Natural de Fafe, de 68 anos, uma mulher foi a primeira utente a realizar exames na unidade de Hemodinâmica do Hospital de Guimarães, que iniciou atividade nesta quarta-feira, 29 de março. O exame pelo qual já aguardava há várias semanas decorreu “sem complicações”, explicou Francisco Castro Ferreira, cardiologista do Hospital de Guimarães, acrescentando que “a doente tinha uma cardiopatia valvular, que estava programada para ser intervencionada cirurgicamente” e o exame era necessário para a definição da cirurgia.

A abertura do Centro de Hemodinâmica, que estava operacional há cinco anos, representa uma grande conquista para a região, uma vez que permite dar resposta aos casos mais urgentes, sem necessidade de transferência para o Hospital de Braga. Por isso, nas palavras de António Lourenço, diretor do serviço de cardiologia, tratou-se de “um dia muito feliz para Guimarães”, no qual “se fez história”.
“Estamos felizes e orgulhosos que assim aconteça, porque no Minho temos condições mais que evidentes e infraestruturas necessárias para não termos de transferir doentes para o Porto”, acrescentou o responsável.
Henrique Capelas, presidente do Conselho de Administração do HSOG, reconhece que este “foi um parto difícil, ligeiramente mais demorado que os partos normais”. A criação da nova valência “é uma mais valia enormíssima”, que vai permitir ao Hospital de Guimarães “aumentar enormemente a sua diferenciação e complexidade”.

O serviço deverá funcionar “com a colaboração do Hospital de Braga, que é o hospital de referência máxima na região”, e haverá uma “equipa disponível às segundas, quartas e sextas-feiras para realizar cateterismos, angiografias e tudo o que for necessário”, elencou Henrique Capelas.
Vincando a importância da abertura deste novo serviço, Jorge Marques, do Serviço de Cardiologia do Hospital de Braga reconhece que este trabalho articulado é importante na medida em que vai “garantir uma maior proximidade aos doentes do sul do Minho”.
Apesar dos equipamentos estarem parados há cinco anos, o cardiologista vimaranense Francisco Castro Ferreira garante que estes estavam operacionais, “com condições técnicas e garantias ativadas”.
“O que havia era uma questão de operacionalidade que teve de ser regulamentada e implantada”, explicou o cardiologista, adiantando que a equipa está “muito feliz e motivada” para “proporcionar aos doentes o melhor tratamento possível”.
Na visão de Henrique Capelas, a conquista deste serviço para a cidade de Guimarães “mostra que o serviço nacional da saúde funciona e deve funcionar em rede”.

Cinco anos de luta e persistência
A ideia da criação de um Centro de Criação de Referenciação de Hemodinâmica no hospital de Guimarães surgiu em 2015. A Liga de Amigos do Serviço de Cardiologia do HSOG e o Rotary Clube de Guimarães firmaram um protocolo para, junto da sociedade civil, dotar e renovar os equipamentos do serviço de cardiologia, e iniciarem uma campanha de recolha de fundos monetários para o efeito.
Identificada esta necessidade, a comunidade vimaranense rapidamente se uniu para agregar fundos que permitissem o aguardado Centro de Hemodinâmica. No total, a unidade de cardiologia de intervenção e diagnóstico representou um custo de 2,5 milhões de euros de investimento maioritariamente assumido por mecenas, entidades e empresas locais e também pela Câmara Municipal.
Ainda nesse ano, e com todo o valor monetário arrecadado e equipamentos adquiridos, a coletividade levou a cabo um evento festivo cujo ponto alto foi a entrega de diplomas de reconhecimento pelas diversas contribuições.

A intenção de abertura deste serviço foi, inclusive, transmitida à secretária de Estado da Saúde em funções na altura, Rosa Valente de Matos, no âmbito de uma visita ao Hospital de Guimarães, em 2018.
No ano seguinte, a Assembleia Municipal de Guimarães aprovou por unanimidade uma moção que apelou ao Ministério da Saúde que autorizasse a abertura da Unidade de Hemodinâmica, pronto para iniciar atividade desde o ano passado.
Em novembro de 2020, apesar de completamente operacional a nível de equipamentos, o Centro de Hemodinâmica viu-se transformado em algo diferente do seu propósito. A pandemia acabava de alterar a realidade vivida nas unidades hospitalares de todo o país, e esta sala, que funcionava como Laboratório de Arritmologia, passou a funcionar como bloco operatório.
Em 2020, ainda fechado por falta de autorização de entidades sob a alçada do Ministério da Saúde, o Laboratório de Hemodinâmica voltava a fazer parte da agenda da oposição partidária da Câmara Municipal à qual era exigido um maior peso político junto do poder central para que finalmente fosse dada luz verde.
Depois de uma reunião com Marta Temido, em fevereiro de 2020, Domingos Bragança, presidente da Câmara Municipal, assegurou que o Ministério da Saúde iria alterar o desenho da Rede de Referenciação, estando ainda prevista uma articulação entre o HSOG e o Hospital de Braga. Aos olhos dos vimaranenses, estava dado o primeiro passo para a resolução do impasse, mas que nunca se chegou a concretizar.

No ano seguinte, o edil vimaranense foi dando garantias de que este era “um assunto que tem merecido a sua constante atenção”, através de pedidos de audiência à ministra da Saúde e ao Presidente da ARS Norte, bem como um constante diálogo com a administração do Hospital e com o corpo técnico do serviço de Cardiologia.
Em junho de 2021, aquando da visita do presidente da ARS Norte, Carlos Nunes, acompanhado pelo diretor do Programa Nacional para as Doenças Cérebro-cardiovasculares da Direção-Geral da Saúde, Filipe Macedo, os profissionais de saúde do hospital de Guimarães confidenciaram terem ficado com a sensação de que este seria um assunto a ser resolvido em muito pouco tempo.
Já em 2022, Marta Temido, ministra da Saúde, deixou garantias, em Assembleia da República, de que este serviço entraria em funcionamento nesse mesmo verão. Respondendo a uma questão lançada pelo deputado vimaranense André Coelho Lima, a ministra da saúde começou por evidenciar “dificuldades para o enquadramento jurídico” para o atraso na entrada em funcionamento do serviço no hospital vimaranense. Mas, “facto é que o investimento foi feito e é um investimento que nos interessa rentabilizar”, afirmou.
O impasse com o Laboratório de Hemodinâmica, que já se arrastava desde 2018, teve finalmente um fim à vista depois de uma reunião que decorreu no passado mês de dezembro, no Porto, e que contou com a presença de vários especialistas em cardiologia, a par de representantes da administração do Hospital Nossa Senhora da Oliveira e do Hospital de Braga.
Na mesma sessão foi acordado que as duas unidades hospitalares de Braga e Guimarães iriam trabalhar em articulação para o funcionamento do novo serviço. Foi também iniciado o processo de preparação das equipas para a abertura neste mês de março de 2023.
Depois de quase cinco anos de luta e persistência, o Hospital Senhora da Oliveira conta agora com uma sala de Hemodinâmica que poderá fazer a diferença na vida dos utentes em caso de lesões obstrutivas que são responsáveis, por exemplo, pelos sintomas de dor torácica na angina de peito ou no enfarte do miocárdio.