Caso Marega: Uma página negra na experiência de filosofar

Por Eliseu Sampaio.

Eliseu sampaio

Por Eliseu Sampaio,
Diretor do grupo Mais GuimarãesFilosofar é, literalmente, manifestar amor à sabedoria, o estudo de questões gerais e fundamentais sobre a existência humana, uma experiência só possível ao ser consciente de sua própria ignorância. É, tenho para mim, o desafio maior da vida, o de lidar com a dúvida e a incerteza, este esforço individual de compreender-se e compreender o universo.

É a investigação do mundo real nas suas várias dimensões, ultrapassando a opinião irrefletida do senso comum e o que vai para além da realidade empírica e das aparências. Exige, portanto, dedicação, aprofundamento, reflexão, e a consequente validação.

Filosofar é, no fim de contas, pôr em questão.

No final de semana fomos surpreendidos com a notícia de que, num dos livros escolares de Filosofia do 10º ano da Porto Editora, o “Ágora”, é abordado o “Caso Marega” e é ali transcrito o posicionamento ético levado a cabo por Bento Rodrigues, pivot do telejornal que, com um “discurso inspirador” relatou em fevereiro de 2020 os factos ocorridos no D. Afonso Henriques, condenando os insultos racistas de que o jogador Marega foi alvo no D. Afonso Henriques.

Bem, filosofar é investigar pensando, e recolher dados, premissas, questionando-as uma por uma.

Bento Rodrigues, a quente, sem tempo de avaliação posicionou-se nessa noite perante os “não aceitáveis” acontecimentos.

Mas, dois anos e meio depois, com todo o tempo do mundo para uma avaliação mais coerente dos acontecimentos, depois do caso ter corrido nos tribunais e o Vitória SC ter sido absolvido de qualquer responsabilidade, de três adeptos terem sido obrigados a pedir desculpas ao jogador e a terem de pagar três mil euros ao Estado. Depois de todos os relatos e imagens de comportamentos indisciplinados também do jogador, instigando adeptos em Guimarães, no Porto ou na Madeira, e também de outros casos, bem mais recentes, de manifestações de racismo no desporto em Portugal, os autores do livro conseguiram ressuscitar esta história, que estava já enterrada, e contando-a apenas parcialmente.

A Porto Editora vai retirar, e bem, a página dos seus livros, depois das manifestações de descontentamento dos vitorianos e vimaranenses. Foi uma página negra na arte de filosofar.

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