Os Azeitonas: “Já chegamos a mais gente, queremos voltar a esse público”
Depois de 20 anos de formação, Os Azeitonas lançaram, em 2022, Reconstrução". Preparam, agora, os 20 anos de edição, que começaram em 2015 com o álbum "Um tanto ou Quanto Atarantado".
Se procurarmos no Google, azeitonas há muitas. Mas foram Os Azeitonas que se apresentaram nas festas de São Pedro das Taipas e, se não fosse o humor e a ironia da banda, não teríamos começado esta entrevista assim. Depois de 20 anos de formação, Os Azeitonas lançaram, em 2022, Reconstrução”. Preparam, agora, os 20 anos de edição, que começaram em 2015 com o álbum “Um tanto ou Quanto Atarantado”, mas Marlon (Mário Brandão), Nena (Luísa Barbosa) e Salsa (João Salcedo) têm muito mais para contar.
Não vos chateia ser do Porto e vir festejar o São Pedro? [risos]
Adoramos o São Pedro também.
Nena (N): Festejo o São Pedro também, atravesso o rio e vou comer umas sardinhas. Aliás, gosto mais até do São Pedro que consigo ver o fogo da minha casa.
Os Azeitonas nasceram em 2002. Duas décadas depois, olhando para trás, imaginaram que as vossas canções iam chegar assim a tanta gente?
Marlon (M): Obviamente que não. Isto começou com brincadeira. Foi crescendo, foi crescendo, assim, passo a passo. Mas nunca foi essa a intenção. Nem gravar um disco sequer.
Quando é que vocês perceberam que era a sério?
M: Quando gravamos o primeiro disco.
N: Talvez o segundo. O primeiro foi uma tanga. A partir daí é que começou.
Salsa (S): Não, foi no segundo. Foi uma tanga séria.
M: Fomos convidados pelo Rui Veloso para gravar um disco e a partir daí é que começou. Tínhamos uma maquete gravada, para mostrar.
S: No momento em que temos público, estamos a tocar ao vivo… Há uma certa responsabilidade de fazer a coisa bem feita, não é?
E a primeira vez que se ouviram na rádio?
N: Ai, eu lembro-me. Foi “Um Tanto ou Quanto Atarantado”. Estava a ir para Vila Real e disse “isto é-me familiar”. Demorei assim uma fração de segundos…
S: Não reconheceste logo? Que maravilha [risos] Eu estava a chegar à ESMAE.
N: Antena 1… Foi a primeira rádio que nos apoiou.
Olhando para o vosso percurso, o que é que teriam, se calhar, feito de diferente?
N: Era melhor nada. Se tivéssemos feito diferente se calhar não estávamos aqui.
M: Não sei. Ter mudado de nome, se calhar. Acho que ainda há anticorpos com o nome da banda. Acho que nos fecha algumas portas. Quando, na altura, depois do primeiro disco…
N: Tivemos várias oportunidades para o fazer.
M: No primeiro disco, tínhamos dois vocalistas, as partes visíveis eram eu e o Miguel [Araújo] e mais dois rapazes. A Nena e o Salsa já lá estavam, mas não apareciam. Nessa altura, quando eles saíram, para segundo disco, apareceu a formação de nós os três mais o Miguel. Poderíamos ter mudado, se calhar, aí, mas nem pensamos nisso. A verdade é que nem sequer podemos dizer que era a altura certa, poderia ter sido aí. Como mudou a formação havia uma razão para. A partir do momento que isso não aconteceu, sei lá…
N: Podíamos ter abreviado para AZ.
S: Mas depois as pessoas diziam “vou ver os ás”.
De onde é que surgiu o nome Os Azeitonas?
S: Duas coisas, na verdade. “Os” Azeitonas porque “Os” Beatles. [risos] “Os” por ser uma banda. Fica mais fácil para procurar no Google também. Azeitonas no Google aparece uma variedade… [risos]
M: A ideia foi um grupo de amigos que foram de férias e pronto. O nome, como era em tom de brincadeira, eram para brincar, com músicas azeiteiras, como se diz no Porto. O piroso, no fundo, brincar
à volta desse imaginário.
N: O azeite, a brilhantina… Era um bocado essa a ideia.
M: Mas como não era para levar a sério, ficou esse nome. Se pensássemos “vamos ter uma banda, vamos gravar discos”, com certeza não ficaria esse nome.
S: Nós tivemos essa discussão na altura, quando achamos que devíamos levar um bocadinho mais a sério. Isto porque as pessoasnão nos levavam a sério por causa do nome Os Azeitonas. E, em parte, ainda bem, há que levar algumas coisas a sério e outras não. Havia pessoas que nos contratavam a pensar que éramos uma banda pimba. Ficavam admiradíssimos quando aparecíamos a rockar em palco.
M: Se calhar não pimba, mas mais folclore…
N: E aconteceu. Fomos convidados pela RTP para uma temática pimba de um programa que eles tinham. Foi a primeira vez que tocamos “Nos Desenhos Animados”, ainda por cima. Portanto, ninguém estava a contar com aquilo.
S: Então, havia essa parte de o nome ser meio bizarro, mas nós retorquíamos sempre com os Red Hot Chili Peppers, Black Eyed Peas, Pearl Jam…
M: Se fossêmos os The Olives se calhar dava. Mudar só para inglês, para o mercado estrangeiro. [risos]
S: Ainda pensamos em mudar para “The” Azeitonas. [risos]
E o facto de serem do Porto… Sentem que acabou por fechar algumas portas?
M: Claro. As bandas que não estão em Lisboa sofrem sempre. Falamos ou contratamos as pessoas que estão à nossa volta. Estou no Porto, se quero um fotógrafo não me vou lembrar de um gajo de Lisboa. Em Lisboa acontece o mesmo. Se uma pessoa não está lá, as pessoas não se vão lembrar de nós. Televisões, imprensa… está lá tudo concentrado.
N: Isto em tudo o que é artes, não é só música.
M: Artes e não só. Outras áreas também. Uma pessoa está nos copos e de repente está lá um gajo que trabalha na SIC, outro que trabalha na RTP… “Vamos fazer isto, preciso de ti”. As pessoas estão
à mão.
S: Temos uma sorte, que temos muitos amigos, da música e não só, a morar em Lisboa.
M: Às vezes temos que ir lá ir. E às vezes temos que ir por ir, e aparecer. Mas é o que acontece a todas bandas, não só do Porto.
S: E vamos muito contentes.
Alguma vez sentiram essa pressão de se empurrarem para lá?
M: Quando uma pessoa vai para Lisboa, a resposta clássica é “eh pá, tens de vir para cá”.
N: Ainda pensamos nisso.
S: Fazendo umas visitas regulares, está tudo certo.
M: Mas sentimos que perdemos oportunidades, obviamente, por não estar lá.
No ano passado, em 2022, lançaram “Reconstrução”. O que é que mudou desde o vosso primeiro álbum, “Um Tanto ou Quanto Atarantado”, em 2005?
S: São vinte anos depois… É meio bizarro em relação aos álbuns anteriores. A malta conhece-nos mais pelas músicas mais alegres, por festa… É o que costumamos apresentar.
M: Apesar dos aviões. [risos] Há muita gente que só conhece o “Anda Comigo Ver Os Aviões”, que é uma música que não tem nada a ver com nada do resto que é Os Azeitonas.
S: É uma espécie de um vírus. Um vírus bom!
N: Mas mudou muita coisa.
S: A ideia de ter que animar ou ter que fazer sempre músicas animadas, a certa altura… Mesmo destes primeiros discos, nem todas as músicas são assim festival. Só que são aquelas que estão escondidinhas ou aqueles b-sides que, felizmente, até temos muitos fãs que adoram, como “Balada De Um Banco De Jardim”.
N: E depois temos a possibilidade de o fazer, de as tocar em auditório, ou em momentos mais intimistas.
S: São lugares diferentes para tocar músicas diferentes. Nos discos, normalmente não íamos tão ao fundo ou não falávamos de coisas mais sérias, se calhar. A gente vai amadurecendo, vamos ficando mais velhos.
M: Nós vamos mudando, a música vai mudando.
É quase também uma reconstrução vossa?
S: Uma reconstrução que mete covid também aí para o caminho.
M: A ideia é completamente essa. Mas já antes do covid era a reconstrução. Estávamos numa fase de remodelação, de repensar e de relançar a banda, também. Por isso, a ideia de reconstrução já vinha antes da pandemia. Com a pandemia, fez todo o sentido.
N: Curiosamente, nós achávamos que estávamos a fazer uma sonoridade um bocadinho diferente e as pessoas dizem que não.
S: Isso já aconteceu no CD anterior, no “Banda Sonora”, em 2018. Já achávamos que estávamos a fazer uma coisa completamente oposta.
M: Mas somos nós. A essência mantém-se…
N: Claro, e isso é bom! Quer dizer que há um registo. Quer dizer que há uma marca.
“A CEREJA NO TOPO DE BOLO É QUANDO A PALAVRA PODE TER DUPLO SIGNIFICADO”
Nena
Há muitas músicas que vocês não têm no Spotify. Há coisas meio que escondidas no YouTube e que raramente tocam. Isso leva-me a perguntar o que é que vocês gostam mais: de estar em estúdio a gravar ou de estar em cima de um palco a cantar para as pessoas?
Palco, sem dúvida.
N: Estúdio é ótimo, maravilha, também gosto, mas palco.
M: Não acho ótimo. Acho o estúdio uma coisa muito antinatural.
N: Gosto para criar, para ver o que podemos pôr e não.
S: Mas a parte criativa é muito rápida.
M: Mas, às vezes, é muito maçuda a repetição. Chega ao fim do disco e já não consigo ouvir mais.
S: Mas quando a música sai já não é nossa, é vossa.
E aquelas músicas que, lá está, não levam para palco? Sentem que há muita gente que as conhece?
M: Mais ou menos. Claro que as pessoas vão conhecer menos. Só quem investiga ou que anda à procura é que vai conhecer. Os fãs mais acérrimos vão atrás e até acham piada. Tomam essas músicas mais como delas, tipo “ninguém conhece”. Existe essa coisa e depois se, por acaso, a música fica famosa, as pessoas ficam “ahhh, agora não ouço, antes é que ouvia” [risos]. Isso faz parte.
S: Mas as músicas que não estão no Spotify um dia vão estar. A maior parte delas, pelo menos. Ouvir uma música vossa – e um álbum então nem se fala -, é ouvir uma história.
S: Tentamos fazer isso.
M: Hoje em dia os álbuns não têm tanta força, ou quase expressão nenhuma com o Spotify e playlists.
S: Hoje em dia poucas pessoas falam em álbuns e mesmo em fazer álbuns. Nós tentamos fazê-lo.
M: Tentamos criar uma história, criar ali uma coerência à volta de x canções para ver se as pessoas têm mais interesse em ouvir também. As pessoas ouvem uma música aqui, outra ali, fazem a sua própria playlist, fazem quase os seus álbuns. É mais complicado. Eu consigo ouvir um álbum inteiro, do princípio ao fim, porque sou músico, se calhar. Mas uma percentagem muito pequena ouve. Mas sempre lançamos singles e este álbum tem três ou quatro. “Guitarrista do Liceu” já tinha saído em 2020 e o álbum saiu em 2022. E as pessoas hoje em dia lançam singles como antigamente se fazia. Nos anos 50/60 era assim. Primeiro lançavam singles e, depois, se pegasse, se houvesse recetividade, passava para álbum. Mas nessa
altura ouviam álbuns, as pessoas tinham discos físicos.
Como é que é o vosso processo criativo?
M: Em conjunto é raro.
S: Fizemos “Oito e Meia”. Foi rapidíssimo, foi uma tarde. A ideia já existia.
M: Às vezes o Salsa traz as canções. Neste último álbum, a maior parte das canções até são do Salsa e temos algumas de fora, como do João Couto e do Pedro Pode.
N: Varia muito. Tanto pode ser às vezes um momento em que “ah, pera aí”….
M: Umas faíscas. Eu como não toco instrumentos gravo áudios.
Mas não há aquela coisa de primeiro ser a letra ou a música?
M: É raro… Não, não é raro… No meu caso nunca começa pela letra. “Vou escrever aqui uma letra”, não. A letra é uma consequência da música para mim. Quando a música começa na minha cabeça é só uma melodia ou uma frase, uma frase qualquer: “Hoje à noite fui jantar”. A partir dali já está a vir qualquer coisa: foste jantar onde? Às vezes nem é só jantar, às vezes é fonética que encaixa bem, depois
mudas as palavras…
S: Eu não sei bem. Toco mais do que canto ou escrevo… Melodias acaba por ser bastante fácil fazer. Empanco na parte da letra, só que não me esforço para isso. Então há um momento em que aparece
e tudo se junta. Uma espécie de buraco negro a sugar tudo. No momento em que encontramos aquele ponto de “o que é que estou a tentar dizer?”.
N: Eu acho mais fácil escrever em cima da música.
M: Às vezes o mais difícil é ter o mote. Às vezes tem-se uma ideia de uma melodia e depois não há mais nada. Se tiver um tema…
S: Isto é uma pergunta para vocês [Nena e Marlon]. Eu não falo muito nas redes sociais. Mas hoje toda a gente tem opiniões, toda a gente diz e toda a gente sabe tudo. Eu fico a pensar: que é que eu sei desta história para andar a escrever uma coisa para ficar lapidada? Que é que eu vou dizer que quero que fique lapidado na pedra?”. Não consigo fazer uma música tipo “está aqui uma coisa, saiu, não é importante, é só uma letra”. Se vai ficar lapidado então que diga alguma coisa de jeito. E aí é que fica confuso, encontrar aquela frase porreira.
M: Eu sou mais desse género. Mas eu ligo sempre mais à música do que à letra, sempre liguei. Tem que ser uma letra mesmo muito especial para me cativar mais a letra que a canção.
N: Mas quando ligas à música e depois percebes que a letra é incrível, ainda fica mais intenso.
M: Mas se a letra for incrível e a música não for nada de especial, esquece. A letra pode ser incrível, mas se a música for mais ou menos… Prioridade música. Pode ter uma letra lindíssima, um poema lindíssimo, mas a música é uma chatice… Prefiro ler o poema.
S: Prioridade música, estou contigo.
M: A escrita é muito escrava da canção. Temos que encaixar as palavras certas. Hoje em dia está a acontecer um fenómeno, não sei se já repararam, que é a acentuação mudar. Estão a acentuar as
palavras todas no sítio errado. Tem que ser impossível não haver outra coisa melhor para eu fazer isso. Tentar encaixar as palavras certas na melodia é um puzzle, tem que ficar bem encaixada. Se não houver sinónimo ou não conseguir alguma palavra que rime, aí complica e aí pode ficar “gostú”.
N: A cereja no topo de bolo é quando a palavra pode ter duplo significado.
O que esperar no futuro?
Estamos a projetar os 20 anos de edição, por isso em 2025 estamos a projetar assim um momento. Agora é dar concertos e reconstruir a banda, tentar chegar a mais gente. Já chegamos a mais gente, queremos voltar a esse público.
PUBLICIDADE
Partilhar
PUBLICIDADE
JORNAL
MAIS EM GUIMARÃES
Dezembro 23, 2024
O Centro de Atividades Recreativas Taipense (CART) assinalou domingo, dia 22, a passagem de meio século de existência, com o "Dia das Modalidades" a animar a casa.
Dezembro 23, 2024
Como é habitual nesta altura, há alterações no que diz respeito ao funcionamento do Mercado Municipal de Guimarães, anuncia a autarquia.
Dezembro 23, 2024
Realizou-se este fim de semana a 4ª eliminatória da Taça AF Braga com diferentes sortes para as equipas vimaranenses.