem igualmente destaque nesta conversa.
O desporto é um forte aliado da integração social e, em Guimarães, há três caras novas que, aos poucos, vão conhecendo a cidade e a cultura vimaranense.
Natural de Baltimore, nos Estados Unidos da América, Alexus Harrison, jogadora de 24 anos, conta à Mais Guimarães que está a “desfrutar imenso” de estar na cidade berço, um local bem diferente da sua terra natal, onde há “muito mais pessoas e muito ruído”. Ace, como é conhecida entre as colegas, está há poucos meses em Guimarães, mas já procurou conhecer as raízes da cidade. “É muito bom poder compreender o local onde vivemos. Compreender a importância do rei para as pessoas. Recentemente descobrimos que ele foi o primeiro rei de Portugal”.
Disposta a fazer de tudo pelas companheiras, elege Kobe Bryant, pela mentalidade, Len Bias, atleta formado na universidade de Maryland, a mesma frequentada por Alexus Harrison, que faleceu em 1986, apenas dois dias depois de ter sido escolhido por uma equipa da NBA, por overdose de cocaína — “Se ele tivesse vivido, talvez o Michael Jordan não seria o melhor de sempre” — e Candace Parker, por ter ajudado a aumentar a agressividade feminina dentro de campo, como as suas maiores influências no desporto.
Sobre o racismo no desporto, Ace explica que “é algo que não acontece só na Europa”. “Já aconteceu comigo um pouco por todo o mundo, onde joguei. Eu penso sempre que, se sou importante o suficiente para que essas pessoas tenham esse tipo de sentimento em relação a mim, é porque eu estou a fazer algo bom. O ódio é o maior elogio que podemos receber, por isso, nunca devemos baixar a cabeça e temos que continuar a fazer o que sempre fazemos, porque não estamos a fazer nada de mal”.
Sabrina Lozada-Cabbage, 22 anos, nasceu em Twin Falls, Idaho (EUA), mas representa a seleção do Porto Rico. A jogar pela primeira vez overseas, a poste vitoriana só tem elogios para Guimarães: “É uma cidade muito bonita. Já visitei o castelo e é fantástico”.
A atleta de 1,88m faz da versatilidade a sua maior alma, descrevendo-se como uma jogadora “calma” dentro da quadra. Ser atleta norte americana, país que domina a modalidade, pode por vezes trazer alguma pressão, por os holofotes estarem virados para si. Sabrina rejeita essa ideia e revela a sua crítica: “Ninguém coloca mais pressão em mim do que eu mesma. Quero sempre competir e dar o meu melhor para poder ganhar o maior número de jogos possíveis”.
Sobre a equidade salarial, Sabrina aponta que, no caso da modalidade, “não há tantas equipas na WNBA, nem tantas pessoas a assistir aos jogos”. Contudo, a atleta pensa que há melhorias a fazer: “Mas acho que podia haver uma maior igualdade nas percentagens de lucro para os atletas dos dois géneros. Eu não acho que as mulheres que jogam na WNBA alguma vez irão ganhar os milhões que os homens ganham, porque não há tanta gente interessada e a assistir aos jogos, mas as percentagens de lucro deveriam ser iguais”, explica. Os salários das jogadores da WNBA constituem 22% da receita da liga, enquanto os salários dos jogadores da NBA representam aproximadamente 50% da receita da liga. O facto de os jogadores da NBA obterem uma fatia muito maior da receita, comparativamente com a WNBA, demonstra bem o valor atribuído pelas duas organizações aos seus respetivos atletas.
Proveniente de Orimattila, na Finlândia, a jovem Kaisa, de 25 anos, está a viver a sua primeira experiência longe de casa. A jogadora vitoriana está habituada à tranquilidade de uma cidade sossegada, algo que também encontrou em Guimarães. “Orimattila é tão pequena que temos apenas uma rua principal e algumas lojas. É pequena mas é uma boa cidade para desporto, pois temos uma pequena comunicada muito dedicada e é sempre bom voltar lá. Conheço toda a gente e todos me conhecem”.
Kaisa começou a jogar basquetebol aos seis anos, no desporto escolar, mas só aos 16, quando foi chamada à seleção, é que percebeu que queria ser jogadora profissional. Fã de desporto, encontrou no Vitória o clube ideal: “é um grande clube. Gosto que o clube tenha muitos desportos. Antes de vir pesquisei pelo Vitória na internet e logo ali pareceu-me muito bom. O clube passa uma imagem muito positiva”, refere a finlandesa. Para a finlandesa, o basquetebol pode ser um meio para conhecer o mundo: “Ajuda-nos a evoluir, especialmente quando temos jogos fora de casa. Posso conhecer sítios novos, como por exemplo a Madeira. Desta forma posso conhecer melhor o país, porque não temos assim tantos dias de folga. O basquetebol pode, de facto, levar-me a todo o lado.”
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