Paróquia da Costa descobre imagem de Santa Luzia de 1729

Pároco está preocupado com a salvaguarda deste património numa igreja em que entra água pelo telhado.

© Rui Dias / Mais Guimarães

Na sequência dos trabalhos exploratórios para efetuar o restauro de uma das peças da igreja do Mosteiro de Santa Marinha da Costa, foi encontrada na escultura em madeira de Santa Luzia a data da sua execução: 1729. Este tipo de inscrição não é habitual e acrescenta valor à peça que faz parte de um lote de 14 que, com as contribuições dos paroquianos, foram restauradas nos últimos anos.

Segundo Leonel Costa, o restaurador responsável pelo trabalho, “não é vulgar encontrar, em peças desta época, a inscrição da data e menos ainda do nome do autor”. De acordo com este especialista, “a única forma de datar estas esculturas é por processos físico-químicos muito dispendiosos que só se justificam no caso de objetos de museu”. Ainda assim, um olho treinado, como o de Leonel Costa, mesmo sem encontrar a inscrição do ano de execução, consegue dizer que este é um trabalho do século XVIII. “Percebe-se pelo estilo da peça, pelas técnicas usadas e pelos piguementos”, esclarece.

© Rui Dias / A recuperação vai levar um mês a trabalhar oito horas diariamente

Em algum momento, do século XIX em diante, a peça levou uma pintura que ocultou a decoração original. Leonel Costa consegue saber isto porque os dourados são pintados com tinta, ao passo que, até ao século XIX, eram feitos com folha de ouro. No seu estúdio, em Moreira de Cónegos, o restaurador mostrou ao Mais Guimarães, através das “janelas” que fez na peça, a riqueza da pintura que está oculta. “Temos aqui técnicas como o douramento, grafitado, puncionado e a tempera de ovo”, refere. Esta última, trata-se de uma técnica em que a tinta é feita misturando o pigmento com gema de ovo que serve como aglutinante.

A pintura que está visível é esteticamente inferior à original, mas segundo o técnico não é invulgar encontrar casos como este. “Em algumas situações terão pintado como forma de conservar, quando ainda não se conheciam as técnicas modernas que evoluíram no pós-II Guerra Mundial, noutros casos foi por questões relacionadas com o gosto ou a moda da época”, explica.

© Rui Dias / O restaurador, Leonel Costa, no seu estúdio com a imagem de Santa Luzia

Intervenção autorizada pela Direção Geral do Património e Cultura

Em 15 anos de atividade, “esta é a segunda vez que encontro uma peça datada”, afirma o restaurador. “Naquela época a ideia de direitos de autor ainda não existia, as peças eram feitas em oficinas por aquilo que hoje chamamaríamos artesãos”, aponta. Para intervir neste tipo de peças a paróquia tem que garantir que o trabalho é feito por um  restaurador certificado e reconhecido pela Direção Geral do Património e Cultura, como é o caso de Leonel Costa. Neste caso, o objetivo do trabalho de restauro, além de estabilizar a peça e evitar que continue a degradar-se, é retirar as camadas de tinta mais superficiais para que se possa voltar a ver a pintura original.

© Rui Dias / A inscrição do ano foi encontrada, por acaso, na pianha (base) da escultura

A recuperação das imagens da igreja de Santa Marinha da Costa é um trabalho que já decorre há cinco anos. “Já recuperamos 14 imagens, num investimento que ronda os 40 mil euros, todo ele feito com os pequenos donativos dos paroquianos”, conta o padre Carlos Sousa. “Fazemos esta parte do trabalho no que toca à conservação do património. É aquilo que podemos. Não temos possibilidade de intervir no edifício, um investimento de milhões”, lamenta.

Infiltrações ameaçam o património recuperado

O padre Carlos Sousa refere-se às obras no telhado, muitas vezes prometidas, mas constantemente adiadas. “A certa altura queriam que fosse a paróquia a adiantar o dinheiro para as obras para depois ser ressarcida, contudo, dados os valores de que estamos a falar, isso não é possível. O presidente da Câmara já veio comprometer-se, dizendo que o Município assume a obra, mas até ao momento ainda não fomos chamados para assinar o protocolo”, refere.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães

A preocupação do pároco com as infiltrações na igreja aumentam, agora que tem uma imagem de maior valor, pela sua antiguidade confirmada. “Antes de enviarmos esta Santa Luzia para recuperação, o Leonel tinha quatro trabalhos acabados e prontos para nos entregar, mas, como o inverno foi muito rigoroso, tivemos que lhe pedir para os guardar mais algum tempo”, queixa-se o padre. “O edifício pertence ao Estado, portanto, é preciso acautelar este património”, alerta o  padre Carlos Sousa. “Este inverno as infiltrações afetaram principalmente um dos altares laterais. Quando nos apercebemos, a pintura das imagens já estava a desaparecer. Felizmente, aquelas são imagens de barro, sem grande valor patrimonial, queremos substituí-las por outras de madeira, mas assim não há condições”, aponta.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães

Apesar de a obra na igreja do Mosteiro de Santa Marinha da Costa ser classificada como prioritária, desde 2013, os trabalhos não foram incluídos nas obras em museus, monumentos e palácios de intervenção prioritária, ao abrigo do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência que, em Guimarães, só contemplou o Castelo, Paço dos Duques Museu Alberto Sampaio.

Por Rui Dias, jornalista.

 

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