Enfermeira de Guimarães alerta primeiro ministro para a situação da saúde no país
"Não é aceitável que os utentes tenham que recorrer ao privado".
Ana Isabel Alves é enfermeira no Hospital Senhora da Oliveira, em Guimarães e resolveu escrever a António Costa para lhe dar a perspetiva de uma profissional que enfrenta diariamente os desafios do Sistema Nacional de Saúde, em tempo de pandemia.
A enfermeira vimaranense diz que vive “diariamente a realidade da Covid-19 como pessoa e profissional de saúde” e chama à atenção para o facto de “o acesso aos cuidados de saúde primários” se encontrar “muito condicionado por imposição de medidas do estado de emergência e nunca se procedeu ao ajustamento do seu funcionamento”.
Ana Isabel Alves salienta a dificuldade que os utentes têm para conseguir uma consulta (como o Mais Guimarães já tinha noticiado), o que faz com que tenham que se deslocar ao hospital. A enfermeira alerta o primeiro ministro para o aumento do tempo de espera de “situações de facto emergentes”, com o fluxo de doentes que deviam ser vistos nos cuidados de saúde primários às urgências hospitalares.
Não é aceitável que tenhamos que nos deslocar ao privado quando temos um SNS para o qual contribuímos, Ana Isabel Alves
Em defesa do SNS, Ana Isabel Alves refere que não é aceitável “que tenhamos que nos deslocar ao privado quando temos um SNS para o qual contribuímos”.
A enfermeira questiona o valor dos diagnósticos feitos pelo telefone e ilustra com uma situação já anteriormente noticiada pelo Mais Guimarães. “Já ouvi relatos de pedirem por telefone a uma mãe para ver se via pus na garganta do filho. Não é admissível”, afirma Ana Isabel Alves. “Os centros de saúde não podem funcionar maioritariamente pelo telefone”, acrescenta.
A enfermeira mostra-se particularmente preocupada com os doentes crónicos
Para a enfermeira, o ideal seria que os médicos continuassem a ter alguma agenda para marcações apesar de terem que fazer o seguimento dos doentes referenciados no âmbito da covid-19.
Em conversa com o Mais Guimarães a enfermeira mostrou-se particularmente preocupada com os doentes crónicos “que desde março deixaram de ser seguidos”. “É inadmissível não termos resposta adequada nos cuidados de saúde primários”, lê-se na carta enviada ao primeiro ministro.
Ana Isabel Alves reconhece que, apesar destes constrangimentos, há também a necessidade de reforçar o SNS com profissionais, médicos e enfermeiros. “Há tantos no desemprego”, atira a enfermeira.
Ana Isabel Alves termina apelado a António Costa que faça uma reflexão sobre o seu apelo, “um apelo em nome dos portugueses”. Mesmo em tempo de pandemia de covid-19 os portugueses têm outros problemas sinaliza a enfermeira em jeito de aviso final ao primeiro ministro.
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