Em junho, tornam-se vivas as caraterísticas da obra vicentina

De 1 a 10 de junho.

Gil-Vicente

Guimarães prepara-se para ser o berço da criação, de 1 a 10 de junho, com a 35.ª edição dos Festivais Gil Vicente. Este ano, com o público a dividir-se entre entre o Centro Cultural Vila Flor e o Centro Internacional das Artes José de Guimarães, serão seis as peças apresentadas que prometem “tornar vivas as caraterísticas da obra vicentina e que passa por esse olhar sobre a sociedade, a capacidade de colocar o humorismo do centro”.

© Ana Cardoso / Mais Guimarães

Rui Torrinha, diretor artístico d’A Oficina e dos Festivias Gil Vicente, fala desta coorganização do Município, d’A Oficina e do Círculo de Artes e Recreio (CAR) como “um evento simbólico daquilo que é o associativismo em torno da arte e da cultura em Guimarães”.

Nos primeiros dias de junho, vai viver-se, acredita, um “programa que seja vibrante, capaz de representar a multiplicidade das temáticas e da intervenção que o teatro faz na sociedade”. Mas, mais do que isso, vai continuar-se a “aposta sobre dar palco às novas vozes do teatro e às propostas que passam um bocadinho ao lado do radar, mas que são essenciais”.

Logo no primeiro dia, “Cosmos” traz a Guimarães uma peça de um trio que já cá esteve na qualidade de vencedora da bola Amélia Rey Colaço. Uma expansão do universo de Cleo Diára, Isabél Zuaa e Nádia Yracema onde dez intérpretes, em palco, falam “sobre o afrofuturismo, o questionar dos mitos e a releitura da história. Essa ideia de olhar para história e perceber o que somos hoje e como é que seguimos o caminho futuro”. É uma peça, diz Rui Torrinho, “ambiciosa, do ponto de vista de pensar a origem das artes a partir de África e é um acompanhamento que fazemos nas apostas das novas emergências e novas vozes”.

Uma versão reescrita por Tita Maravilha, de “As Três Irmãs”, que venceu a quinta edição da bolsa Amélia Rey Colaço, apresenta-se a 2 de junho. Uma versão “tropical” ao universo de Tchékhov, no qual “reflete sobre a sua própria vida”.

“Mordaz e com humor”. É assim que o diretor artístico dos festivais apresenta a peça “All you can eat”. Uma abordagem “àquilo que é o capitalismo e o excesso de consumo na nossa sociedade” e que será apresentada num dispositivo em que o público estará a assistir à peça numa espreguiçadeira cruzando teatro, performance, instalação, dança e concerto ao vivo.

A segunda semana dos Festivais Gil Vicente arranca a 8 junho com “Solo”. Esta é uma peça desenvolvida a partir do olhar do espectador. “Que é isto de ser espectador de teatro e cinema e como é que essa experiência nos afeta?”, procura responder Teresa Coutinho.

“Um quarto só para si”, a 9 de junho, apresenta-se como uma estreia absoluta em Guimarães e que nasce de uma nova bolsa lançada pel’A Oficina em parceria com o Teatro Louletano e o Espaço de Tempo, o projeto Casa. O coletivo silentparty propõe-se a fazer “um exercício para desenhar uma espécie de edifício onde pode haver uma certa emancipação dos corpos e da própria individualidade. Mas essa emancipação não destrói o efeito coletivo”. É, assim, um exercício de experimentação sobre o que se vive na sociedade em que o indivíduo não é anulado nesse processo de relação com o coletivo.

Os Festivais Gil Vicente encerram, a 10 de junho, com “Noites de Verão”, de Luís Mestre. Dois atores, ali como millenials, em palco que, após várias crises e a própria pandemia, se encontram “nesse pós para perceber o que é o mundo hoje e como é que esse peso pode ser resolvido”.

Direção artística do Teatro Oficina mantém atividades paralelas

Mickaël de Oliveira, diretor artístico do Teatro Oficina, propõe um programa que tenta “alimentar e provocar a discussão à volta das obras e prolongar a experiência do espectador”.

“O espectador clássico costuma ir ao teatro, compra o bilhete, vê o espetáculo e vai para casa. Vai para casa, obviamente, com a memória do espetáculo, com a sua apreciação do momento, com a sua reconstrução da dramaturgia. O espectador continua a criar a obra através da sua interpretação”, explica para anunciar aquilo que traz este ano: prolongar a experiência com atividades paralelas que “pudessem servir de ponto de encontro entre artistas, espectadores, através de conversas pós espetáculos e dois painéis”.

© Ana Cardoso / Mais Guimarães

O desafio das conversas, anuncia Mickaël de Oliveira, foi dar destaque aos espetáculos que usufruiram da bolsa e é “um belo momento para partilhar um pouco mais sobre os pressupostos do espetáculo”. Vão, desta forma, servir para conhecer um pouco melhor os “pressupostos artísticos dos objetos que estão a ser apresentados e também para dar voz aos criadores ao lançar o debate sobre o gesto artístico”.

E o gesto artístico é o tema que vai voltear, precisamente, as conversas e os painéis. “O que estamos a falar neste momento em Portugal e no mundo cabe nesta programação”, acredita lembrando a importância destes momentos porque, aqui, “conseguimos assistir ao início do processo de criação, a etapas de trabalho e podemos ver o resultado final”.

Desmitificar a ideia de que “isso não é para nós”

Fernanda Carvalho, em representação do Círculo de Arte e Recreio, lembra que, depois de 35 edições, este festival vem mostrar que “o teatro se recomenda” e que “o teatro pode ser apresentado em diversas formas e pode ser reinventado e reformulado conforme as próprias vivências de cada um”.

Na apresentação dos Festivais Gil Vicente, não deixou, porém, de referiu “um ponto que o CAR gostava de ver ser reforçado: tornar o teatro mais comunitário envolvendo a comunidade vimaranense de forma mais ativa e que fosse mais possível a todos os estratos sociais, a todas idades”. É, assim, objetivo, que mais gente tivesse conhecimento e a experiência do teatro que é tão importante para a cultura.

Para Paulo Lopes Silva, vereador da Cultura, essa é, precisamente, uma das mensagens fundamentais dos festivais Gil Vicente e de outros momentos da programação d’A Oficina. “Queremos desmitificar essa ideia de que “isso não é para nós”. A porta está mesmo aberta, queremos que não seja a questão do preço que dificulte o acesse, queremos trazê-los para dentro do teatro não só pelos momentos de apresentação, mas também pela discussão que faremos em torno de alguns temas. Queremos reforçar a mensagem de que o teatro é para todos”, destaca.

Refere ainda as três peças no programa compostas por duas bolsas que A Oficina integra e deixa uma mensagem “que deve fazer pensar o país e o Ministério da Cultura”. “O financiamento a uma estrutura d’A Oficina não pode ser olhado apenas como um financiamento de programação de uma rede de teatros e cineteatros, mas também como um apoio à criação que se multiplica no território e depois tem os seus efeitos nos criadores”, denuncia explicando que “a realidade é que olhamos hoje para o financiamento às artes em Portugal e além das estruturas independentes que têm o seu apoio através da DGArtes, estruturas como A Oficina têm acesso apenas através da rede de teatros e cineteatros e nessa rede não se insere nenhum tipo de financiamento para intenções e políticas como esta de apoio a outras criações que não apenas da sua própria estrutura”.

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