OS POLÍTICOS NÃO PERCEBEM NADA…

Por Rui Armindo Freitas

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Rui Armindo Freitas,

EconomistaCerca de uma semana passada das eleições europeias, julgo que é já possível fazer uma análise, mais fria e com um pouco mais de distância do que aconteceu no dia 26 de Maio. Facto incontornável do acto eleitoral que passou, é um número avassalador de eleitores que não se dignaram a exercer o seu direito mais básico em democracia, o voto. Assim, inúmeros agentes políticos se apressaram a apontar causas e outros até soluções, alguns comentadores apontaram até sanções a aplicar aos que, em seu entender, prevaricaram por não terem ido depositar o seu voto na urna.

Pois bem, não entender as causas do que se passou, é não perceber nada do que está a mudar na cidadania dos dias de hoje. Os políticos, deste sistema tradicional, passam demasiado tempo fechados em volta de si mesmos. Passam o tempo a discutir o que em seu entender devem ser as prioridades das pessoas, pouco parando para perceber se os seus programas e agendas respondem ou não aos problemas e anseios dos cidadãos.

Os governantes oscilam entre a forma como olham para os cidadãos, ora como contribuintes a quem se pode lançar mais uma taxa, taxinha ou imposto, ora como eleitores a quem se tenta pescar votos acenando com uma descida das mesma taxas e taxinhas e devolução fictícia de rendimento, normalmente com ilusão monetária, de subida de salários nominais, mas disfarçada de uma qualquer forma de apanhar esses euros de volta. A esquerda vai aos poucos percorrendo o seu caminho suave em direcção ao socialismo, demonizando tudo o que é privado, desde as PPPs da saúde aos extintos contratos de associação no ensino. Avalia as PPPs da saúde com um rigor que não avalia o hospitais públicos, porque esses estão ungidos de todo o bem terreno, por serem públicos…A direita perde tempo a discutir uma ideia de Estado que a esquerda vai construído, refém de um discurso que já dado como adquirido, sem nunca mostrar que a sua visão é, ou pelo menos, foi sempre, desde que vivemos em democracia, completamente oposta.

Mais, perde tanto tempo a discutir como afinar este tal Estado, que se esquece que não é o seu, e parece nem se lembrar de qual era verdadeiramente o seu… Entretanto cá fora, os cidadãos desesperam por quem lhes fale, e quem lhes falar, garanto-vos, vai levar votos. Tome-se esta campanha como exemplo, ninguém perdeu grande tempo a discutir Europa, a própria comunicação social também ela em crise, preferiu dar atenção a argumentos nacionais do que aos temas que deveriam dominar a campanha, e julgando também decidir superiormente quais os temas a difundir para consumo dos cidadãos. Entretanto, o debate mais interessante desta campanha foi o dos “pequenos partidos”, que pareciam mais interessados em ser políticos genuínos do que os “grandes partidos”.

Assim se explica que, numas eleições que foram precedidas de uma grande manifestação de jovens pelo clima, em toda a Europa, os partidos de matriz ecologista tenham disparado. Por cá traduziu-se num crescimento, para alguns inesperado, do PAN. Pode parecer coincidência, mas não é. Os pequenos partidos tiveram cerca de 13% dos votos expressos, mostrando que há uma franja do eleitorado que procura outras respostas.

No final o Partido Socialista ganhou estas eleições, o PSD teve o resultado mais baixo da sua história, o CDS viu-se encostado ao PAN, assim como a CDU, e o Bloco teve um resultado a parecer mais do que o que é na realidade. Mas verdadeiramente, nada disto importa, porque a amostra não é representativa, apenas 30% votaram, mostrando que a grande derrota, é a derrota de um sistema político que está em crise, a clamar por uma reforma profunda. E se os partidos tradicionais não perceberam isto, então não perceberam nada do que aconteceu.

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