Stayaway civismo?

Por José João Torrinha.

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Por José João Torrinha, Advogado e Presidente da Assembleia Municipal de Guimarães Há uns bons anos, fui com uns amigos à Alemanha. Logo no primeiro dia, estávamos todos numa passadeira para peões e uma vez que não se viam carros, lá atravessamos, meio a andar meio a correr. Cumprida a travessia, logo reparamos nas restantes pessoas que estavam ali, paradas, à espera de que o sinal ficasse verde. Todos com um olhar de reprovação na nossa direção. Nunca mais o fizemos. O respeito pelas regras dos alemães inibira o nosso habitual desrespeito por essas mesmas regras.

Este ano, em pleno confinamento, os nossos parques não ficaram logo interditos, mas alguns equipamentos, para evitar serem manuseados por muitas pessoas, foram vedados com uma fita plástica. Pois um dia, estava a correr no parque da cidade desportiva e não estava lá mais ninguém à exceção de uma outra pessoa que fazia uns alongamentos. Apoiado onde? Justamente no único sítio onde não podia: num dos tais equipamentos vedados.

Mais tarde, o próprio parque ficou interdito, mas ainda assim se viam pessoas e quebrar a regra e a correr lá dentro. Uns tempos depois, desta vez na horta pedagógica, foi vedado o acesso a uma ponte de madeira, a qual dava sinais de instabilidade. Pois logo se viram pessoas que, fazendo um esforço considerável, passavam uma perna e depois a outra sobre as vedações para atravessarem a ponte e assim evitar de fazer mais meia dúzia de metros.

Tudo isto para dizer que, enquanto povo, temos ainda muito que evoluir em termos de respeito pelas regras estabelecidas, o que se nota nas pequenas e nas grandes coisas.

Em tempos de pandemia, isto é relevante mais do que nunca. Esse respeito pode ser aquilo que faz a diferença entre um combate eficaz e uma resposta desastrosa ao maldito vírus. E isso passa, antes de mais, por fazermos o esforço de sermos intransigentes connosco próprios no respeito por todas as prescrições que, dia após dia, nos são repetidos. Respeitando o distanciamento social, evitando aglomerações, lavando ou desinfetando as mãos, usando a máscara, enfim, dando o exemplo mesmo quando julgamos que até nem é bem preciso fazer isto ou aquilo. E sobretudo, olhando primeiro para nós próprios antes de começarmos a vociferar contra os outros.

Exemplo de escola disto de que falo é o que se tem passado com a aplicação Stayaway Covid. Apenas cerca de dois milhões a descarregaram. Apenas umas centenas de médicos criaram os respetivos códigos para serem inseridos e apenas uma fração desses foram inseridos pelos utilizadores. Tudo serve para não se fazer o necessário descarregamento: desde aqueles que temem uma espécie de big brother (apesar das garantias dadas de que não há rastreamento, de que é garantido anonimato etc etc), passando pelos preguiçosos que não se dão sequer ao trabalho de perder dois minutos a descarrega-la, até aos meus preferidos: aqueles que dizem que não descarregam porque “isso não serve para nada”, sem perceberam que essa é daquelas profecias que se auto realizam.

Isto de que falo não se resolve com proibições mas antes com a nossa progressiva capacitação de que é mesmo importante seguirmos as regras e cumprirmos com os conselhos das autoridades. Enquanto não mudarmos a nossa maneira de ser a este respeito, vai ser difícil mudar alguma coisa. Na pandemia e sobretudo depois de a pandemia desaparecer.

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