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Francisca Abreu: um exemplo sempre connosco

Por José João Torrinha.

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Por José João Torrinha, Advogado e Presidente da Assembleia Municipal de Guimarães Há notícias que são para nós muito mais do que um murro no estômago. Notícias que nos fazem questionar o sentido da vida, tal a sua profunda injustiça e aleatoriedade. Foi isso que senti quando me ligaram a dizer que tinha falecido Francisca Abreu. Para ser franco, ainda hoje me custa acreditar.

Conheci-a nos tempos do liceu, escola que ela dirigia na altura. No regresso da faculdade, vim encontra-la já vereadora da cultura, sensivelmente na mesma altura em que iniciei as minhas lides associativas. Data desse tempo um episódio que conto. Enquanto representante da direção do Convívio fui assistir à sessão em que, na Sociedade Martins Sarmento, se entregavam os prémios aos melhores alunos.

Na mesa, Santos Simões, Presidente daquela instituição e Francisca Abreu, na qualidade de vereadora da cultura. Na altura, decorriam obras camarárias à porta da SMS e Santos Simões iniciou a sua intervenção com uma crítica violenta à Câmara pelas condições em que asobra estava a ser executada. No final do discurso, a vereadora não aplaudiu.

Estavam ali à vista os traços de personalidade bem vincados de duas pessoas que marcaram de forma definitiva a história da nossa cidade: a frontalidade quase cortante de Santos Simões, mas também a de Francisca Abreu, incapaz da hipocrisia de aplaudir uma intervenção que repudiava.

Fui acompanhando a ação política da vereadora, primeiro mais à distância, depois mais de perto, quer como Presidente do Convívio, quer depois como membro da Assembleia Municipal.

Há cerca de três anos deu-me a honra de aceitar integrar a mesa da assembleia que eu viria a presidir. E foi aí que mais de perto com ela me relacionei. A Drª Francisca não conduzia e por isso combinávamos sempre que eu a levava e trazia das assembleias. Eram meia dúzia de minutos entre o Largo das Hortas e a Universidade do Minho. Mas eram os suficientes para irmos falando de tudo um pouco. Do tempo, da família, da nossa saúde, de política, enfim de todas as dimensões que compõem uma vida.

No regresso, discutíamos como tinha corrido a sessão, as intervenções que mais tínhamos gostado, os temas em concreto que tinham sido debatidos.

Dela sempre tive simpatia, mas também frontalidade. Solidariedade, mas sempre sem abdicar de ter opinião. Era uma pessoa extremamente interessante e com uma visão tão aberta ao mundo como o seu contagiante sorriso. Uma agente política convicta e bem segura das suas ideias. Da sua ação ficaram marcas que nem o tempo conseguirá apagar.

Naquelas conversas de que já tenho tantas saudades ressaltava um outro lado: o da matriarca. O de alguém que se sentia pertença e líder de uma linhagem de mulheres que começara na sua mãe e se prolongava pelas suas filhas e netas.

A estas, queria deixar uma palavra de conforto, de alguém que também sofreu uma enorme perda bem cedo na sua vida (na minha e na dele, meu pai). Sei bem da dor que estão a sentir, mas o que lhes posso dizer é que o tempo nos ensina a valorizar de forma cada vez mais gratificante aquilo que mais importa: o exemplo, os ensinamentos que eles nos deixaram e que estão bem vivos. A impressionante e generalizada demonstração de comoção por tantas e tantas pessoas, é a prova disso mesmo: de que ela continua e continuará bem presente nas nossas mentes e nos nossos corações.

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