Peneda, o encontro entre o granito e a alma do lugar

Permanecer na Peneda é fácil, e bom. Partir, só com a promessa de regressar, e em breve.

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A Peneda é um daqueles lugares que nos marcam, para sempre, que nos impressionam à chegada, pela sua beleza, pela singularidade, quietude, pelo tempo que ali demora a passar. Permanecer na Peneda é fácil, e bom. Partir, só com a promessa de regressar, e em breve.

Igreja da Senhora da Peneda o Escadório das Virtudes. © Eliseu Sampaio/Mais Guimarães

Integrada na área do Parque Nacional de Peneda-Gerês, Reserva Mundial da Biosfera da UNESCO, a Peneda é um lugar da freguesia de Gavieira, ficando a 51 km de Arcos de Valdevez (via Mezio), o concelho a que pertence, incluído no distrito de Viana do Castelo.

É pela inabalável fé que ficou conhecido aquele lugar recôndito, quase secreto, onde é invocada há séculos a Senhora da Peneda. Terá tudo começado por volta do ano 716 ou 717, quando os cristãos, fugindo da invasão dos sarracenos, terão ali deixado uma imagem entre as enormes lajes da Serra da Peneda. Diz o povo também, que lá terá aparecido, a 05 de Agosto de 1220, a Virgem, a Nossa Senhora das Neves, a uma pequena pastora. Os episódios que fortaleceram o culto foram-se multiplicando ao longo dos séculos.




Em frente à imponente Igreja mariana encontra-se o escadório das virtudes, datado de 1854, e que inclui estátuas representando a fé, a esperança, a caridade e a glória. Admiráveis. Logo depois vemos escorrer uma alameda com cerca de 300 metros composta por 20 capelas retratando cenas bíblicas da vida de Cristo, intervaladas por mais de três centenas de escadas que vale a pena percorrer, num um exercício de fé. Ao fundo, os olhos focam-se num sumptuoso pilar oferta da rainha Maria I de Portugal, e no pórtico de entrada daquele lugar sagrado, que inclui ao alto a imagem notável de S. Miguel Arcanjo.

Não nos espantemos ao constatar que, durante todo o ano, ali acorrem milhares de crentes, mas é na primeira semana de setembro que a Santa tem a sua romaria, uma das mais concorridas do Alto Minho. À Peneda chegam, carregados de fé, portugueses e galegos, que se juntam em celebração.

“Atrair pessoas para desfrutarem deste paraíso”

Ficamos arrebatados com a paisagem na chegada à Peneda. Imponente e bela é a construção granítica que o homem levantou em lugar tão improvável, brutal a pedra incontrolada que se ergue ali ao lado, cujo negro se destaca, exibindo-se altiva e impermeável. Contrasta tudo isso com a tranquilidade dos dias no vale, onde as pessoas e os animais circulam livremente, onde o verde é permanente, e o rio corre despreocupado e puro.

No vale encontrei o Bernardino, na loja do Penedino, um projeto de turismo local e de natureza. Não demorou mais do que um café a perceber que é um homem de sorriso fácil e tem sonhos. Como tudo fica mais simples, e tudo é possível, para aqueles que têm sonhos.

Bernardino Ramires vive agora entre Braga e a Peneda. Deixou o seu emprego numa multinacional da área da saúde, onde esteve quase três décadas, para criar este projeto de turismo local, de turismo de fruição da natureza, e levar outros a descobrirem este pequeno “paraíso” no Alto Minho. Para Bernardino, a Peneda é um lugar com um “enorme potencial turístico, que simplesmente está adormecido”.

Assim nasceu o Penedino

Penedino. © Eliseu Sampaio/Mais Guimarães

O primeiro investimento, a compra de uma casa em ruínas, aconteceu já em 2003. Entretanto, Bernardino adquiriu outros imóveis abandonados, de locais cansados do afastamento, que partiram para os quatro cantos do mundo, e recuperou-os, preservando-lhes o traçado original e utilizando materiais comuns nas habitações da Peneda: a pedra e a madeira.

Contemplamos nos olhos, quando fala deste projeto seu, uma paixão pela cultura escondida nas montanhas do Parque que pretende mostrar ao mundo. A recuperação da Via Mariana, que nasce a partir do santuário do Sameiro e pretende levar os caminheiros, depois da passagem por Santiago, até à cidade galega de Muxia, numa rota de 372 quilómetros e que une os templos de devoção mariana, passando evidentemente pela Peneda, é mais um motivo para acreditar que o futuro se encarregará de dar vida ao Penedino.

Tendo aberto os alojamentos há pouco mais de um ano, Bernardino conta que a procura tem sido significativa, de portugueses e de estrangeiros, que buscam aquele lugar para relaxarem e desfrutarem da natureza, da calmaria e dos mergulhos nas águas límpidas das lagoas que facilmente encontramos ao longo do rio que serpenteia a serra.

“Muitos procuram a Peneda também pelas caminhadas pelos vários trilhos, devidamente sinalizados e catalogados, que é possível percorrer a partir daqui. Desde os caminhos que ligam os lugares da freguesia da Gavieira, que ditam cerca de 12 km uns dos outros, ou do trilho circular pelo Parque da Peneda – Gerês, de 200km, que leva seis a sete dias a concluir”, acrescenta Bernardino.

As belas paisagens do Parque Peneda-Gerês. © Eliseu Sampaio/Mais Guimarães

Na Peneda, há ainda turistas que chegam para treinaram pela íngreme orla granítica que ladeia o santuário, a Meadinha, preparando-se para as competições, nesta exigente vertente da escalada, e que decorrem sobretudo nos Estados Unidos.

Subir a Meadinha, pelos caminhos milenares, é obrigatório para qualquer visitante da Peneda. Tive o privilégio de o fazer com o Bernardino e a sua mulher, a Maria, médica, que trata com entusiamo este sonho seu, um sonho agora partilhado.

Chegando lá ao alto, conta-me o Bernardino, sobre um dos rituais dos povos da Peneda. “A mulher que lançasse a pedra e esta permanecesse no rochedo que está ali ao centro da albufeira, seria a primeira a casar”.

Permanecemos ali um pouco, em silêncio, olhando em redor, sentindo o assopro, e pensando no quanto difícil terá sido manter viva a chama daquele inóspito lugar.

“As pessoas encontram-se aqui”

Para Bernardino Ramires, a missão do Penedino é permitir que as pessoas aproveitem bem o seu tempo longe dos ruídos da cidade e conheçam a natureza no seu estado mais natural. “Sei que é difícil fugirmos daquele ritmo frenético a que nos habituamos, do trânsito, dos horários, da pressa constante… Mas talvez seja por isso que, quando aqui se deparam com este sossego e tranquilidade, as pessoas se encontrem espiritualmente. Se pensarmos bem, como é possível também que, estando este lugar tão longe de tudo, que tenha mantido ao longo de tantos séculos toda esta procura religiosa. Isto só pode ser explicado pela forte religiosidade que aqui se sente.”

Penedino, turismo rural e de natureza

A atividade da Penedino ocorre atualmente em quatro áreas distintas mas complementares:

Cavalos de raça Garrano passeiam livremente. © Eliseu Sampaio/Mais Guimarães

Alojamento local, em casas devidamente recuperadas e equipadas, onde os hóspedes podem desfrutar de uma agradável estadia (Habitações muito próximas do Santuário e a 15 metros do Rio Peneda e da Lagoa, do Poço da Justiça);

Loja de produtos regionais, junto à escadaria de entrada no santuário, onde é possível degustar e adquirir produtos tradicionais portugueses produzidos organicamente na região, do vinho, enchidos ou biscoitos regionais, terminando com mel, chás ou geleias;

Trilhos pedestres na região, desde o Trilho da Meadinha, da Peneda ao Trilho das Brandas da Gavieira ou do Parque da Peneda-Gerês;

Sistema de geolocalização de animais, inicialmente utilizado para a visualização de animais no seu habitat natural, na serra, mas que agora é usado também pelos produtores de gado locais para perceberem como e onde estão os seus animais.

Bernardino Ramires vive agora entre Braga e a Peneda. Na foto com Eliseu Sampaio.

Mais informações em https://penedino.pt/

Agradecimentos: À amabilidade e simpatia do Bernardino e da Maria. Ao Sr. Adriano Ferreira, exímio contador de histórias vividas pelo mundo, à Tia Maria (de Fátima) que faz uma ótima feijoada, e à D. Adília de Barcelos pelos seus doces do amor. Tudo gente boa. Até breve.




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