Por falar em amor…

Por Carlos Guimarães

© Carlos Guimarães

por Carlos Guimarães
Médico urologistaUm sábado de agosto igual a tantos outros que amanheceu cinzento com gotículas de chuviscos e uma temperatura amena. Um sábado que se fez diferente, direi mesmo, profundamente diferente.

Viagem até ao Canil Municipal desdobrando becos e estradas esburacadas (nada surpreendente quando circulamos na periferia da cidade). Ali, um pequeno grupo de voluntários da Sociedade Protetora dos Animais de Guimarães encontra-se à espera de gente enquanto se oferece para cuidar dos caninos abandonados e abrigados naquele local. Entre as 8:30h e as 11:30h, os voluntários da SPAG entregam alguns cães às pessoas ali presentes, como eu, para os poderem passear nas redondezas, uma espécie de saída precária de prisioneiros inocentes, vítimas da brutal insensibilidade da supremacia humana.

Ali pude ver e sentir o melhor e o pior desta coisa tão proclamada e distinta que é a alma lusitana. Pude ver o amor, a dedicação, a alegria e a indiferença. Pude ver a liberdade, a euforia e o trauma. Pude ver a singularidade de um país europeu que se exibe como o melhor dos melhores entre os melhores, mas que entrega ao abandono centenas de animais comunicativos, dóceis e afáveis, que adoram a companhia dos homens. Pude ver a crueldade de um povo que reivindica miríades de direitos e abandona animais companheiros com a frieza de um glaciar. Pude ver gente boa e feliz a fazer o seu exercício matinal de solidariedade e de libertação, ligados a uma trela que se prendia a canídeos ainda mais libertos e felizes.

Os animais sentem, como nós, precisam de afetos, de libertar a energia, de estimular os sentidos, de se entregarem a mimos e carícias (como nós).

O “Pedrinho” e o “Penha” foram os meus companheiros no passeio matinal, dois cachorros adultos de porte médio, vigorosos, bem alimentados e tratados “da forma que é possível tratar”; era tanta a adrenalina daquele passeio que o trânsito intestinal acelerado provocava a emissão de dejetos pastosos. Arfaram de satisfação, farejaram tudo em seu redor e correram na velocidade que o meu passo permitia.

Encontravam-se ali umas três dezenas de pessoas que trocaram a cama, a praia ou a esplanada no centro histórico para permitir estes momentos de felicidade aos animais. Muitos mais (quantos mais) ficaram na prisão à espera do próximo sábado em que (talvez) a sorte lhes possa sorrir. Ao sábado, só ao sábado naquele horário lhes é permitido esse momento de evasão (talvez seja possível fazer mais e melhor).

Já no final, uma cadelinha, de idade adiantada, amedrontada e deprimida, mais pacífica e dócil do que qualquer humano, mostrou que preferia passear ao colo a colocar as patas no solo perigoso e traiçoeiro. Maria Mar é o seu nome e teve um dia diferente, um dia melhor que todos os dias, ao ser acolhida por uma família – algo que provocou nas voluntárias lágrimas verdadeiras de contentamento e alegria, uma manifestação límpida de amor puro.

No próximo sábado qualquer um de nós pode crescer e descobrir o melhor do ser humano esquecido dentro de si.

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