25 de Abril Sempre, pois claro!

Por César Machado.

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Por César Machado.

As comemorações do 25 de Abril têm constituído, em si mesmas, um óptimo sinal da saúde do 25 de Abril e da nossa democracia. Já tivemos de tudo. Terá batido no fundo, mesmo, nos seus 20 anos, em 1994. Mas não só. No auge de uma coisa a que se chamou cavaquismo, a Assembleia da República foi largamente ornamentada com tulipas, cor de laranja, a engalanar a tribuna. Os cravos vermelhos haviam sumido. Nas cerimónias oficiais do Parlamento Regional da Madeira, um deputado da direita local lançou ostensivamente ao chão um cravo, deixado no púlpito pelo deputado que o antecedera. Dias antes, num debate na SIC, um ex-inspector da PIDE, de horrorosa memória, humilhara José Manuel Tengarrinha, com inesperada vontade e à vontade que os tempos permitiam, procurando achincalhar as denúncias de tortura imputadas à força a que pertencera, sempre com um sorriso gerador de instintos de revolta em milhares que assistiram a tão miserável ignomínia. Por sinal, esse torcionário merecera, dias antes, uma pensão atribuída pelo governo pelos elevados serviços que alegadamente prestara à Nação, a mesma pensão que fora solicitada e recusada a Salgueiro Maia, apesar do seu precário estado de saúde de que resultaria a sua precoce morte pouco tempo depois. O primeiro ministro era o mesmo, o que baptizara o ciclo. Um homem a quem nunca se terá ouvido pronunciar, com uma ponta de emoção as palavras “vinte e cinco de abril”. Uma não emoção que se não inveja, de tão triste.

A coisa não ficou por aqui. Uns anos mais tarde, nas cerimónias oficiais do 25 de Abril na Assembleia da República, um vice primeiro ministro chamado Paulo Portas esteve no seu lugar, a bancada reservada ao governo, escondido por detrás de uma gigantesca pilha de processos que foi despachando enquanto os oradores proferiam as suas intervenções. Para ele era um dia de trabalho como outro qualquer. Provavelmente, Portas não estaria a despachar processos comuns numas cerimónias oficiais do dia 10 de Junho. Provavelmente não compreenderá que muitos de nós tenham o dia 25 de Abril no coração, em lugar não menor que o dia 10 de Junho. E se ele não compreende, nós também não conseguimos explicar-lhe.

Felizmente em Guimarães, o 25 de Abril está de boa saúde e recomenda-se. As comemorações promovidas desde há meia dúzia de anos pelo Município de Guimarães, em conjunto com várias Associações Culturais do concelho, traduzem um espaço de liberdade e empenho, compromisso por uma causa comum, que tem trazido momentos maiores da nossa cidadania, honrando a data como deve ser. Desde os debates e reflexões singularmente enriquecedores sobre as temáticas d e cada uma das celebrações, à criação artística nas mais variadas formas, de tudo tem havido exemplos que colocam Guimarães no nível mais alto das comemorações do 25 de Abril feitas pelo país. Seja permitido recordar, de memória, o que a esse propósito escreveu, na sua página do facebook, Henrique Barreto Nunes, respeitadíssimo intelectual da cidade de Braga, quando, acabara de assistir à primeira edição do espectáculo “Os Sons da Liberdade, em 2016, realizado no Centro Cultural Vila Flor –Acabei de assistir à banda sonora da minha vida. Por uma questão cidadã, os bracarenses têm direito a assistir a este magnífico espectáculo que o Teatro Circo lhes deveria proporcionar. As palavras poderão não ter sido exactamente estas e que me perdou o seu autor. Mas era este o sentido. Já agora, na verdade é o país que perde em não pôr os olhos em iniciativas como “Os Sons da Lierdade”. A nossas televisões exibem regularmente espectáculos comemorativos do 25 de Abril que não têm qualquer comparação com o que está a fazer-se em Guimarães, com a nossa gente. E não é o bairrismo a falar, já se deu para esse peditório. É mesmo falta de qualidade de muita coisa que nos é enfiada pelos ecrãs quando, pelo contrário, aqui, em Guimarães, estão a criar-se momentos de alta qualidade, que poderiam e deveriam estar acessíveis a muito mais portugueses. Uma questão a pensar no futuro?

Mesmo no contexto de pandemia e restrições que atravessamos, nem assim se deixa de fazer o que tem de ser feito.Com gosto. Com entrega, “unindo a acção ao sentimento”. Aqui se aplica decididamente o velho princípio:- Comemorações do 25 de Abril? Só há duas maneiras de as fazer:- ou é muito fácil ou é impossível! E tem sido tão fácil!

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