“Maior parte dos incêndios resultam de mão criminosa”

Entrevista a Bento Marques, Comandante dos Bombeiros Voluntários de Guimarães.

Bento Marques

Entrevista a Bento Marques, Comandante dos Bombeiros Voluntários de Guimarães.Bento Marques, Comandante dos Bombeiros Voluntários de Guimarães, com 55 anos, começou cedo, aos 17, a sua “carreira” nos “soldados da paz” vimaranenses, abraçando de corpo e alma esta “missão”. À conversa com o Mais Guimarães mostra-se orgulhoso do seu percurso.Como é gerir uma corporação de bombeiros?

É o dia a dia. É gerir mais de 100 elementos e toda uma parte de socorro. É muito trabalhoso se queremos ter um corpo de bombeiros bem coeso e bem formado, mas os frutos veem-se à frente como já acontece. Os bombeiros prestam um bom socorro, porque têm uma boa formação e estão bem preparados para o que é necessário prestar à população.

Quais são as maiores dificuldades?

É no voluntariado, porque há uma diminuição.

Portugal perdeu quase um terço dos bombeiros em dez anos. Como está Guimarães?

Portugal perdeu cerca 10.800 em dez anos. Guimarães está incluído nessa listagem. Vai perdendo alguns bombeiros pela idade ou por motivos profissionais e não conseguimos recuperar a saída com outras entradas.

“É preciso ter muita vontade e dedicação, porque queremos ter bombeiros bem formados e preparados”

Ser bombeiro exige muito mais de um voluntário…

Aqui não é um voluntariado comum. É um voluntariado muito exigente. Precisa de ter meio ano disponível para andar em formação e outros seis meses para o estágio. Eles têm de passar por seis módulos de formação aqui (instalações dos Bombeiros Voluntários de Guimarães), que decorre ao fim de semana, num espaço de meio ano, porque é normal durante a semana as pessoas trabalharem. É preciso ter muita vontade e dedicação, porque queremos ter bombeiros bem formados e preparados. É o nosso lema!

Depois de ser bombeiros…

Têm de fazer um piquete noturno por semana, uma parte de um sábado ou domingo de voluntariado e uma vez por mês têm que fazer uma formação em várias áreas, mesmo depois de fazer escola, pois há uma formação continua. Não é voluntariado normal, é um voluntariado, como costumamos aqui a dizer, profissional. Essas exigências hoje, mais que nunca, temos de que as transmitir e dar condições para eles prestarem um bom socorro. Guimarães tem muito socorro e os bombeiros têm de estar bem preparados.

As mulheres têm um papel importante na corporação?

Têm um papel importante. São bombeiras dedicadas e fazem um papel muito importante na instituição.

E quanto aos equipamentos necessários para prestar um bom socorro?

Em março foi-nos atribuído uma viatura que nos fazia muita falta, um autotanque com uma capacidade de 14 mil litros de água, e temos outra viatura que nos fazia falta e vai ser atribuída por parte de um concurso, através de uma candidatura do Governo, que deve estar em fase de encarroçamento. Trata-se de uma viatura florestal. Depois, uma das peças fundamentais que nos faz falta substituir é a escada magirus, que já tem 33 anos e como na vida já está a passar a idade dela, e Guimarães não pode estar sem uma escada. Estamos a falar de números muito altos, 800 mil euros, mas alguém vai ter que ajudar, porque podemos por em risco o socorro no futuro.

De que forma é uma boa notícia a nova Equipa de Sapadores Florestais para Guimarães?

É uma boa notícia. Há uma parte fundamental que é a remoção da vegetação durante o inverno. Há também um conjunto de mais-valias que essa equipa pode fazer. Depois a ajuda que nos podem dar quando arde a sério, porque somos poucos para tanto território. Portanto, são bem-vindos e que o trabalho que possam vir a desempenhar tenha um papel importante na floresta.

Qual é a razão, na maior parte dos casos, para a origem dos incêndios?

Não queria falar em percentagens, mas os incêndios, na maior parte dos casos, têm mão criminosa, porque começam de noite. Não há sol. Sentimos que em abril tivemos muitos incêndios por negligência pelas pessoas que iam fazendo as queimas e que se descontrolaram e passaram para a floresta. No entanto, muitos deles, não tenhamos dúvidas nenhumas, que têm mão criminosa.

“Guimarães tem um bom corpo de bombeiros, que está bem preparado.”

De que forma pode ser feita uma prevenção mais eficaz?

A prevenção têm de ser feita com o ordenamento do território. Vai demorar mais de 30 anos a conseguir o território ordenado. Mas no concelho há um trabalho muito grande a fazer, porque existe as manchas continuas que têm de deixar de existir. Há necessidade de no inverno fazer prevenções de queimas, porque aquilo que não retirarmos da floresta, quer silvas, o mato, ou seja, tudo aquilo que não retiramos vai arder. Por isso, não podemos ter a floresta muito contínua. Temos de ter as manchas de contenção para que os incêndios não prossiga com os ventos. Os incêndios evoluem de uma forma muito rápida e queima muito facilmente muitos hectares. Depois temos o clima, que no nosso país está a mudar. Guimarães teve mais incêndios em abril, que no ano todo. Quer dizer que os verões vão ser maiores e mais quentes. Então temos de pensar se queremos ter floresta e, se queremos, temos de ordenar de matéria que não faz falta à terra. Costumo a dizer: no início de um incêndio com um copo se apaga, passado dois ou três minutos é preciso muita quantidade de água. Há muito trabalho a fazer.

O que significou ser condecorado no dia 24 de junho?

Eu já fui condecorado em 2016 com o crachá da Liga dos Bombeiros Portugueses, que é a mais alta da carreira de um bombeiro, mas esta distinção mexeu comigo. Não sou dado a vaidades, mas tenho o meu orgulho. Senti-me orgulhoso pela Câmara se ter lembrado da minha pessoa, porque tenho dado a este concelho durante os 38 anos. Fiquei muito feliz e contente, mas foi um reconhecimento que fez sentir a mim e o corpo de bombeiros.

A sua família sente a sua falta?

Durante este anos eu dediquei-me mais a esta causa do que há minha família. Nunca abandonei a minha família, mas nestes cargos são 24 horas. Não podemos desligar o telefone. Depois temos muitas representações ao fim de semana que podia dar um passeio com a família. Há muitas horas que são retirada, mas a família também entende, porque quando assumi este cargo foi passada a mensagem e tive o seu consentimento. Nesse aspeto também me faz feliz e ter mais forças para conduzir este barco, porque esta instituição está num bom caminho. Tem um bom corpo de bombeiros que está bem preparado. Foi um trabalho de muitos anos. Hoje, estou muito mais descansado e deito-me sossegado, pois sei que quem está cá sabe o que está a fazer.

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