Afonso Maia, pelo Bloco de Esquerda, usou da palavra na Sessão Solene da Assembleia Municipal, neste dia 25 de abril, para reforçar de que “não nos devemos conformar com o rumo do regime que abril erigiu”.

Para Afonso Maia, esta data dever ser aproveitada para invocar quem “pereceu pelo objetivo da liberdade, sacrificando-se por um ideal sem assistir à sua concretização”.
Deve ser dia de lembrar “todas as vítimas da repressão fascista”, que, “por acreditarem num Portugal livre e plenamente democrático, pagaram com a vida a sua ação clandestina em busca desse horizonte”.
Para o bloquista , isto vale “não só para os 34 presos políticos que não resistiram à prisão e tortura no Campo de Concentração do Tarrafal entre 1936 e 1954”, mas também para todos os outros, que “ao longo de 48 anos de ditadura, foram direta ou indiretamente assassinados às mãos do regime”.
Afonso Maia lamentou também que “apenas em 2015”, se tenha publicado uma lista definitiva com os nomes das 175 vitimas mortais do regime fascista.
“Estas vítimas e centenas de outras, desconstroem a imagem de um Estado Novo sereno, e pouco repressivo”.
Afonso Maia
Afonso Maia utilizou do seu tempo para desconstruir as “narrativas que tentam minar o consenso nacional em torno do 25 de abril, tentando reescrever a história deste período, e construindo uma ficção alucinada sobre a existência de uma ditadura de outra cor política entre esta data e o 25 de novembro de 1975”.
Narrativas que, segundo o bloquista, procuram até “apagar o contributo dos combatentes antifascistas e dos próprios movimentos de libertação nacional nos territórios colonizados na deterioração do regime,… desvalorizando a sua coragem e bravura”.
E falou em casos concretos: “Veja-se como a forma infantil como certas forças político-partidárias instrumentalizam eventos históricos como o assalto ao Santa Maria ou o assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz, como se os seus intervenientes fossem comuns bandidos, esquecendo convenientemente a sua motivação política”.
Afonso Maia apelou à honestidade “na evocação da memória de quem não se curvou perante o regime ultraconservador e corporativista. Respeitemos abril e quem para ele viveu ou morreu”, disse.
No entanto, isto “não significa que nos devemos conformar com o rumo do regime que ele erigiu. Devemos ter uma posição crítica, ponderada, avaliativa em relação às conquistas de abril, até porque muitas delas ficaram por efetivar”.
“Devemos criticar a forma como o Estado Social, uma das conquistas mais ricas da revolução, tem sido gerido”
Na segunda parte da sua intervenção, Afonso Mais criticou a “criação de uma elite política, tecnocrata e fechada sobre o seu próprio modelo de gestão publica, e infelizmente conspurcada por décadas de casos infelizes de corrupção, compadrio e nepotismo, como tão bem temos visto recentemente de cada vez que abrimos o jornal”.
Criticou também a “configuração de uma elite económico-financeira que, recuperando ao longo destas décadas, o poder de influência de outrora, constitui hoje real força decisória neste país, numa sociedade estruturalmente desigual”.
Afonso Maia falou num “crónico subfinanciamento do Sistema Nacional de Saúde e da Escola Pública, que comprometem a sua universalidade, abrangência e qualidade, a assim como a gestão errática dos poucos setores estratégicos em que o setor público ainda intervém”, dando o exemplo da companhia aérea TAP.
O bloquista criticou, por fim, a “ausência da resposta pública no setor da habitação”, que torna difícil o arrendamento aos jovens, pelos “rendimentos precários em inicio de carreira”, e que ficam numa “situação económica instável”. Mas também para os casais com emprego a tempo inteiro que “são despejados porque o salário mínimo já é incapaz de fazer face ao aumento das rendas. E isto leva a pessoas a ficarem “subjugadas a partilharem casa com desconhecidos ou até ex-parceiros de relação”.