Maria Rita Fernandes: “Patinar é a única coisa que amo fazer”
Entrevista publicada na edição de maio da revista Mais Guimarães.
Maria Rita Fernandes, campeã nacional de patinagem artística em Show Quartetos juniores, foi uma das representantes de Portugal no Campeonato da Europa, que se realizou em Paredes. À Mais Guimarães, a jovem patinadora de 18 anos falou da experiência internacional e das metas para o futuro.
Quinto lugar no Europeu. Satisfeita?
O balanço foi positivo, mas podíamos ter feito melhor. Tivemos uma falha a nível técnico e que condicionou a pontuação. Mas a experiência foi incrível e com muita gente de Portugal nas bancadas a apoiar.
Como nasce a paixão pela patinagem?
Andava no ballet, mas na altura ouviu-se em Guimarães que ia abrir um clube de patinagem. A minha mãe decidiu colocar-me a mim e à minha irmã. No início não gostava muito. Tinha medo. Desisti, experimentei outros desportos, como voleibol, basquetebol, esgrima, ténis, ginástica, mas também não gostei de nenhum. Contudo, como a minha mãe queria que eu praticasse algum desporto, porque é benéfico para a saúde, voltei à patinagem. A minha irmã gostava muito e acabei por regressar. Nesse ano entrou um treinador novo na Academia de Patinagem de Guimarães e começou a ver potencial em mim. Comecei a esforçar-me mais e a querer ter objetivos, como ir aos distritais e a ter níveis para os campeonatos. Passei de não gostar, a gostar mesmo muito. Passei a querer fazer aquilo todos os dias e dediquei-me a 100%. Na altura ainda conciliava com a natação sincronizada, mas tive de desistir. É a minha paixão. Se não fizer, o dia não me corre da mesma forma. É um desporto para a minha vida.
Não vives, então, sem os patins?
Exatamente. Andam comigo para todo o lado. Agora, como estou no Porto, são a minha companhia. Faço muitas viagens de comboio para treinar e chegar ao nível que pretendo.
Desgastante?
Muito. Até para conciliar com os estudos. Mas tenho conseguido e acho que a patinagem me ajudou nesse aspeto. Se eu tenho meia hora livre para estudar, eu aproveito essa meia hora ao máximo, porque depois tenho patinagem e não posso faltar ao treino. Se tiver uma tarde inteira para estudar, sei que em vários momentos corro o risco de estar a adiar e acabo por não estudar. Tenho tido bons resultados na escola e acredito que a paixão que tenho pela patinagem obriga-me a um rigor diferente nos estudos e na minha vida. Tenho uma organização diferente e há prioridades. Muitas vezes, como faço as viagens de comboio para o Porto, aproveito para estudar.
Com muitos treinos e pouco tempo com a família e amigos, isso obriga-te a um grande controlo emocional?
Bastante. E, na altura das competições, a pressão é maior. Treinamos meses e meses para uma prova que pode definir muitas coisas. São aqueles três minutos, no pavilhão, que vão decidir uma participação num campeonato nacional ou um campeonato da Europa. Além disso, muitas vezes, é chegar a casa por volta das 22h00, jantar, dar banho e ir dormir, porque no dia a seguir é dia de escola. É complicado.
Como consegues gerir essas emoções e cansaço?
Quando comecei a convencer os meus pais a mudar-me para o clube de Paredes, sabia que seria difícil. Hesitaram, mas a partir do momento em que autorizaram, percebi que tinha de me esforçar muito para retribuir a confiança. É uma questão de organização, mas com apoio dos meus pais. Por exemplo, a minha mãe faz-me uma sopa e vou comendo no carro ou no comboio, mas com os livros a ler matéria. Ouço também podcasts, que não sabia que existiam, para aprender sobre a matéria que damos na escola. Abdico de muita coisa importante, como saídas e jantares com amigos. Mas vale a pena. Sei que nunca me vou arrepender. Patinar é a única coisa que amo fazer. Não me farto, mesmo quando as provas não correm bem. Teria arrependimentos se não estivesse a fazer o que faço.
Começaste na patinagem livre?
Sim, uma das vertentes da patinagem artística. Agora estou na vertente do solo dance e grupos de quartetos juniores.
A que se deveu a troca?
Algumas lesões. Tive uma nos adutores e os médicos aconselharam a deixar de parte a patinagem artística. Além disso, quando comecei, não sabia muito bem o que era a patinagem artística e as suas componentes. E o clube onde comecei era de patinagem livre. Na altura não foi uma escolha, mas sim uma obrigação. Em 2020, na altura da pandemia, foi contratado um treinador do Porto para incluir o solo dance e gostei. Motivou-me para dar passos para a competição e alta competição. Identifico-me muito mais com o solo dance. Acabei por ir para o AD Paredes porque o meu treinador Ricardo Batista viu que tinha potencial e acabei por ir trabalhar com o coordenador técnico da seleção de solo dance, Filipe Sereno. Em Guimarães, era vista como a melhor, como a estrela da companhia. Em Paredes, treino com as melhores, com as minhas referências. Treinar com elas dá-me maior motivação e obriga-me a trabalhar ainda mais.
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