É TÃO VASTA A ESTUPIDEZ
CARLOS GUIMARÃES Médico Urologista
por Carlos Guimarães
Médico
Terá sido afixado algures no Hospital de Braga um insólito cartaz com a frase “se está em Portugal, fale português”. A criatura anencefálica que o fez pretendia visar os emigrantes que comunicam muitas vezes entre si na língua adotiva ao invés da língua mãe.
Quem emigra não o faz por prazer ou aventura, nem procura um sonho, fá-lo por necessidade, com coragem, com amargura, muitas lágrimas retidas e derramadas. Parte muitas vezes para um mundo desconhecido com alguns trocos no bolso, à procura da oportunidade para vingar na vida que Portugal não permitiu. Parte para trabalhar arduamente e amealhar o tanto
ou tão pouco que a menina Mortágua cogita em ir buscar para alimentar as contas vorazes do estado monstruoso. Parte com a única língua que lhe foi ensinada e mergulha num povo, numa cultura e numa língua estranha que rapidamente tem
de apreender. E rapidamente a domina, usando-a no seu dia a dia durante mais de 335 dias do ano. Por isso têm toda a legitimidade para se pronunciar da mesma forma nos velozes dias em que regressam ao seu país. Dias que desaparecem no tempo que corre alucinante, dias que se alongarão intermináveis em mais um ano de trabalho intenso.
Quem afixou aquela frase hedionda, não sabe o que é partir e deixar ficar, não sabe o que é contar os dias para regressar
e matar saudades, não sabe o que é sentir o arrepio e emoção ao ler a placa na estrada que identifica Portugal, não sabe o que é sair da sua zona de conforto. Mas sabe o que é a inveja, a maldade, a baixeza e a estupidez. Provavelmente não sabe nada mais do que isso.
Fala quem desconhece, como os repugnantes “salazarentos”, que idolatram o Estado Novo sem nunca sentirem na pele o gume
da sua navalha.
A emigração portuguesa é uma epopeia de sobrevivência, de sucesso, de integração social e de descobertas. É um hino à determinação, à coragem, à sobre elevação dos homens e mulheres grandes e fortes.
É levar a nossa bandeira e os nossos costumes aos quatro cantos do mundo. É disseminar os nossos genes.
Ninguém tem o direito de se achar maior ou melhor que o outro, mas os nossos emigrantes têm direito em se mostrarem
mais exuberantes e mais vaidosos quando regressam ao país que os fez partir. É uma subtil prova do seu triunfo além fronteiras. É uma maneira de exprimirem a sua felicidade tantas vezes cortada na terra estranha e longínqua que os acolheu.
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