“Jantar das últimas sextas-feiras” reúne-se há 50 anos: “Isto vai até aos 100 de certeza absoluta”
Bem, não são todas as sextas-feiras - "em agosto é verão, em novembro há o Pinheiro e em dezembro é Natal".
Na última sexta-feira de cada mês há amigos que se juntam. Na verdade, são vários os grupos que se juntam todos os meses. Mas este em especial tem algo que os liga entre si e à cidade que os acolhe, as Nicolinas. Juntam-se todas as últimas sextas-feiras e chamam ao jantar “Jantar das Últimas Sextas-feiras”. Bem, não são todas as sextas-feiras – “em agosto é verão, em novembro há o Pinheiro e em dezembro é Natal”. Entretanto, 50 anos se passaram e o jantar de janeiro marcou essa data tão simbólica.
Vítor Soares Leite tem 80 anos e recorda que os jantares surgiram de um grupo de amigos, quando “os tempos eram um bocadinho diferentes daquilo que são agora”. Começaram por fazer “uns jantares de vez em quando, não era a última sexta-feira de cada mês”, mas já eram “extremamente alegres”. “A diversidade entre nós criava uma situação muito agradável”, justifica lembrando “que demoravam imenso tempo, comia-se e bebia-se”.
Um jantar que “nasceu por causa das Nicolinas”, como apresenta José Ribeiro que faz parte do grupo há 30 anos, afirmando que este “é o grupo mais antigo que reúne os mais antigos nicolinos de Guimarães”.
A geração mais velha “passou toda pelos bancos do Liceu”, uma vez que o grupo tem origem, na sua fundação, nos antigos alunos do Liceu de Guimarães. Hoje, a história é outra e trazer gente nova para a tertúlia é um dos objetivos para que esta “nunca acabe”.
Na realidade, isso é algo que já tem vindo a acontecer, porque “ou o grupo morria por si, porque as pessoas iam ficando cansadas e morrendo também, ou o grupo seria conservado havendo uma renovação”, diz Miguel Bastos.
Na sua opinião, “o único problema é que começa a haver um generation gap muito grande e as pessoas não se conhecem”.
Mas esse “generation gap” sempre existiu. Tiago Guimarães recorda, por exemplo, o último jantar que teve com o Emídio Guerreiro. Tinha 24 e Emídio Guerreiro tinha 104. “Separavam-nos duas cadeiras e 80 anos”, lembrou.
Entrou na tertúlia precisamente “numa altura em que havia uma certa crispação entre as novas gerações e a geração mais velha”. Embora o pai também faça parte do grupo, chegou até ali para aproximar as várias gerações.
“A ligação, o convívio, a partilha, a amizade e as histórias que se vão contando” são, para Carlos Coutinho, os ingreditentes para que haja “uma coesão muito grande” no grupo. Chegou aqui através das Danças de S. Nicolau e não esquece o seu primeiro jantar: “estavam reunidos, em fila, o ano de 77, 67, 57, o de 47 não estava, e o de 37”.
Acredita que estas tertúlias “ajudam a preservar as tradições e são fundamentais” e também Miguel Bastos frisa que “as Nicolinas por si existem, mas isto é o cimento mais antigo daquilo que representa as pessoas que têm mais idade e estão ligadas às festas”.
50 anos depois, Vítor Soares Leite, conta que regressa a Guimarães, de onde saiu devido à vida profissional, pela ligação às pessoas. Reconhece que “é difícil” ver um grupo com 50 anos a continuar a reunir-se, mas não tem dúvidas: “isto vai até aos 100 de certeza absoluta”.
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