Distanciamento físico não é distanciamento social

A verdade é uma: a nossa vida mudou.

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Vimo-nos pela primeira vez fechados dentro de quatro paredes. Não podíamos sair. Ou melhor, compras, passear o cão, ir dar uma corridinha ou trabalhar, os que podiam. As máscaras começaram por tapar-nos o nosso principal meio de comunicação, e os olhos passaram a ser o nosso eu. O cenário, para qualquer reunião, para aulas, para jantares online, passou a ser a nossa casa. Ao cenário casa, juntamos a falta de abraços e beijos, o não estar com alguém fisicamente, mesmo que seja o nosso vizinho ou o primo que estávamos habituados a ver todos os dias.

Depressed woman at a mental hospital

A verdade é uma: a nossa vida mudou

“O isolamento pode exacerbar algumas emoções”, explicou Emanuela Lopes, Psicóloga Clínica e da Saúde no Hospital de Guimarães. O hábito de passar 24 horas por dia dentro de casa não existia. “Mesmo que morasse sozinho, havia a liberdade das suas escolhas, das suas rotinas. Quando vivemos em família, em casal, com os nossos filhos, pode-se gerar alguma tensão emocional significativa.”

Segundo Emanuela Lopes “o que assistimos é que, a saúde psicológica tem sido claramente subvalorizada, verificando-se grandes alterações na vida psicológica das pessoas. Nota-se sobretudo um predomínio das questões ansiosas e depressivas, quer seja pelo aumento progressivo e exponencial de casos confirmados e suspeitos, quer pela incerteza dos tempos futuros que se aproximam”. Uma investigação publicada no Journal of the American Medical Association, em setembro, concluiu que três vezes mais adultos americanos estavam com níveis elevados de sintomas depres- sivos durante a pandemia do que antes. Um inquérito conduzido pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), em junho, chegou a resultados semelhantes, com mais adultos americanos a relatarem sintomas de saúde mental negativos, particularmente jovens adultos, minorias raciais e étnicas e trabalhadores essenciais. Já a Associação de Psicologia Americana observou um forte crescimento da intenção suicida, particularmente entre os jovens adultos durante a pandemia.

A pandemia interrompeu serviços essenciais de saúde mental em 93% dos países em todo o mundo, enquanto a necessidade de procura por saúde mental está a aumentar exponencialmente, de acordo com uma nova investigação realizada pela OMS. Analisados os dados referentes a 130 países, os primeiros dados mostram o impacto devastador da Covid-19 no acesso aos serviços de saúde mental e ressalta a necessidade urgente de um maior financiamento nesta área.

A experiência de quem passou o confinamento longe da família

Ao Mais Guimarães, Patrícia Rafael, finalista na Universidade do Minho, contou como foi a sua experiência, em março, e quando esteve em isolamento profilático.

“Em março, o confinamento foi o pior, porque demorou mais tempo. Nos primeiros meses fiquei por cá, porque não podíamos circular, os comboios estavam diferentes, e era arriscado estar a ir também pela transmissão. Também não ia fazer com que a minha mãe fizesse 300 quilómetros para me vir buscar. Foi muito estranho, porque, apesar de eu não ir muito a casa, porque as viagens são muito caras, de repente vi-me sem essa possibilidade, e não era questão de poder ou não de acordo com o meu horário académico, era não poder porque estamos a meio de uma pandemia. Só podia contactar através de vídeo chamadas e chamadas.




Estava confinada a uma rotina, as únicas coisas que eu tinha mesmo de fazer eram coisas da universidade e não tinha muito mais por onde me abstrair. A isto juntava ver o número de infetados, que depois decidi deixar de ver. Como a minha mãe é pessoa de risco, todos os dias me falava disso e eu ficava mais ansiosa. E começava a ficar mais ansiosa por ela estar ansiosa do que propriamente por me sentir, eu mesma, ansiosa.

A rotina foi uma coisa que não me ajudou, porque eu gosto de ter as coisas programadas, mas não gosto de saber que amanhã terei mesmo de fazer aquilo porque não tenho hipótese de fazer outra coisa. Foi por isso que me senti mais stressada, porque mesmo aquilo que tinha de fazer da universidade, tinha de olhar para aquilo todos os dias e cheguei ao ponto de, se não estivesse a fazer aquilo, me sentir mal.

Desta vez, em isolamento profilático, eu sabia que iam ser só 15 dias e tinha acabado de chegar de Almeirim e tinha estado com a minha família. Por isso, foi um bocadinho mais fácil. Por ser menos tempo, por ter estado com a minha família, e porque não tenho o peso da universidade e pude fazer outras coisas. Os últimos dias já me começam a saturar um bocadinho.

Para me abstrair, em março fiz muito exercício físico e quando estava sol brincava com os cães. Estes 15 dias, como tinha a minha viola, entretive-me com a música, li livros, aprendi algumas skills de maquilhagem, que não tenho jeito nenhum, cozinhei… Mas sei que se fosse tanto tempo como foi em março, esta rotina não ia funcionar, ia acabar por me fartar.”

Contactos:

Linha de emergência | 112
Linha SOS Criança | 116 111
Linha de Apoio à Vítima | 116 006
Linha da Segurança Social | 300 502 502
Linha Nacional de Emergência Social | 144
Serviço de informação a vítimas de violência doméstica | 800 202 148

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