Inadiáveis Leituras: Quantos de nós são aquilo que desejam ser?

Nos 75 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos reflito sobre o quanto falta à plenitude do cumprimento destes direitos. Olhares de sobranceria de uns povos sobre os outros e de pessoas, umas em relação às outras, fazem transparente a ordem de prioridades de ação em cada dia.

© Sílvia Lemos

“Talvez haja um artigo da Declaração que permite fazer valer todos os outros, que é o direito à liberdade de expressão. É fundamental mantermo-nos muito vigilantes em relação ao direito de expressão, ao direito de manifestação e ao direito de associação, porque estes direitos permitem-nos reivindicar todos os outros. ~

E quando um sistema autoritário se instala, as primeiras vítimas são os opositores políticos, os defensores dos direitos, os jornalistas e os intelectuais”, diz-nos Jean-Claude Samouiller, presidente da Amnistia Internacional de França.

Observo a atualidade a pensar neste direito e fazendo a releitura do livro “Lenços pretos, chapéus de palha e brincos de ouro”, de Susana Moreira Marques, um livro que foi apresentado em Guimarães no início de novembro deste ano. Entrelaço essa leitura com o livro “As mulheres do meu país”, de Maria Lamas, por ser a partir deste que a Susana Moreira Marques nos abre a possibilidade de dar conta do instante, a possibilidade de conhecer o poder das mãos vazias.

Maria Lamas impressiona pela coragem que revela, pela visão destemida de quem quis dar a conhecer realidades de um país encapsulado na ditadura. Todo o seu trabalho lhe custou incompreensão e perseguição. Estava nos anos 40 quando percorria o país, fotografava realidades para que não houvesse dúvidas quanto à miséria de tantas povoações e, em particular, de tantas mulheres.

O trabalho que fez em “As mulheres do meu país” é memorável, apesar de, como tantas coisas bem feitas, não ter chegado às mãos de mais e mais pessoas que sintam poder transformar-se e transformar modos de vida insuportáveis, em modos de vida sublinhados pela dignidade.

Susana Moreira Marques impressiona pelo magnetismo da escrita que não nos larga até entendermos bem que falta fazer muito neste presente. Faz a viagem pelo país e faz também a peregrinação interior (de que nos fala António Alçada Baptista) e segue questionando espaços impossíveis, muito atenta aos passos de cada mulher com quem se cruza, atenta ao que levam nas mãos, atenta ao desejo do que se quer ser. Ouve cada uma, no silêncio ou na gritaria
do quotidiano. Revela-nos o que são e intui o que desejam ser. Narra e questiona o que narra. É sujeito e objeto.
Maria Lamas e Susana Moreira Marques, ambas escritoras, ambas jornalistas, ambas inquietas com o nascer dos dias neste país, neste mundo. Cada uma, uma mulher a ser o que deseja ser.

Susana Moreira Marques,
Lenços pretos, chapéus de palha e brincos de ouro.

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