CLUBE DAS PALMADINHAS NAS COSTAS

Tiago Laranjeiro Economista

Tiago Laranjeiro

por Tiago Laranjeiro

Economista

Caro Leitor, queria propor-lhe um negócio: por uma módica quantia anual, eu irei a Sua casa fazer-lhe um elogio, perante a Sua família, amigos e conhecidos, atestando as Suas excelsas competências enquanto profissional e cidadão com preocupações ambientais. Até lhe entregarei um diploma! Para além da quantia anual, peço-lhe apenas que me envie um plano com os Seus projetos (até para poder falar com maior conhecimento de causa) e como bónus faremos umas sessões de partilha de experiências com outros indivíduos que adiram. Vamos nessa?

Certamente que o Leitor teria relutância em aderir a um “Clube de Palmadinhas nas Costas” destes. Pois bem, o Município de Guimarães não teve. Em 2014 aderiu a um programa chamado “Rede de Cidades e Vilas de Excelência”, promovido pelo “Instituto de Cidades e Vilas de Mobilidade”, associação privada sem fins lucrativos criada em 2006 para promover “boas práticas” nas áreas da mobilidade e políticas inclusivas das autarquias aderentes. Guimarães pagou, desde então, 2500€ por ano para fazer parte deste programa, juntamente com 32 outros Municípios portugueses.

Anualmente, o Município entregou um “plano de ação” que relevava o seu compromisso nestas áreas. Findo o período do “programa”, Guimarães recebe um “selo” de qualidade. O Leitor provavelmente já leu referencia a isso nas páginas da presente edição deste jornal. Deve ser um título parecido com “Guimarães reconhecida com a bandeira ‘Cidade de Excelência – Nível III’”. Essa bandeira reconhece projetos tão “palpáveis” como “o desnivelamento do nó de acesso à autoestrada A11”, “a via de ligação de Urgezes à área centra da cidade”, “o edifício Jordão e garagem Avenida” ou “a via de ligação ao Avepark”. Tudo “concretizações inconcretizadas”, sobre algumas das quais não há praticamente informação nem sequer projetos concretos.

Ora, que seja do conhecimento público, o mais que o Município alcançou com este projeto foi precisamente a publicação destas peças reproduzidas na imprensa. Títulos bonitos sobre temas bonitos, de que todos gostamos. Tudo pela módica quantia de 10 mil euros, pagos pelos Vimaranenses à taxa de 2500 euros por ano, só para fazer parte deste “afamado” programa.

Quando reparei nestes pormenores, a minha primeira reação foi rir-me. Mas esse riso cedo se transformou em vergonha, alheia neste caso. Pensando mais profundamente, este processo mais não é do que simbólico da governação de Domingos Bragança. Sabendo do amor bairrista que nós Vimaranenses nutrimos pela nossa terra e pela ânsia de a vermos brilhar em todo e qualquer palco, cede-se ao aproveitamento deste nobre sentimento para o transformar num aplauso acrítico a estes “conseguimentos” de “excelência”. Se fosse caso avulso não seria mau, mas praticamente todas as semanas vemos a eficiente máquina de propaganda do Município a lançar notas de imprensa sobre novos prémios, novos reconhecimentos e novos “conseguimentos”.

Bem sei que, no plano das intenções, tudo é belo. Este programa serviria para promover o intercâmbio de boas práticas e a assunção de uma agenda conjunta pelo desenvolvimento, e um reconhecimento “pelos pares” dos bons resultados alcançados. Das intenções para a prática vai um enorme fosso, que se traduz na realidade que descrevo neste artigo: um “clube” a que Guimarães paga um bom montante para ocasionalmente receber umas palmadinhas nas costas e fazer destes números na imprensa.

Pensando bem, há coisas piores em que gastar o nosso dinheiro… Como os cerca de 40 mil euros (mais IVA) que custou a Gala Guimarães Marca, jantar e evento à porta fechada realizado em janeiro passado…

P.S.: Isto também traduz uma ideia de cidade. Revê-se nela, caro Leitor?

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