Subir as escadas da sede, no final dos anos 90, significava entrar numa atmosfera de dialética política, de palavra, de compromisso genuíno com a causa pública, de sorrisos francos e de abraços solidários – que se davam apenas com o olhar a quem se sentava à frente, atrás, à direita ou à esquerda do nosso lado, na cadeira.

Nesta escola partidária, a formação de novos políticos era feita de forma natural, sem recurso a manuais elitistas, de difícil acesso ou de cariz filosófico. A experiência dos mais velhos era partilhada em tertúlias sem hora marcada, mas que permitiam aos autarcas mais novos tirar dúvidas que importunam, obter esclarecimentos que aliviam, mas sobretudo sentirem-se verdadeiramente integrados e apoiados.

Esta política de proximidade e de acompanhamento político contagiava de tal forma que a chama do entusiasmo e a vontade de estar presente não esmorecia com facilidade. Acima de tudo, sentiam que faziam parte da família e que o PS, afinal de contas, não se lembrava dos seus eleitos ou dos candidatos que não venciam, somente de quatro em quatro anos para serem submetidos a novas eleições.

O que reinava era o humanismo e a humildade política, dentro da pluralidade de opiniões e de perspetivas divergentes, mas assertivas, sempre necessárias e indispensáveis para o crescimento de uma organização.

Muitos dos atuais protagonistas políticos e de candidatos a candidatos não terão tido a oportunidade de conhecer esta escola. E hoje, por estarem eventualmente mais interessados na tática do que na prática, até poderão achar estranho ter sido possível tal convivência…

Não é importante termos memória. É fundamental e determinante! Pois foi essa atitude que permitiu a António Magalhães governar 24 anos e a Domingos Bragança mais 12. Muito brevemente, em 2025, completar-se-ão 36 anos de poder socialista em Santa Clara – uma idade adulta e mais do que madura para se fazer uma análise crítica, mas construtiva do que podem ser os próximos anos.

As pessoas, o cidadão comum, os vimaranenses, não querem saber das tricas partidárias, das birras inúteis e dos azedumes cultivados. Os pormenores, o teor das “estórias” e a maioria dos folhetins novelescos são desconhecidos por parte do público em geral. Agradecem, até, não saber! Muito antes disso, querem ver resolvidos os seus problemas, grandes ou pequenos, em detrimento de jogos de xadrez, disputados ao ritmo de algumas… peças!

Mais do que nunca, o homem político tem de continuar a ser alguém que vive, que trabalha, que sofre, que tem alegrias e tristezas, que não coloca qualquer cargo à frente de convicções, mas que se interessa pelo concelho que o rodeia e entende que, na verdade, um seu cidadão, por estar próximo de si, faz realisticamente parte de um todo, de maneira a resolver-se uma dificuldade “hoje” e não “ontem”.

Nessa altura, a política contemporânea, alicerçada numa visão humanista de construção coletiva, deixará de ser somente razão para ser emoção nas recordações de tantos munícipes que olham para a sua cidade e para o seu concelho e que não o querem reconhecer por se ter perdido nos enredos partidários de quem não teve sensibilidade e habilidade política, nem tão pouco soube preservar as memórias, a alma, a vida e o sentir de tantas gerações.

PS:. Páscoa, originária do termo hebraico “Pessach”, significa passagem. Do presente para o futuro. A sua comemoração é um reflexo de renovação da natureza e da celebração do renascimento. Para fazer do Mundo um lugar melhor.

Uma Feliz Páscoa para todos!