CRISTÃOS E PRESIDENCIAIS
CARLOS VASCONCELOS Advogado
por CARLOS VASCONCELOS
Advogado
1 – “… e são cristãos”. A expressão foi proferida pela nova ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, e foi proferida no momento da chegada a Portugal, na semana passada, de um grupo de dez refugiados.
A ideia subjacente à expressão proferida é, como não poderia deixar de ser, uma manifestação da mais genuína tolerância e espírito humanitário …
Ironias à parte, num momento em que se discute na Europa a necessidade de tratar o problema dos refugiados com muito mais empenho político e num momento em se assistem a esforços notáveis por parte da Igreja Católica no sentido da promoção do diálogo inter-religioso e da promoção do apoio aos refugiados, independentemente da sua religião (vejam-se as posições tomadas ao mais alto nível pelo Papa Francisco e as recentes posições da Conferência Episcocal Portuguesa), as declarações da ministra da Administração Interna correspondem a declarações que, sobretudo neste momento, não podem ser feitas por uma ministra de um governo de um Estado como o português, com a sua história e o seu património cultural. É certo que foi em resposta a insistentes perguntas dos jornalistas sobre quem eram os refugiados. Todavia, é sabido que, mesmos neste tipo de situações, os ministros só dizem o que querem dizer …
2 – Quando voltar a escrever neste espaço, já terão ocorrido as eleições presidenciais. Por isso, o tratamento deste tema com esta antecedência. Vou direto ao assunto: nas próximas eleições presidenciais, os portugueses vão escolher entre um Presidente para o país ou um Presidente para uma área política. Se a opção recair sobre a primeira hipótese, votarão em Marcelo Rebelo de Sousa. Se a opção recair sobre a segunda hipótese, votarão em qualquer um dos outros candidatos. A ideia não é defendida gratuitamente, mas assenta naquele que tem sido o comportamento dos candidatos: Marcelo Rebelo de Sousa, por um lado, a afirmar-se independentemente das interpelações pouco lúcidas daqueles que, oriundos da sua base natural de apoio, o tentam amarrar a compromissos mais próprios dos partidos do que de Presidentes da República; e, por outro lado, Sampaio da Nóvoa a fazer um discurso de fação e a ter uma prática de fação (recorde-se a sua participação em eventos partidários, mesmo após o anúncio da sua candidatura); e Maria de Belém a dar um golpe decisivo na sua candidatura e a reduzi-la, quando tinha tudo para ser abrangente, quando afirmou que, numa segunda volta, provavelmente votaria em Sampaio da Nóvoa.
Com uma situação política sem precedentes e com posições extremadas, o país precisa de um Presidente da República com capacidade para estabelecer pontes e não com propensão para as deitar abaixo.
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