Beatriz Batarda: “Um pensamento crítico sobre um assunto tão complexo como o sistema educativo é necessário”
O pequeno auditório do Centro Cultural Vila Flor vai receber, sexta-feira e sábado, dia 5 e 6 de maio, "C., Celeste e A Primeira Virtude", de Beatriz Batarda.
![c.,-celeste-e-a-primeira-virtude-beatriz-batarda-Barra-+G-10-anos](https://maisguimaraes.pt/wp-content/uploads/2023/04/c.-celeste-e-a-primeira-virtude-beatriz-batarda-Barra-G-10-anos-672x351.gif)
O pequeno auditório do Centro Cultural Vila Flor vai receber, sexta-feira e sábado, dia 5 e 6 de maio, “C., Celeste e A Primeira Virtude”, de Beatriz Batarda. A acompanhar, há uma vídeo instalação com histórias narradas a partir de testemunhos de jovens artistas das áreas de Teatro, Artes Visuais e Dança, recolhidos no intervalo em que veem o rumo das suas vidas suspenso: depois da vida de estudante e antes de atingirem a visibilidade pública.
![](https://maisguimaraes.pt/wp-content/uploads/2023/04/C.-Celeste-e-A-Primeira-Virtude-Beatriz-Batarda3.jpg)
A “Primeira Virtude”, que aparece no título, é uma referência ao monólogo de Beatriz Batarda e que vem dar origem a este espetáculo. Porém, na verdade, confessou a própria ao Mais Guimarães, “sobreviveu pouco desse monólogo”. Conta que aquele “já era o início de uma construção de uma personagem ficcionada” baseada na sua vida e experiência enquanto atriz e professora de teatro, mas “precisava de mais vozes e de outros pontos de vista”.
“C., Celeste e A Primeira Virtude” apresenta uma história que acontece numa escola de artes. Relata uma turma que está no final do seu curso, no último ano, a ensaiar o espetáculo final. Esta podia ser uma experiência muito feliz, mas, na verdade, é uma experiência bastante aterroziante pois estão sob esta pressão e inquietação que será entrar na vida real e no mercado. Estão quase como que “num sítio de febre, numa pressa de se definirem e construírem uma identidade sólida”, explica Beatriz Batarda. Nesse sítio “muito particular”, os alunos ficam “um bocadinho mais acessos do que no início do seu percurso escolar e dá-se uma rutura que é mais ou menos cíclica e natural entre gerações, uma rutura com a mestra”.
Mas este “é só um pretexto para falar de outras coisas da nossa contemporaneidade”, confidenciou a atriz e encenadora. E esta rutura é “mais drástica e trágica porque a mestra representa também a escola, o sistema educativo, e, naturalmente, o poder”.
Na peça, os alunos representam virtudes e muitas personagens carregam traumas coletivos, “nomeadamente as vozes de algumas personagens que carregam o trauma do colonialismo, seja ele de ocupação de território ou até um certo colonialismo capitalista que será, por exemplo, a pressão que o poder centralizado em Lisboa exerce sobre as regiões do país”. E era destas vozes que Beatriz Batarda precisava para poder, “no seu conjunto, ouvir essa verdade mais abrangente porque há mais profundidade nessa verdade que carrega diferentes pontos de vista e diferentes vivências”.
![](https://maisguimaraes.pt/wp-content/uploads/2023/04/C.-Celeste-e-A-Primeira-Virtude-Beatriz-Batarda6.jpg)
Um espetáculo que se apresenta, também, como uma reflexão. Que quer, mais do que responder a perguntas, levantar questões. Ao Mais Guimarães, a também escritora desta peça evidencia que “um pensamento crítico sobre um assunto tão complexo como o sistema educativo é necessário”.
“Eu própria faço uma reflexão sobre a professora que fui e venho sendo, que continua em transformação. Sinto-me bastante empática e em contacto com as inquietações dos mais novos, trabalho com eles”, disse explicando que não sente aquele abismo entre os mais novos e os mais velhos. Acredita que os “conflitos geracionais são conflitos que acontecem mais com os pais”, porque “os mais novos não gostam de ser relembrados que são jovens e inexperientes e inocentes”. Referiu, até, um exemplo de “C., Celeste e A Primeira Virtude”: “a uma dada altura, há um aluno que confunde a palavra inocência com a palavra ingenuidade. A professora diz que se comove com a beleza da inocência do sonho deles e ele responde que não são ingénuos. Logo aí há um grande equívoco. A relação com as próprias palavras é muito diferente e a peça vive dos equívocos que aumentam e se vão multiplicando. Um colega intervem contra a professora a achar que está a proteger outro colega e, na verdade, está a abrir uma ferida com o amigo e outra colega”.
Beatriz Batarda assume, pela primeira vez, nesta peça, o papel de escritora, encenadora e atriz. E este foi o “desafio maior” porque, enquanto atriz, trabalha “de uma forma muito até à exaustão”. Aqui isso não foi possível. Começou pela encenação, porque “estava preocupada em pôr este texto em palco”. Apesar de o ter escrito, permitiu-se fazê-lo sem pensar na encenação, também como forma de se “desafiar criativamente enquanto encenadora”.
“Quando me atirei à parte da encenação, colocar em prática ou resolver eficazmente o espetáculo não era evidente”, recorda dizendo ainda que foi adiando a sua própria direção. “Terei aprendido o texto muito tarde, demasiado, porque depois foram surgindo outros problemas com os quais eu não contava e fui adiando o meu envolvimento enquanto atriz com o texto”, justifica. Crê que, por ter sido a autora do texto, quando o quis fazer, não gostou nada e ficou “muito mais crítica e quase que o corpo rejeitava a relação com aquelas palavras”.
![](https://maisguimaraes.pt/wp-content/uploads/2023/04/C.-Celeste-e-A-Primeira-Virtude-Beatriz-Batarda2.gif)
Durante os anos em que a pesquisa para “C., Celeste e A Primeira Virtude” foi realizada, foram feitos cinco encontros com ex alunos, tendo reunido 43 jovens. Esse processo foi registado, em vídeo, com Rita Quelhas.
Chama-se “Corpos Celestes” e é uma vídeo-instalação em cinco atos, cinco ecrãs, cinco histórias narradas a partir de testemunhos de jovens artistas das áreas de Teatro, Artes Visuais e Dança. Cruzam-se ficção e realidade e, com um olhar contemporâneo, aproximamo-nos do importante debate sobre o conflito individual entre pressões exteriores e motivações íntimas. Estará também ela no Centro Cultural Vila Flor nos dias 5 e 6 de maio.
O convite para assistir fica feito. E cabe a cada um descobrir a peça. Até porque o próprio espetáculo “faz esse elogio à virtude que nós, humanos, temos da curiosidade, esta capacidade de imaginar e projetar para dentro da cabeça um infinito ainda maior que os nossos sentidos percecionam”.
PUBLICIDADE
Partilhar
PUBLICIDADE
JORNAL
MAIS EM GUIMARÃES
Julho 27, 2024
Apenas durante este sábado, dia 27 de julho.
Julho 27, 2024
O Clube Desportivo de Ponte apresentou-se com 21 jogadores após uma grande reformulação do plantel no ataque à nova temporada.
Julho 27, 2024
O candidato à Federação de Braga tem como objetivo "conquistar mais Juntas de Freguesia e Câmaras Municipais nas autárquicas."