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Com voo previsto para segunda-feira, jovens no Peru temem que “manifestações aumentem”

Rita Matos, vimaranense, é uma das jovens retida no Peru.

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Rita Matos, vimaranense, é uma das jovens retida no Peru. Em viagem com colegas de Coimbra e de Viseu, após terminar o curso de medicina, viu-se no meio dos conflitos associados à destituição do presidente peruano e esperam sair de Arequipa esta segunda-feira, dia 19 de dezembro. Contudo, a SIC adiantou que há voos a ser cancelados.

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Começaram a aperceber-se do que se estava a passar no dia em que chegaram a Cusco, “quando supostamente houve o golpe de estado efetuado pelo presidente Pedro Castilho e este foi preso”, recordou Rita Matos ao Mais Guimarães. Estavam no mercado e a única coisa que lhes disseram foi que ia haver um recolher obrigatório. “Na altura, nem percebemos se existiu ou não”, lembrou. 

“A situação pareceu ficar resolvida quando a vice-presidente de Pedro Castillo tomou o poder” e, durante dois ou três dias, os jovens não viram nada de estranho acontecer. “Apercebemo-nos que havia alguns protestos no dia em que íamos apanhar um autocarro de Cusco para Arequipa. Nesse dia, através do diálogo com a empresa de transportes, soubemos que havia alguns bloqueios na estrada e tivemos de perceber se era seguro efetuar o transporte para oura cidade”, explicou. Com a resposta positiva de que “a segurança estava assegurada”, a viagem ia acontecer.

Mas a viagem nunca chegou a terminar uma vez que se depararam com um bloqueio de quilómetros, em Chala. Estavam “numa fila de carros, parada, sem nenhuma previsão para andar”. A quem ali estava, iam “dando algumas previsões que nunca chegaram a acontecer”. No dia seguinte, foi quando se aperceberam de que não iriam sair dali e a empresa de transportes aconselhou-os a regressar para Arequipa.

“Seguimos caminho para Arequipa e ficamos parados em Ocoña. Foi aí que vimos as manifestações. Quando chegamos o bloqueio estava a ser colocado, eram pedras na estrada para não deixar passar os carros, com vigia de protestantes”, relatou ao Mais Guimarães Rita Matos.

Depois de 50 horas no autocarro, já sem “condições básicas de higiene, a casa de banho não funcionava e o próprio autocarro estava cheio de melgas e moscas”. A alimentação era à base de bolachas e sumo e tinham de correr o risco de ir à cidade comprar comida.

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Foi aí que decidiram contactar a Embaixada Portuguesa. “Disseram que enquanto estivéssemos na estrada não podiam fazer nada por nós porque estávamos bloqueados, só assim que chegássemos a uma cidade com aeroporto”, contou a jovem lembrando que foram aconselhados a “ficar no autocarro com a guia”.

“Somos uma Embaixada, não somos uma agência de viagens”

“Descontentes com a situação”, a guia tomou a decisão de sair com os jovens, “de mochila às costas, e arranjar uma van para uma cidade para ficar num hotel e não no autocarro”. Chegaram a Camaná e perceberam que “mais valia arriscar e chegar a Arequipa”, com a guia, “apesar dos quatro bloqueios existentes na estrada”. Foi aí que encontraram o bloqueio que partilharam em vídeo e o taxista “teve que subornar os protestantes” para os deixar passar. “Foi um caminho perigoso”, confessou Rita Matos, mas, já em Arequipa, alugaram um hostel, onde têm permanecido.

A vontade de chegar a Arequipa prendia-se com o facto de a Embaixada ter afirmado que só podiam ajudar quando os jovens estivessem numa cidade com aeroporto. Ligaram, então, à Embaixada a informar de que já lá estavam. “A resposta foi que o aeroporto de Arequipa estava, naquele momento, fechado e que, por isso, não conseguiam fazer nada por nós”, contou. “Disseram-nos para ficar num hotel em segurança e para manter a calma. Foi sempre este discurso. Passamos muito para chegar a Arequipa para nos dizerem o mesmo que nos disseram quando ainda estamos dentro do autocarro”, acrescentou a jovem vimaranense.

Questionaram, assim, que conselho lhes dariam, como marcarem um voo para Lima [único aeroporto com voos internacionais para a Europa] para a primeira data possível ou se era a Embaixada que tratava disso. “Foi aí que nos responderam “a Embaixada é uma Embaixada, não uma agência de viagens””, lamenta Rita. “Ficamos muito descontentes com a resposta porque queríamos apoio da Embaixada relativamente aos nossos próximos passos, não queríamos fazer nada sem que nos ajudassem. Percebemos que a Embaixada não nos ia ajudar, estávamos a ficar desesperados, até porque estamos a uma semana do Natal e queremos ir para junto dos nossos familiares”. Não sabiam como estava a situação no Peru mas, pelo que contavam, “só parecia estar a piorar”, recordou. 

Com receio do fecho do aeroporto de Lima, começaram a pedir ajuda através das redes sociais e da comunicação social e, passado algumas horas, “a Embaixada ligou a cada um porque sentiram a pressão da comunicação social e de alguns membros do Governo”. “Disseram-nos para estarmos seguros, e que, a partir do momento em que o aeroporto de Arequipa abrisse, eles iriam ajudar”, lembra. Entretanto, os jovens contactaram uma agência de viagens para ter “um voo de segurança, para dia 19, para o caso de não ajudarem”. Um voo que marcaram “como segurança”, mas sempre com a vontade de regressar para Portugal o mais rápido possível.

Com um contacto no Governo peruano, souberam que o Aeroporto de Arequipa ia abrir na sexta-feira, dia 16, para voos humanitários e hoje, dia 17, para voos comerciais. “Soubemos isto às 14h00 locais e a Embaixada ainda não nos disse nada”, contou Rita Matos à Mais Guimarães esta sexta-feira. “Sabemos que eles sabem, mas agora não podem dizer que não podem ajudar porque este sempre foi o entrave. Agora que não há entrave, não nos dizem uma única palavra”, reiterou.

Com voo marcado para segunda-feira, mas sem contactos por parte da Embaixada, tentaram ir a uma agência de viagens para antecipar o voo, algo que não foi possível. Esperam num hotel que não tem almoço nem jantar, o que os obriga a ir para o centro da cidade para fazer essas refeições. Rita diz que é isso que têm feito e, para já, não têm visto manifestações. “Como é óbvio, não estamos em Portugal, não sabemos como age o povo peruano, e sabemos que as informações que eles têm obtido do Governo não são as notícias que querem. Por isso, temos, de facto, muito medo dos próximos dias, porque, mesmo que o país esteja em estado de emergência, o povo peruano não está contente”, relata.

“Tememos que as manifestações aumentem e que comecem a recorrer a outros meios, como a violência”, disse Rita que manifestou a vontade dos jovens de sair dali “o mais depressa possível e não só no dia 19”. “Não sabemos como estarão as coisas no dia 18 ou 19 e esse é o nosso maior medo. Agora que o aeroporto abriu, não queremos perder a oportunidade de embarcar, mas não sabemos se dia 19 vamos efetivamente conseguir”, justificou lembrando que “o ideal seria voar o mais depressa possível para Lima”, onde há voos internacionais. De Arequipa só podem voar para Lima ou para Cusco.

“Estamos de mãos e pés atados, a rezar para que a situação se mantenha estável e calma para estes lados”, terminou.

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