Produzir máscaras “não é negócio”
Várias foram as empresas que, em março de 2020, pararam. Viram os negócios estagnados e sentiram necessidade de se transformarem e renovarem a sua montra.
Várias foram as empresas que, em março de 2020, pararam. Viram os negócios estagnados e sentiram necessidade de se transformarem e renovarem a sua montra. Algumas converteram as suas linhas de produção a passaram a criar máscaras, batas, e todo o equipamento médico que era necessário. O próprio Centro Tecnológico das Indústrias do Têxtil e do Vestuário (Citeve) desafiou as empresas do setor têxtil para que produzissem equipamentos de proteção individual.
Joaquim Almeida, fundador e CEO da JF Almeida, diz à Mais Guimarães que, em março de 2020, apanharam um susto. Pensaram “que o mercado ia ter uma quebra brutal”. Uma empresa que se orienta para o têxtil lar e para a exportação.
A empresa teve “anulação de encomendas ou protelação”, mas houve, ainda, uma “quebra de produção também por falta de pessoal”. A pandemia obrigou a que muitos funcionários se vissem obrigados a ficar em casa. Isolamentos profiláticos, quarentenas ou cuidar de outros familiares, fizeram com que se sentisse a falta de pessoal.
Angelino Salazar, fundador da Carcil, uma empresa que se dedica à roupa interior masculina e feminina, vai mais longe. Conta que está a trabalhar com menos 25% das funcionárias. “Na indústria da confeção, a maior parte são mulheres. Os filhos estão em casa, fica tudo em casa”, desabafa. Contou que “98% dos pagamentos que a Segurança Social está a fazer às pessoas que estão a vigiar os filhos são para mulheres. Temos um país machista, que quem vigia os filhos são as mulheres.” A pandemia, acredita, veio mostrar-nos “algumas coisas que não estávamos à espera”.
Carla Augusta, responsável pelo desenvolvimento de produto da António Salgado, partilha da opinião. “O impacto que sentimos mais foi na confeção. Foram para casa não por terem covid, mas para tomar conta dos filhos.”
As máscaras “não iam resolver o problema”
Produzir máscaras foi, segundo Joaquim Almeida, apenas “para resolver um problema da sociedade. Não é negócio.” Admite que foi um investimento muito curto.
Na Carcil acreditaram que “era uma coisa nova, ninguém estava à espera”, motivo pelo qual se adaptaram e, depois de parados, entre março e abril, começaram a produzir máscaras e alguns produtos de proteção. Foram três meses a trabalhar em máscaras certificadas. “Naquela altura pensávamos que ia ser para o futuro, mas passado algum tempo as encomendas começaram a vir outra vez. Vimos que aquilo não ia servir e não ia resolver o problema da indústria têxtil e das confeções.”
“As máscaras vieram numa altura certa.” O teletrabalho, e muitas vezes o ficar em casa, mudou aquilo em que as pessoas gastavam dinheiro. Angelino Salazar exemplifica, “no teletrabalho é evidente que não gastam tanta moda, mas houve um boom muito grande nos pijamas, têxtil lar, roupa para a cama. As pessoas estavam em casa e sentiam que faltavam essas coisas.” Contudo, as pessoas aperceberam-se que a produtividade, em casa e de pijama, não era a mesma, pelo que houve necessidade de “roupa normal”.
Três meses “num impasse”, diz Carla Augusta. Fabricaram máscaras certificadas, mas “o mercado começou a ficar saturado”. Contudo, admite que a faturação foi “quase a mesma do ano anterior”. Conseguiram recuperar e a partir de junho, conseguiram “quase atingir o patamar” pretendido.
O foco na António Salgado é a produção de artigos têxteis para o lar, motivo pela qual Carla acredita que o “mercado está bom. No têxtil lar estamos a trabalhar bem, talvez pelas pessoas passaram mais tempo em casa. Estamos a ter bastante procura.”
“Há muitas encomendas, muito trabalho”
“O nosso Governo esteve bem. Fomos gerindo da melhor forma, com layoff e sempre na esperança de que isto iria passar. Felizmente, a partir de abril, as coisas voltaram ao seu normal a nível de vendas”, conta Joaquim Almeida.
A pandemia, acredita o CEO da JF Almeida, veio mostrar que “na Europa o que resta é Portugal e pouco mais na indústria têxtil”. Angelino Salazar parece concordar. “As grandes marcas, como não podem fazer deslocações para feiras e ver artigos, estão a comprar mais perto. É um dos fatores que está a contribuir para muitas encomendas aqui na Europa. É por isso que há um boom muito grande de encomendas em Portugal.”
Na incerteza do futuro, António Leite, comercial da António Salgado, mostra-se otimista, uma vez que as pessoas aprenderam a valorizar mais as suas casas. “As perspetivas são boas, porque as pessoas passam mais tempo em casa. Dão mais atenção àquelas coisas que fazem falta em casa e começaram a olhar mais para as camas, para os sofás, falta uma manta ali, uma almofada decorativa acolá. O negócio, tendo em conta o panorama geral, tem corrido bem”.
“Pelo menos a dois, três anos, a perspetiva é boa”, garante o empresário têxtil Angelino Salazar. “Mesmo com os problemas todos, 2020 até nem foi um ano muito mau. A maior parte das empresas, a partir de outubro, deixaram de fazer máscaras e começaram a fazer as coleções e aquilo para que estavam vocacionados. Há muitas encomendas, muito trabalho. Pode haver um setor ou outro da indústria têxtil que possa ter menos, mas a maior parte está com trabalho. Aqui temos trabalho até setembro, e ainda vamos no início do ano. Nos outros anos não tinha esta perspetiva de bons negócios. Este ano é um ano bom para o que estamos vocacionados.”
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