50 anos da Universidade do Minho: Passado, presente e futuro da academia

A Universidade do Minho chegou à marca das cinco décadas. A academia, que esteve para ser instalada nas Caldas das Taipas, acabou dividida por Guimarães e Braga.

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A instituição, que conta neste momento com cerca de 21 mil alunos, tem vindo a afirmar-se no panorama regional e nacional como uma referência no que diz respeito à educação, mas também pelos seus projetos científicos. Uma das principais unidades orgânicas da Universidade do Minho é a Escola de Engenharia, situada no campus de Azurém, em Guimarães, que, entre outros, acolhe o curso de Engenharia Aeroespacial, formação que registou a média mais alta a nível nacional neste ano letivo.

Entre o trajeto feito, o presente da instituição e os seus principais projetos e as projeções para o futuro, a Mais Guimarães esteve à conversa com responsáveis da academia minhota e do município de Guimarães para perceber a realidade da universidade e, de que modo, se podem projetar os seus próximos 50 anos.

Universidade do Minho: Processo de instalação dos polos de Guimarães e Braga

Atualmente, a Universidade do Minho é constituída por dois pólos, repartidos por Guimarães, no campus de Azurém, e por Braga, no campus de Gualtar, mas a verdade é que inicialmente a instituição esteve para ser instalada perto de Caldas das Taipas, onde hoje está situado o Avepark.

A vila termal foi apontada como o melhor local por se encontrar entre as duas cidades mais importantes do distrito (a cerca de sete quilómetros de Guimarães e a 11 de Braga), e porque a empresa contratada para realizar o estudo de implantação entendia que o campus não devia ser localizado num aglomerado urbano, explicou à Mais Guimarães António Xavier, que chegou à presidência da Câmara Municipal de Guimarães, mas antes disso foi o representante de Guimarães na tomada de posse do primeiro pró-reitor da academia, que tinha, na altura, a responsabilidade de instalar, no Minho, a Universidade.

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Entretanto, criou-se uma Comissão Instaladora, presidida pelo pró-reitor da Universidade do Minho e da qual fazia parte Santos Simões. Em Braga defendiam a Universidade na capital do distrito, não aceitando a opção Caldas das Taipas. De acordo com António Xavier, a Comissão Instaladora “começou a ser pressionada politicamente para não aceitar a proposta das Taipas e instalar a academia em Braga.”

Isso resultou numa mudança do parecer da estrutura para que, de facto, fosse instalada a Universidade do Minho em Braga e no “abandono do parecer do trabalho técnico que apontava Taipas como melhor opção”, acrescentou.

Mas Guimarães não atirou a toalha ao chão e procurou também reivindicar a instalação da instituição no seu território, e o povo saiu à rua. O Largo Cónego José Maria Gomes, espaço em frente à Câmara Municipal de Guimarães, acolheu uma manifestação de “repúdio pela decisão de abandonar as Taipas e ir para Braga”, contou António Xavier. Este movimento de resposta à decisão (inicial) da instalação da Universidade do Minho em Braga criou tamanha adesão em Guimarães que as indústrias e o comércio pararam para a população se juntar naquele “ato de revolta”.

Essa manifestação teve voz suficiente para que o Governo tivesse de encontrar uma solução, o que acabou por acontecer: A solução, pacífica na altura, foi dividir a Universidade do Minho em dois pólos: o polo tecnológico em Guimarães e o científico na cidade de Braga.

A decisão foi avante, mas surgiu um novo dilema para Guimarães: os orçamentos direcionados para a criação da Universidade do Minho eram apenas para decisões definitivas, projeto que ainda não estava pronto porque a Câmara Municipal de Guimarães “não tinha, na altura, capacidade financeira”, explicou António Xavier. Com esse desafio pela frente, a família Jordão disponibilizou o Palácio Vila Flor para que a instituição se pudesse instalar e acolher, ainda que de forma provisória, as primeiras aulas. A Câmara Municipal ficou responsável por pequenas obras e trabalhos de limpeza no espaço.

Inauguração do Campus de Azurém foi uma “coroa de glória”

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O município de Guimarães tomou posse do terreno onde atualmente se encontra o campus de Azurém e colocou-o à disposição da Universidade do Minho para construir o edifício, espaço que se mantém até hoje. Para António Xavier, a inauguração do campus de Azurém, cerimónia que se realizou no dia 24 de novembro de 1989, foi “um momento festivo e uma coroa de glória. Lutei por muitas coisas
e esta foi uma das que me orgulho de ter participado, e sinto que está lá parte de mim.”

Além da “luta” pela Universidade do Minho, aquilo que Guimarães tem, e que normalmente só possuem as capitais de distrito, “foi tudo reivindicado nessa época, conseguido nas lutas que Guimarães travou”, explicou o antigo presidente da Câmara Municipal de Guimarães. António Xavier foi presidente da Câmara Municipal em dois mandatos. O primeiro entre 1980 e 1982 e, o segundo, entre 1986 e 1989.

As primeiras aulas na Universidade do Minho arrancaram no dia 17 de dezembro de 1975. Nessa altura, a instituição contava com 240 alunos inscritos em oito cursos. As primeiras aulas a serem lecionadas em Guimarães remontam ao ano letivo 1977/1978, com o curso de Engenharia de Produção – ramo de Transformação de Materiais Plásticos, no Palácio Vila Flor.

Universidade do Minho 50 anos depois

Cinco décadas de história delimita a fronteira entre aquilo que é uma “universidade nova” e uma “universidade madura”, considera Rui Vieira de Castro, reitor da Universidade do Minho. Passada uma marca emblemática para a instituição minhota, a universidade “foi capaz de cumprir com aquilo que eram os objetivos.”

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A Universidade do Minho “contribuiu significativamente para a transformação social e económica da região e do país”

Criada após a queda do Estado Novo, por ação do ministro da Educação José Veiga Simão, um político que era “claramente alinhado
com as tendências modernizadoras do Governo naquele momento e empenhado numa transformação profunda do sistema educativo e de ensino superior em Portugal”, a Universidade do Minho “contribuiu significativamente para a transformação social e económica da região e do país”, frisa Rui Vieira de Castro.

Na vertente social, o reitor da academia destaca que atualmente cerca de 50% da população portuguesa mais jovem esteve ou está no ensino superior, valores muito maiores do que os cerca de 12% de há 50 anos. Este aumento demonstra o “grande potencial de transformação do nível de qualificação da nossa população,” frisa.

O vizelense de 66 anos e antigo estudante da academia minhota considera que, atualmente, a Universidade do Minho “está bem, mas quer estar melhor. Temos a noção de que, tendo feito um bom percurso, podemos melhorar esse trajeto e é nisso que estamos comprometidos.” Em 50 anos, a Universidade do Minho atribuiu mais de cem mil diplomas de grau, entre licenciatura, mestrado e doutoramento. Mas além da vertente de formação, Rui Vieira de Castro destaca o papel da instituição na “promoção do conhecimento científico em diversas áreas” e na “articulação com várias entidades públicas e privadas, como na área da saúde, justiça, educação e economia.”

Uma posição que caracteriza a Universidade do Minho é a grande proximidade, a articulação com a comunidade, as entidades e empresas da região e também nacionais. Essa marca de trabalho “é uma forma de eleição para concretizarmos o nosso projeto institucional.” Para a Universidade se afirmar como uma “força de transformação da economia” pode fazê-lo a partir das “pessoas que qualificamos e graduamos, mas também através do desenvolvimento de iniciativas com as entidades empresariais e do desenvolvimento de projetos, envolvendo-as.”

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Esta ligação entre a Universidade do Minho e o tecido empresarial é “sólida, consolidada e estável, da qual retiram vantagens evidentemente as empresas pela inovação que se consegue assegurar nos produtos e nos processos, mas também a Universidade porque cria contexto para a exploração de novas áreas de investigação”, acrescenta o reitor.

A ligação entre a instituição e as empresas permite também uma “mais fácil inserção das pessoas no mercado de trabalho”, fator que também explica a grande procura dos estudantes pela Universidade. O reitor explica que “os estudantes, quando procuram a Universidade do Minho, sabem que vão encontrar uma instituição que perspetiva a sua formação como um processo contínuo, desde o momento que entram até que ingressam no mercado de trabalho. É obrigação nossa proporcionar não só boas condições para a formação das pessoas, mas também acompanhá-las e preparar o seu percurso profissional.”

O presidente da Escola de Engenharia da Universidade do Minho, Pedro Arezes, considera que a relação entre a instituição e o seu “envolvente” alavanca a academia a nível regional e nacional: “Hoje em dia percebemos que a nossa atividade central é o ensino e depois a investigação, mas ambos são muito alimentados pela nossa relação com o envolvente”, explica.

Em consequência, esta relação (com o exterior) “transforma o nosso ensino. E mesmo as pessoas que queremos cativar para os nossos projetos de ensino, que são os alunos, só nos reconhecem se a relação com a sociedade for boa. É absolutamente essencial estarmos abertos à sociedade e apraz-me também registar que a própria sociedade reconhece esse esforço, o que para nós é muito recompensante.”

Relação entre a Universidade do Minho e os municípios de Guimarães e Braga

Rui Vieira de Castro enaltece a relação entre a instituição minhota e o município de Guimarães, considerando-a “exemplar”. O reitor da instituição está certo de que a academia tem-se “assumido como fator de dinamização nas diversas dimensões de atividade do município de Guimarães”, o que se traduz “em benefícios para o concelho e para a sua população.”

Pedro Arezes crê que a universidade é detentora de um “relacionamento crescente” com os municípios de Guimarães e Braga, mas também outros. Relativamente à Escola de Engenharia, a unidade orgânica possui uma “relação de confiança, de partilha e de compromisso” com a Câmara Municipal de Guimarães: “O município contará sempre com a Escola de Engenharia para as suas iniciativas e obviamente o contrário. A escola tem contado também com a Câmara Municipal sempre que necessita para dar uma ajuda nas suas iniciativas e eventos.”

Apesar do campus de Gualtar, em Braga, ser a sede administrativa da Universidade do Minho, Pedro Arezes considera que os campus estão em pé de igualdade no que diz respeito à importância para a instituição.

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O presidente da Escola de Engenharia afirma que Braga é uma cidade com “uma escala maior e com uma autarquia de dimensão diferente da de Guimarães”, e por isso o relacionamento com a academia é feito “frequentemente”, mas, no entanto, “não há um envolvimento tão próximo como aquele que acontece em Guimarães. Desde logo porque em Guimarães há três escolas, a de engenharia, de arquitetura e de ciências sociais. As outras escolas todas estão em Braga. Em Guimarães há um foco em três escolas e essa proximidade acontece naturalmente”.

A Universidade do Minho “é um dos ativos essenciais, fundamentais e estratégicos para o concelho”

Do lado do município de Guimarães, Domingos Bragança, presidente da Câmara Municipal, considera que a Universidade do Minho “tem sido uma instituição fundamental para Guimarães. É um dos ativos essenciais, fundamentais e estratégicos para o concelho. Foi no passado, é no presente e será no futuro.”

O presidente do município de Guimarães deu conta que “há muita boa memória da instituição minhota”, mas tem os olhos postos no futuro: “Na realização futura teremos de ter mais, que é a plataforma da fábrica do futuro e a supercomputação. Esses são desafios fundamentais que a Universidade do Minho tem para a região do Minho e para o concelho de Guimarães.”

Adelina Paula Pinto, vereadora com o pelouro da Educação na Câmara Municipal de Guimarães, considera que a Universidade do Minho mantém uma “relação umbilical” com a cidade berço. Para Adelina Paula Pinto, nas últimas cinco décadas, “Guimarães tem uma história contada em parceria com a instituição.”

Caracterizando a ligação entre a cidade berço e a academia como um “casamento por amor”, a vereadora vinca que “Guimarães só se assume como uma cidade inovadora e do futuro por ter este polo da Universidade do Minho.”

Adelina Paula Pinto afirma que o concelho tem muito a ganhar com a academia e não se esquece as áreas ligadas à engenharia: “O facto de a Escola de Engenharia ser de topo é muito importante para nós. Na área têxtil fazemos parte da Fibrenamics com a Universidade do Minho, o que leva o nome da instituição e de Guimarães a todo o mundo.”

Além disso, a vereadora elogia a área da Engenharia Civil e da Arquitetura, “importantes na requalificação dos nossos espaços e que permite redesenhar a cidade. Temos aproveitado todas estas mais valias que a Universidade do Minho desenvolve em várias áreas.”

Contudo, Adelina Paula Pinto crê que a instituição também “ganha” com a relação com Guimarães, devido ao seu campus, à Escola de Engenharia “cada vez mais pujante” e à zona de Couros: “Tudo isto acrescenta valor à universidade e a nós enquanto município.”

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Já António Xavier, presidente da Câmara Municipal de Guimarães na altura da inauguração do Campus de Azurém, critica a atual relação da população de Guimarães com a academia: “A população não vive nem acompanha a evolução da Universidade do Minho. Acham que devem ser apenas os poderes públicos que devem participar nesses temas. E Guimarães perdeu esse bairrismo, as gerações mais novas não ligam a essas coisas. Sinto que atualmente o Vitória absorve tudo, embora eu goste muito do Vitória, as pessoas interessam-se e mobilizam-se mais com isso do que com a Universidade, a questão dos Parques Industriais ou outros temas importantes para Guimarães.”

Escola de Engenharia da Universidade do Minho procura afirmação e inovação para responder ao mundo atual

Uma das 12 unidades orgânicas da Universidade do Minho, e das que tem um peso maior em toda a instituição, é a Escola de Engenharia, que se situa no campus de Azurém, em Guimarães. Para o presidente da Escola, a engenharia “é fulcral para o futuro. No mundo em que estamos, com transformações como as transições tecnológicas e a transição climática, e os seus desafios, a Engenharia está presente em praticamente tudo e, portanto, acho que vai ter cada vez mais um papel relevante.”

Prestes a assinalar o seu 50º Aniversário, no próximo ano, a Escola de Engenharia da Universidade do Minho “está pujante e com extrema atividade do ponto de vista da sua interligação com o meio e com a sociedade.” O percurso positivo que a unidade orgânica tem vivido não a impede de ter “algumas maletas”, como explica Pedro Arezes: “Vivemos todos tempos conturbados com estas questões de natureza global, como as crises, e isso faz-nos induzir em momentos de maior ânimo e outros de maior desânimo.”

A Escola de Engenharia da Universidade do Minho conta, atualmente, com sete mil alunos, e está agora focada na consolidação dos seus projetos de ensino. Pedro Arezes aponta que a escola quer “manter o mesmo número de alunos, mas dinamizar os seus cursos. Estes são mais estáveis na licenciatura, “mas temos cursos a aparecer e a desaparecer no mestrado e doutoramento”, explica. Vamos caminhando para aquilo que achamos relevante na nossa atividade.”

Todavia, a Escola de Engenharia está “estável” também noutras áreas, como os projetos e publicações científicas, indicadores “que as instituições também gostam de utilizar.” A área da Engenharia “não é das mais atrativas para os alunos” que entram na licenciatura, por ser uma “formação muito exigente com as matemáticas, física, química, entre outras”, o que “afasta alguns candidatos que têm receio”, explica Pedro Arezes.

Para contrariar esse fator, a Escola de Engenharia “tem de ser mais inovadora, um caminho que vai continuar a fazer”. Apesar disso, a formação exigente “que é necessária vai compensar, porque um engenheiro sente-se capaz (no futuro) se reconhecer que a formação foi completa.”

“Atenta e atualizada na área da Engenharia”, a Escola opta por ser inovadora na sua formação: “A formação não é estática e tentamos trazer inovação nessa vertente. Hoje os nossos cursos não são como os de há dez anos. O ensino que tive há 30 anos está muito longe de ser o que é agora”, afirma Pedro Arezes. Para o responsável da Escola de Engenharia da UMinho, a instituição “tem de repensar a sua oferta educativa sempre a médio ou a longo prazo. Queremos formar pessoas para que possam trabalhar entre os cinco e os próximos 20 anos.”

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“Não podemos ter tudo digital, o mundo é também analógico”

Atualmente, assiste-se à modernização de muitas das indústrias de diversos setores, mudança que permite que haja maior produtividade, mais rentável e eficaz. Pedro Arezes explica que a modernização pode ser feita “não só na transição tecnológica, mas também para tecnologias novas, sustentáveis, e para inovar ao nível dos produtos e serviços que oferecem.

(Hoje) utiliza-se sempre a programação, que há 30 anos era uma caraterística específica da formação de Engenharia Informática. Agora, qualquer Engenharia tem que ter competências de programação porque são as ferramentas atuais”, acrescenta.

Todavia, é necessário haver também um “balanço” nas indústrias atuais. O presidente da Escola de Engenharia da Universidade do Minho realça que “não podemos ter tudo digital, o mundo é também analógico e todos temos um conjunto de bens que não são digitais ou de base tecnológica. Há um balanço que temos de fazer, mas sempre a caminhar para uma economia mais tecnológica, o que na realidade é um movimento que é benéfico e que não precisamos de prever. Basta olhar para as economias mais avançadas onde o processo está uns passos à frente para perceber o mérito dessa transição.”

A ligação entre a Universidade e as empresas

Situada numa região como Guimarães e o Vale do Ave que é caracterizada pela presença da indústria, nomeadamente o têxtil, calçado, cutelaria, entre outras, a Escola de Engenharia tem “uma grande abertura para trabalhar com as empresas”, refere o dirigente da Escola. A Universidade do Minho é, atualmente, a única instituição que disponibiliza o curso de Engenharia Têxtil em todo o país, fator que traduz “a preocupação com a área de Guimarães e sobretudo com o têxtil e calçado.”

No entanto, a atratividade dos alunos é um problema: “Temos percebido que é uma indústria que exige cada vez mais técnicos formados nessa área e com inovação. Mas, por outro lado, oferecemos um curso mas não estamos a conseguir ser muito atrativos para os alunos que nos procuram, e não é fácil lidar com este dilema. Temos capacidade instalada, temos excelentes projetos e temos bons casos de ligação com empresas, mas falta que os alunos nos procurem para essas áreas. Temos alunos em número muito elevado noutras áreas, o que nos deixa confortáveis e orgulhosos, mas gostávamos de ter uma posição mais equilibrada. A Escola de Engenharia tem manifestado essa intenção de estar muito próximo dos anseios da comunidade mais envolvente e de Guimarães em particular”, frisa Pedro Arezes.

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A fixação dos estudantes da Universidade do Minho em empresas da proximidade “é uma combinação positiva e benéfica para a instituição”. No entanto, a academia minhota não tem nenhuma estratégia em particular para fixar os seus alunos, não os limitando no seu local de trabalho.

Pedro Arezes vê a saída dos estudantes para o estrangeiro, nomeadamente da área da Engenharia, como uma forma de valorização do ensino em Portugal: “Isso é um indicador claro da qualidade da nossa formação. Os nossos engenheiros acabam por ter carreiras de sucesso dentro de multinacionais, mas também acontece noutras áreas. A formação académica em Portugal tem um nível de elevada qualidade. O perfil dos nossos ex-alunos que fazem um percurso de muito sucesso no estrangeiro é que pelo menos a meio da carreira eles voltam, principalmente quando têm filhos. Quando voltam, trazem a mala cheia de experiência. E eu vejo isso, no caso da Engenharia, como positivo. É óbvio que não gostava de ver um cenário em que todos os nossos ex-alunos vão para o estrangeiro, acho que nunca acontecerá. Mas se as empresas estão ocupadas por licenciados que são formados nas universidades públicas, e se há alguns que procuram melhores vidas e carreiras, não vejo problema nenhum nisso.”

A Engenharia Aeroespacial

Atualmente, uma das principais apostas da Universidade do Minho é feita na área da Engenharia Aeroespacial. Depois da licenciatura
na área estar aberta há poucos anos, a instituição espera agora dar mais um passo em frente com a implementação do “Space Hub” em Guimarães, mais especificamente nas instalações da Antiga Fábrica do Arquinho.

O futuro pólo tecnológico contará com um investimento de 10 a 12 milhões de euros, de apoio financeiro proveniente do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) ou do Portugal 2030, e deverá estar pronto em 2027. O espaço surgirá através de uma parceria entre a Universidade do Minho, do município de Guimarães e do Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto (CEiiA).

O reitor da academia minhota considera que o “Guimarães Space Hub” será “um pilar fundamental para o desenvolvimento da nossa atividade nesta área.” Rui Vieira de Castro espera ainda que, com a criação desse espaço, “decorra o aumento da capacidade de atração do município de Guimarães para outras empresas que operam neste setor. A qualificação de pessoas e o desenvolvimento de investigação na área são os fatores mais importantes para que possamos construir um Hub empresarial em torno desta área de atividade.”

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A licenciatura em Engenharia Aeroespacial da Universidade do Minho foi, neste ano letivo, o curso com a maior média a nível nacional. Numa lista de vagas com 31 estudantes, o último colocado registou uma média de 18,8 valores. Este fator, que cimenta a instituição minhota como uma universidade de referência, deixa a academia “muito orgulhosa” expressa Rui Vieira de Castro.

“Isso deixa-nos descansados, porque significa o cumprimento de um requisito fundamental, que é a afirmação de uma área de formação que depende sempre de pessoas qualificadas e de uma procura qualificada. Esta procura foi verificada com a nota mínima a ser a mais alta no curso de Engenharia Aeroespacial em Guimarães por um estudante que é da região, o que é um excelente sinal acerca da viabilidade de um projeto muito ambicioso que a universidade partilha com Guimarães”, aponta.

Outro dos projetos recentemente implementados em Guimarães foi o “Deucalion”, um supercomputador de 26 toneladas que contou com um investimento de 20 milhões de euros e que acabou por ser instalado no campus de Azurém da Universidade do Minho, depois de ter sido anunciado para o Avepark.

O “Deucalion” integra a rede europeia de computação e, apesar de estar nas instalações da academia, servirá de apoio para várias estruturas de investigação, estabelecimentos de ensino e de investigação e empresas nacionais e internacionais. Capaz de executar 10 milhões de biliões de cálculos por segundo, o supercomputador tem como objetivo acelerar a produção de ciência e inovação de excelência em Portugal em diversos domínios, nomeadamente na inteligência artificial, medicina personalizada, design de fármacos e novos materiais, observação da terra e oceanos, combate às alterações climáticas e fogos, criação de smart cities, ordenamento do território, ou mobilidade e veículos.

A instalação do “Deucalion” em Guimarães traduz um “compromisso” da Universidade do Minho, explica o reitor da academia: “Enquanto Universidade, temos o desígnio de olharmos para nós e para a região, mas também de olharmos para mais. A instalação do supercomputador no campus de Azurém traduz esse compromisso: há uma oportunidade de capacitação do sistema de computação avançada português no quadro europeu e a Universidade do Minho disponibilizou-se para esse fim. Esteve fortemente envolvida no processo, que foi longo e com várias atribulações, mas hoje temos a funcionar em Guimarães um supercomputador que é uma peça da rede de computação avançada europeia, abrindo novas possibilidades à comunidade científica e empresarial.”

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Já para Pedro Arezes, presidente da Escola de Engenharia da Universidade do Minho, a instalação do “Deucalion” no campus de Azurém “tem uma importância desde logo simbólica, porque é uma estrutura de computação nacional”. Já do ponto de vista prático, o dirigente da Escola que se situa em Guimarães, lembra que o acesso “será potencialmente igual” para todas as entidades.

Apesar disso, a academia beneficia pelo desenvolvimento de “outras competências ligadas à parte técnica e da formação. O nosso departamento de informática tem um trabalho pioneiro e avançado nesta área e, por isso, esta proximidade é muito bem-vinda para a Escola de Engenharia.”

Além disso, o Avepark, na freguesia de Barco, acolhe, desde janeiro deste ano, o TERM RES-HUB – Instituto Cidade de Guimarães, uma
infraestrutura científica que pertence à unidade orgânica do I3B´s e que se dedica à Engenharia de Tecidos e Medicina Regenerativa, nomeadamente em métodos inovadores aplicados na prevenção e tratamento de doenças músculo-esqueléticas, neurodegenerativas e cardiovasculares.

Este projeto resultou de um investimento total de 10,8 milhões de euros, financiados pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). O edifício tem ainda um apoio de 1,25 milhões de euros do município de Guimarães.

“O crescimento da Universidade do Minho nunca foi refletido no financiamento público que lhe é destinado”

Na cerimónia da celebração dos 50 anos da academia, Rui Vieira de Castro elencou alguns desafios, nomeadamente ao nível do subfinanciamento público e da falta de resposta no alojamento. O reitor da Universidade do Minho considera que a instituição “tem sido paulatinamente penalizada por esse financiamento: Se o sistema de ensino superior é subfinanciado, a Universidade do Minho é duplamente subfinanciada, porque não está a ser financiada nos mesmos moldes que outras instituições são. E não está porque todo o crescimento da Universidade do Minho nunca foi refletido no financiamento público que lhe é destinado e devido do nosso ponto de vista.”

“Por efeito destas dificuldades, (a instituição) `vê-se muito limitada na sua capacidade de interferir no alojamento dos estudantes”, explica o reitor. Para Rui Vieira de Castro, a academia minhota tem um parque residencial “interessante em termos do número de camas, cerca de 1.400, mas temos uma comunidade de bolseiros que se aproxima dos 6.000 e a nossa resposta à necessidade desses estudantes é baixa.” Com o mundo atual a assistir ao crescimento dos preços das rendas e da habitação, a questão do alojamento no ensino superior tornou-se “crítica como fator de abandono”, destaca o reitor.

© Leonardo Pereira/ Mais Guimarães

Neste momento, a Universidade tem dois projetos residenciais em curso: A requalificação da antiga escola de Stª Luzia, em Guimarães, que será lançada a concurso brevemente, e da antiga fábrica Confiança, em Braga. Rui Vieira de Castro prevê que, em 2025, a Universidade esteja “em muito melhores condições para responder à procura do alojamento por parte dos estudantes.”  Pedro Arezes, da Escola de Engenharia da Universidade do Minho, sente-se inconformado: “Diria que estamos insatisfeitos, o que é bom por nos fazer esforçar-nos por mais.”

Relativamente aos desafios, o presidente desta unidade orgânica frisa que “os obstáculos que nos impedem de avançar são os mesmos da sociedade em geral, como os ciclos de financiamento, crises económicas, como o período da troika que teve efeitos muito críticos na Universidade, com desânimo e um forte desinvestimento na ciência. “Mas o maior obstáculo é percebermos se somos na realidade acarinhados por quem toma decisões no país. As universidades dependem muito que os governos reconheçam que temos esse papel. O investimento nas instituições de ensino superior e na ciência tem de ser feito para o bem do país.”

As próximas cinco décadas da Universidade do Minho projetadas com “realismo” e com uma “introspetiva ao caminho feito”

O reitor da Universidade do Minho dá conta que o futuro da academia “vai depender da sua capacidade de manter a preocupação e objetivo de consolidação das redes de relações (com a comunidade e entidades dos diversos setores). Certamente que o vai conseguir.”

Para se tornar cada vez melhor, a instituição “tem que ser ainda mais ousada na área da investigação, tem que aspirar a ser uma Universidade com os níveis de desempenho de referência na Europa e tem de reforçar as suas apostas na internacionalização.” Se a Universidade do Minho seguir estes passos, Rui Vieira de Castro confia num “futuro de elevada qualidade, porque as pessoas que formamos continuarão a ser profissionais e seremos capazes de atuar em permanência com fatores de desenvolvimento social, económico e cultural.”

Contudo, projetar um futuro para a academia tão distante como a cinco décadas, que será alcançado apenas em 2074, deve ser feito “com realismo e olhando para o percurso que foi feito até ao momento onde nos encontramos”, trajeto que ajuda a “perspetivar
esse mesmo futuro”.

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O reitor da instituição destaca que a Universidade do Minho “foi capaz de contrariar todas as forças que, de alguma forma, se opunham à sua consolidação” e acrescenta que conseguiu “confiar em si para afirmar a sua relevância, tornando-se numa instituição preponderante na região e no país. Esta lição permite continuar a antecipar um futuro risonho para a instituição.”

“Se a universidade não se reinventar, sabemos que acaba por morrer.”

O presidente da Escola de Engenharia da Universidade do Minho prevê, para as instituições de ensino superior nacionais, “uma maior transformação nos próximos 50 anos, do que aquela que sofreram nos 50 anos passados. A Universidade existe há muitos anos e é tendencialmente conservadora, mas o mundo transforma-se de tal forma que o conservadorismo tem de ser quebrado. Se a Universidade não se reinventar, sabemos que acaba por morrer. Eu quero que a universidade se transforme e estou certo de que os alunos e colegas também querem.”

Convicto de que a academia minhota terá, naturalmente, de alterar a sua forma de trabalho face aos diferentes contextos do mundo atual, o presidente da Escola de Engenharia acredita que, daqui a 100 anos, a Universidade do Minho “será uma instituição de topo ou cada vez mais de topo nos rankings. Será também uma universidade diferente, mais moderna, com certeza.”

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