“Guimarães tem o melhor vinho verde de Portugal”
Artigo publicado na edição de outubro da revista Mais Guimarães.

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De Guimarães saem para o mercado alguns dos mais galardoados vinhos verdes nacionais. Assumindo-se cada vez mais como uma região líder no mercado, os sabores de Guimarães ultrapassam fronteiras e têm surpreendido amantes de vinho por todo o mundo.

As vindimas, este mês realizadas, um pouco por todas as regiões do país, revelam um ano exigente, mas do qual resultará um vinho de elevada qualidade.
Isso mesmo confirma a Adega Cooperativa de Guimarães, que, ao auscultar os seus cerca de 100 sócios praticantes, assegura “produções acima do ano passado”.
Sequeira Braga, presidente da Adega Cooperativa de Guimarães, enaltece o papel desenvolvido na projeção do bom nome da cidade no que aos vinhos brancos diz respeito, além do apoio aos pequenos produtores.
A Adega Cooperativa permite, atualmente, aos seus associados, assegurar todo o processo de produção do vinho pós-colheita. “Damos apoio técnico na plantação das vinhas, nas candidaturas a apoios comunitários, bem como na exploração da vinha e tarefas inerentes à mesma”, começou por explicar.
Depois das vindimas feitas, os sócios entregam as suas uvas, que são remuneradas pela Cooperativa, e que servem de matéria-prima para os vinhos comercializados com as várias marcas da Adega Cooperativa de Guimarães.
“Temos o nosso vinho atualmente no Japão, Estónia, Brasil, Polónia, Alemanha, França, República Dominicana, Holanda, entre outros países, além do mercado português”, aclarou Sequeira Braga.
Valle Três Irmãos: “Conciliar a tradição com a modernidade”
Da Quinta da Aveleira, em Penselo, Guimarães, nascem vinhos verdes que espelham o que de melhor se faz na região.

A marca Valle Três Irmãos apenas está no seu quarto ano de colheita, mas assume-se como um “projeto em crescimento”, assente na capacidade produtiva da quinta. Liderado por Bernardo Brito e os seus outros dois irmãos, o nome surgiu como uma homenagem aos seus pais.
Dos três hectares de vinha plantada, na sua maioria com castas de loureiro e arinto, são colhidas cerca de 10 toneladas de uva. Na Quinta da Aveleira, os momentos de vindima são sempre especiais e tenta-se sempre “conciliar a tradição com a modernidade”.
“Mantemos as vinhas de ramada, que é algo tradicional, assim como a apanha de escadote. Não é tão rentável e em termos de mão de obra é bastante mais difícil, uma vez que hoje em dia há menos pessoas que estão à vontade para este tipo de trabalho”, destacou Bernardo Brito.
Visivelmente satisfeito pela forma como correu a vindima deste ano, até porque “ninguém se magoou (que é o mais importante)”, o responsável conta ainda que houve lugar para os tradicionais lanches e almoços para que os trabalhadores possam manter vivo o convívio.
Na vindima estiveram envolvidas cerca de uma dezena de pessoas, mas o processo está longe de estar concluído.
Aquilo que agora se iniciou neste mês de setembro culmina com o engarrafamento, que só deverá ser realizado depois de fevereiro. Apesar do verão seco que vivemos, o produtor acredita que a qualidade não será afetada.

“Nesta região particular dos vinhos verdes, creio que, de uma maneira geral, a qualidade é superior, pelo menos, à do ano passado”, garantiu.
As previsões de chuva em setembro atrasaram ligeiramente a vindima, para que “a própria uva tivesse uma maturação mais avançada de forma a retirar as suas melhores características”, acrescenta.
Embora o vinho branco seja o ex-líbris, na quinta são ainda produzidos, em menor quantidade, vinho tinto e rosé. No ano de estreia, alcançaram a medalha de prata no concurso internacional Mundu Vinis. No ano passado, voltaram a ser galardoados com a mesma medalha, desta vez num concurso nacional.
“Mantemos a nossa ótica dos concursos vocacionados para o exterior porque é aí que queremos posicionar o nosso vinho. É uma maneira de as pessoas viajarem até Guimarães por uma garrafa”, finalizou.
Quinta dos Encados: “A uva da Penha e de Guimarães é excelente”
Também na Quinta dos Encados os vinhos verdes merecem toda a atenção. Loureiro e arinto são as castas predominantes, mas também há espaço para a trajadura. Visitamos a quinta localizada na encosta da Penha numa soalheira manhã de outono, a primeira manhã de vindimas.

De mangas arregaçadas, 25 homens e mulheres distribuíam-se pelas vides para a colheita da uva, num total de oito hectares. Trata-se de um trabalho árduo e a verdade é que nem sempre é fácil cativar as gerações mais novas.
“São pessoas com um amor à terra inacreditável, mas a média de idades é de 50 a 60 anos. Da minha parte, tento transmitir esta paixão à minha família, mas não é fácil porque todos têm as suas profissões”, explicou Rui Carvalho de Azevedo, acrescentando que “o orgulho provém das medalhas recebidas”.
O produtor assegura que as previsões para este ano são as melhores. “Na região demarcada pelos vinhos verdes, a previsão é que teremos um aumento de pelos menos 30% de vinho verde, ao contrário das outras regiões em que há quebras de 40%”, explicou o responsável.
“Esta colheita, que será lançada em 2023, em toda esta região, vai ser um grande êxito”, garantiu.
Com a sua adega localizada em Amarante, esta foi precisamente uma das últimas quintas da região a iniciar a vindima, a 03 de outubro.

Também na Quinta dos Encados a seca não representou um efeito negativo. A abundância em água e as últimas chuvas permitiam obter a maturação lenta desejada, que também é propiciada pelo próprio terreno virado a sul.
Destacando que “a uva da Penha e de Guimarães é excelente”, diz não ter dúvidas que “Guimarães tem o melhor vinho verde de Portugal”.
Atualmente, a produção é de 25 mil garrafas anuais de vinho verde grande escolha e loureiro monocasta, que têm sido alvo de vários prémios.
A Quinta dos Encados arrecadou, no ano passado, o prémio de melhor vinho verde loureiro de Portugal, pela Comissão de Vinicultores da Região de Vinho Verde e também o concurso mundial de Bruxelas 2022, com medalha de ouro.
Casa de Sezim: “2023 será um ano de vinho fantástico”
A produção de vinhos verdes também faz parte da tradição da Casa de Sezim desde o século XIV. Com uma duração de cerca de três semanas, a vindima aconteceu durante o mês de setembro e reuniu cerca de 30 pessoas, que realizaram a colheita nos cerca de 32 hectares da quinta. Mais uma vez, a tradição une-se à modernidade para a produção de vinhos cuja excelência é reconhecida.

Paulo Mendes, responsável pelo processo de vindima, explicou à Mais Guimarães que o objetivo passa sempre pela “produção de uvas de qualidade”, que garantem a continuação do reconhecimento dos seus vinhos.
O palmarés da Casa de Sezim é o vinho verde, com as castas recomendadas para a região do Minho, embora também se encontrem na quinta outro tipo de castas com as quais se “vão realizando algumas experiências”.
“Atualmente, temos cerca de dez castas. Além de outros, destaque para o loureiro, que é o pai dos vinhos brancos, arinto, trajadura, Fernão Pires, sauvignon blanc e touriga nacional”, referiu.
Destacando que “este foi um ano de muitas pulsações”, Paulo Mendes explica que a falta de chuva causou algum receio de que “a uva não desenvolvesse ou de que os bagos ficassem pequenos”.
Assim sendo, foi essencial a “poda adequada ao tipo de terreno” e, apesar da seca, conseguiram obter uma melhor produção do que o esperado. Mantem-se “a tradição de colher as castas todas separadas por diferentes parcelas”, lembrou.
Após a vindima, as uvas passam para a responsabilidade do adegueiro Júlio Carvalho, que orienta todo o processo até ao engarrafamento. Garante que “a massa que entrou é muito boa” e que “2023 será um ano de vinho fantástico”.

O segredou, contou, parte logo na vinha, mas a higiene na adega também é determinante para a qualidade do vinho. “Nesta fase, o vinho já está todo inoculado. Está em fermentação e assim ficará durante três a quatro semanas, depende sempre do teor alcoólico”, elucidou o responsável.
Com uma produção anual de 200 mil garrafas, os vinhos da Casa de Sezim já receberam o galardão de melhor vinho verde a nível mundial, em 2015, e de medalha de ouro grande escolha, no mesmo ano. Também em 2018 a marca recebeu, com o seu ex-líbris, a medalha de ouro no concurso mundial em Bruxelas.