25 de abril: Entre a parra e a uva
Quando escrevo esta crónica, a 30 de abril, ainda sinto o cheio dos cravos. Na passada quinta-feira celebramos os 50 anos do 25 de abril de 1974. 50 anos é marca que se celebre, que se comemore!
Celebramos, por isso, um pouco mais do que o habitual por o número ser redondo. Mas só isso.
Quatro dias depois dos belos discursos que todos ouvimos, e do aroma dos cravos acabados de colher, verificamos, no entanto, que a palavra contigua a divergir do ato.
Entre os “assuntos” abordados, caros ao 25 de abril, falamos de liberdade, das várias liberdades, individuais, coletivas, de imprensa, etc… Falamos de igualdade, do tratamento igualitário a que todos os cidadãos deveriam ter direito. Falamos naturalmente de democracia e da sua prática, do respeito pela opinião contrária e de corrupção.
Como disse, escrevo cinco dias depois e, nos jornais, constato que há ainda um longo caminho a percorrer, que abril está longe de se cumprir. Diria até, e em jeito de provocação, que caminhamos, em alguns aspetos, em sentido contrário, e isso deveria preocupar-nos.
Estamos todos convocados para defender os valores de abril, como disse João Torrinha, presidente da Assembleia Municipal na manhã de 25 de abril.
Nem precisa de ser de cravo, nem precisa de ser no palanque e numa escrita cuidada, pode (e deve) ser na rua e em todo o ato que pratiquemos.
Abril estará assim mais perto de se concretizar, se o assumirmos. E mesmo que a ele não cheguemos, estaremos sempre mais próximos.
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