
por JOÃO TORRINHA
Advogado
Presidente da Assembleia Municipal de Guimarães
Quando eu era miúdo, a palavra “fascismo” ressoava simultaneamente a uma realidade próxima e longínqua. Próxima porque, ali por inícios dos oitenta, era um termo ainda no vocabulário quase do dia a dia. Fosse para falar do “tempo do fascismo” (que tinha terminado ainda há poucos anos atrás) fosse para classificar determinada pessoa, partido ou atitude como fascista, numa época ainda de sentimentos políticos muito radicalizados. Longínqua porque, apesar de tudo, remetia para uma realidade não vivida pelo tal miúdo, que, a esse propósito, só sabia o que lhe contavam.
Passada essa fase, o termo passou a ser usado sobretudo em discussões histórico-políticas a propósito de saber se, cientificamente, fazia sentido aplicá-lo à ditadura portuguesa. Ao jovem que então assistia à polémica não escapava que a mesma era muito mais política do que científica…
Enfim, com o passar dos anos, o termo pareceu remetido em definitivo para os livros de história, como mais uma página negra da humanidade.
Por isso, quem diria que, em 2018, o termo iria voltar a ser tão glosado. Que as erupções fascistas ou fascizantes viessem de tantos sítios em simultâneo e sobretudo dos sítios de onde estão a vir.
Os países da Europa de Leste viveram décadas subjugados a regimes ditatoriais. No dealbar dos anos 90, pudemos assistir à sua transição para a democracia. Impressiona, por isso, que em estado como a Hungria ou a Polónia, floresça a ideologia fascista. Ataques ao poder judicial e à imprensa. Restrição das liberdades individuais e das minorias. E acima de tudo, o medo do próximo, do diferente, que leva às mais arrepiantes políticas, como no casos dos migrantes.
E que dizer da Itália, berço do fascismo, cuja queda deveria ter servido de vacina vitalícia contra o regresso a esses tempos e que, em 2018, transforma um partido xenófobo e racista no mais votado?
Tudo isto para não falar dos Estados Unidos. O “líder do mundo livre” elegeu para Presidente alguém que é capaz de desumanizar os imigrantes ao ponto de separar pais e filhos; que taxa a imprensa de “inimiga do povo”; que mais facilmente se entende com gente como Putin, Duterte ou Kim Jong Un, do que com os dirigentes da União Europeia e do Canadá; que despreza as Nações Unidas; que mistura política com os seus negócios; que promove os seus familiares a altos cargos do Estado; que pensa que tudo gira em torno de si próprio, numa espécie de culto narcísico da personalidade; que não hesita em mentir para melhor manipular os sentimentos mais primários da opinião pública. Tudo isto tresanda a fascismo por todos os lados.qu yydhuehfuede si próprio, o li prtos cargos do Estado. Que ende com gente como Putin, Duterte ou Kim Jong Un, do que com os dbhyyyydhuehfue
Não há muito que possamos fazer contra isto. Em Portugal, felizmente, o ressurgimento do fascismo não é realidade palpável. Mas isto não significa que não devamos estar vigilantes. Não cedendo ao medo irracional daquele que é diferente. Não pactuando com visões xenófobas ou racistas. Elegendo a liberdade de imprensa como um valor essencial da nossa sociedade. Não caindo em messianismos de cunho duvidoso. Enfim, não dando o nosso regime democrático como garantido, antes pensando nele como um processo em permanente construção, mas sempre em risco de ser atacado de fora ou corroído por dentro. Os exemplos que por aí pululam são mais do que suficientes para não baixarmos a guarda.