Confraria Terras de Vimaranes quer preservar segredos gastronómicos de Guimarães

Mário Moreira foi reconduzido ao cargo de presidente da Confraria Terras de Vimaranes.

mario moreira

Quantos de nós vimaranenses já provamos os típicos rojões, arroz de frango de romaria, bucho recheado ou pica no chão? São pratos embaixadores de Guimarães e que se transmitem de avós para netos. Mas o que se tem feito para que o património gastronómico não se perca com o passar das décadas? A resposta chega até nós pela Confraria Terras de Vimaranes.    

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Foi para divulgar e promover a autenticidade e qualidade da confeção de iguarias tradicionais identitárias vimaranenses que nasceu, em setembro de 2022, a Confraria Terras de Vimaranes. Um projeto já pensado há várias décadas e que reúne, por esta altura, um total de 72 associados, na sua maioria empresários e profissionais ligados à restauração, hotelaria, produtores de vinhos e de outros produtos autóctones locais, bem como doces conventuais, chefes de cozinha, e enólogos.

No passado dia 22 de fevereiro, aconteceu o primeiro ato eleitoral dos órgãos sociais para o triénio 2023-2026, com Mário Moreira a ser novamente reconduzido ao cargo de presidente da coletividade. A direção conta com Vítor Pereira e Palmira Dias como vice-presidente e José Vitorino como tesoureiro. O conselho fiscal é composto por Joaquim Pereira (presidente), Arthur Carvalho (secretário) e Natália Maia (vogal). Carlos Amorim é o presidente da assembleia geral, com os secretários Fernando Miguel e Rui Manuel.

Em assembleia geral foi aprovado o plano de atividades para o ano de 2023 que prevê, entre outras iniciativas, a construção de um Roteiro Gastronómico que honre os pergaminhos e orgulhe as gentes de Guimarães. Além da preservação do património imaterial, pretende-se a sensibilização para a alimentação saudável e a inovação da cozinha contemporânea.

© João Bastos

Apesar de ainda não terem promovido nenhuma apresentação pública, Mário Moreira confirma que “a adesão tem sido bastante boa” e que “todas as pessoas são bem-vindas”. “O crescimento da Confraria está a ser bom, de uma forma sustentada e consistente. É um projeto democrático, plural e inclusivo, onde cabem todas as pessoas que amam a natureza, a agricultura, os produtos da terra, a gastronomia e as tradições”, acrescentou.

Na sua perspetiva, “a gastronomia de Guimarães tem vindo a confundir-se com a gastronomia do Minho, apesar de nós termos uma forma muito própria de a preparar e de a confecionar”. Os Rojões são o perfeito exemplo disso mesmo: “os nossos rojões são diferentes de uma qualquer outra parte do Minho”, elucidou o chef vimaranense.

No raio de ação da coletividade está o trabalho de proximidade com a comunidade vimaranense. Se, por um lado, é importante mostrar aos mais novos as suas raízes e combater a fast food, revela-se igualmente importante abordar as gerações mais velhas para “resgatar as suas memórias do que se comia e de como se fazia antigamente”.

Para isso, contam com um apoio fundamental: os presidentes das juntas de freguesia. Atualmente, 12 autarcas responsáveis por 16 freguesias integram a Confraria, mas a expectativa é que este número aumente consideravelmente.

“Queremos trabalhar com as pessoas e com os lugares do concelho de Guimarães, registando as suas memórias e tradições, receitas antigas que se estão a perder. É uma obrigação que temos de cumprir”, afirmou. Deste “projeto singular” resultará um livro de memórias que promete levar mais longe as tradições da cidade-berço.

Reconhecendo que estabelecer parcerias comerciais não é uma preocupação atual, a Confraria Terras de Vimaranes está já em contacto com a Gestave, uma associação dos agricultores do Baixo Ave, com sede em Creixomil, com 600 pessoas nela representadas. Em conjunto, pretendem colocar em funcionamento uma base de dados com tudo aquilo que é produzido em Guimarães.

Ao caminharmos pelas ruas da cidade-berço é bem percetível a mistura de culturas que, aos poucos, começa a emergir. Mas de que forma será possível garantir que estes mesmos turistas conhecem os segredos da cidade?

Na opinião de Mário Moreira, os turistas são “despejados num sítio e são apanhados noutro”. É preciso, portanto, “fixá-los mais tempo na cidade”, mostrar-lhes a nossa gastronomia, os nossos doces e os nossos vinhos, que poderão ser promovidos através de visitas guiadas e eventos.

Encontros de gastronomia, concursos e Festival de Caldos e Sopas

Na última década, “muito pouco se tem feito para preservar este património cultural e imaterial de muito significado”, considera o presidente da coletividade. Para o contrariar, surge, para o ano de 2023, um plano de atividades que se estende da cidade para a periferia.

O 2.º Encontro de Gastronomia foi a primeira atividade do ano, a 25 de janeiro. Segue-se o 2.º Festival de Caldas das Taipas. Neste concurso gastronómico tradicional serão premiados um restaurante, um chef de cozinha, um empregado de mesa, a par da melhor entrada, prato e sobremesa.

A 4 de junho, destaque para o 1.º Grande Capítulo, que decorrerá no Paço dos Duques de Bragança. A cerimónia prevê a entronização de alguns membros da Confraria Terras de Vimaranes, momentos musicais com melodias medievais e a visita de outras confrarias da região. Depois de uma arruada pelas ruas da cidade, segue-se um almoço em restaurante com ementa tipicamente vimaranense.

Também na Feira da Época de Raul Brandão, em Nespereira, serão apresentadas novidades. A confraria foi desafiada pela junta de freguesia a desenvolver um doce e um licor de nêspera.

Anualmente, e com rotatividade de locais, pretendem ainda realizar um Festival de Caldos e Sopas, em permanente associação com os vinhos da região.

Está ainda a ser equacionado um concurso de Gastronomia para novembro, com a parceria da do IPCA, futuro responsável pela gestão da Escola Hotel. Trata-se de um concurso com dois pratos fixos, cujos vencedores se fixariam como fazendo parte do Receituário Vimaranense.

Sempre que haja disponibilidade para tal, querem organizar visitas às quintas de dois em dois meses.

“Queremos ser uma força que ajude a promover e congregar todas estas vontades relacionadas com a gastronomia, os doces, as quintas, o enoturismo”, finaliza o responsável.

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