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Por César Teixeira.
Por César Teixeira.
Há uns dias atrás, um reconhecido programa matinal de uma conhecida rádio nacional lançou uma pergunta aos seus ouvintes: “que professor foi mais o marcou na sua vida”? E desafiou os ouvintes. A apresentarem respostas e a fundamentarem as mesmas.
Estava eu, então, a caminho de uma diligência profissional. Ato contínuo, comecei a refletir sobre o tema. De forma reflexa fui imediatamente assaltado por recordações das professoras que me deram aulas na então escola primária. Que muito contribuíram para a minha instrução. Mas também para a formação da pessoa que hoje sou.
Recordei-me, por exemplo, de um livro de banda desenhada que me foi oferecido: “Asterix na Hispânia”. Ainda hoje o guardo. Religiosamente. Agora acompanhado pelos restantes livros da coleção que, amiudes vezes, revisito. Sempre com algo de novo a ser descoberto. Um livro que me despertou a atenção para a História.
Ao longo do nosso processo de instrução fomos tendo dezenas de professores. No ensino básico. No ensino secundário. E, depois, na Universidade. Mas, confrontado com a pergunta que serve de mote a esta crónica, o facto é que o meu pensamento foi instintivamente conduzido para as recordações da antiga escola primária. Apesar de mais afastadas no tempo, as memórias do professor primário perduram. Das suas características. Das suas virtudes. De casos concretos vivenciados Até dos seus defeitos, nos lembramos.
Fiquei curioso. Qual seria a sensibilidade do auditório? Seria similar à minha? Que respostas seriam apresentadas? Não tardaram os comentários. Felizmente, a distância a que ficava o meu destino foi cúmplice da minha curiosidade. Na sua imensa generalidade lá foram os ouvintes identificando: o/a Professor/a da Primária. Referenciando casos concretos. Expondo vivências. Partilhando memórias. Quem diria que um simples clicar numa estação de rádio a caminho de uma diligência, permitir-me-ia despertar este pensamento e dar o mote a uma crónica?
São realmente anos únicos. Decisivos e fundamentais para a nossa formação. A diversos níveis. De forma nostálgica, recordei as festas de natal e de fim de ano. Os passeios escolares. Lembrei-me, a este propósito, de um episódio marcante. Um colega que, no passeio da primeira classe iria ver, e viu efetivamente, o mar. Pela primeira vez e graças à escola. Não me esqueci daquele momento. Da sua reação. Os seus olhos ficaram presos na imensidão do mar.
Hoje, felizmente, a situação social e económica de Portugal é substancialmente diferente. Mas, hoje, as crianças e os professores debatem-se com os efeitos perniciosos de uma pandemia. Que teima em continuar a sê-lo. Hoje os meninos que frequentam o ensino primário conhecem limitações inimagináveis. Que vão deixar omissões na respetiva memória face às memórias vivenciadas por outras gerações. Crianças que ficaram privadas das festas que as escolas organizam. Que muitas vezes permitem o primeiro contacto com a cultura e a revelação inicial de talentos ocultos. Crianças a festejaram o carnaval através das plataformas informáticas. Crianças que perderam passeios escolares. Que saltaram meras festas de aniversário.
O professor primário é, para além da componente instrutória, um verdadeiro construtor de memórias. E, no atual contexto, o professor primário tem procurado reinventar a forma como constrói as memórias das crianças. Um professor primário que marca é aquele que consegue incutir confiança. Que consegue descobrir nas crianças as respetivas potencialidades. As suas vocações. Muitas vezes escondidas. Que dá asas e não as corta. Que tal como a estaca que ampara a árvore mais franzina, se disponibiliza para ser um suporte em momentos de maior fragilidade.
Ao longo do nosso processo de instrução temos poucos como o professor primário. Desde logo porque é único e exclusivo. Não partilhado. É da nossa turma. Nos ciclos seguintes já não estaremos com o “nosso professor”, mas com um dos nossos professores.
Salvo honrosas exceções que confirmam a regra, a pandemia demonstrou a essencialidade dos professores na nossa sociedade. Posso dizê-lo por experiência própria e daquilo que hoje perceciono. Pelo que tenho vivenciado e assistido nestes tempos diferentes. Agora na condição de Pai. Assisti a uma impressionante capacidade de adaptação aos novos tempos. De preenchimento da velha substância, embora em novas formas.
Numa altura em que Portugal vive um verdadeiro inverno demográfico, a escola assume-se como essencial. Na vertente da instrução. Mas também na componente da socialização das crianças. Famílias mais pequenas. Muitas vezes filhos únicos e com poucos primos para brincar. Avós com menos tempo. Ausência das brincadeiras de rua que outrora havia. Hoje as crianças socializam, essencialmente, na escola.
É certo que nem tudo será perfeito. Não escondo desconforto para com a tendência dos programas escolares de propagandearem a dita igualdade de género. Mas nunca é demais efetuar a apologia da escola. E prestar a minha sincera e sentida homenagem aos professores. De todos os graus. Foquei-me no professor primário pelo acaso acima referido. Mas a pandemia evidenciou a todos o relevo do professor na nossa sociedade. Os verdadeiros influenciadores.
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